A CURA PELO AMOR
Texto: Mateus 20:34
No tempo de Jesus a medicina
era incipiente. Não havia medicina preventiva. Hospitais, ambulatórios etc.
Quando muito havia remédios que a natureza oferecia e que a experiência
comprovava como benefícios.
A saúde era um problema que
geralmente se resolvia com a morte; mortes prematuras, vida curta, cegueira,
paralisia, doenças de pele que se arrastavam pela vida inteira.
As doenças que pareciam
inexplicáveis porque não se lhes via nenhuma causa perceptível eram atribuídas
aos “demônios”, espíritos maus impuros, que se haviam introduzido dentro das
pessoas, apoderavam-se delas e as impeliam de realizar corretamente suas
funções, privando-as do domínio normal do seu corpo. O “espírito mau” se havia
introduzido tão fundo que parecia dobrar o homem e a sua personalidade. Isso
acontecia, por exemplo, com a mudez, surdez, a epilepsia, a loucura etc. Quando
se vê claramente que o corpo está mal, com lepra, cegueira, hemorragias, febre,
perna ou braço quebrado, atrofiado etc., nunca essas enfermidades, nos
evangelhos, são atribuídas aos “demônios”.
Os enfermos: cegos, coxos,
mutilados, paralíticos etc. e, sobretudo, os leprosos, estavam entre os pobres
mais pobres. Normalmente todos eles eram também mendigos. Era sua única chance
de subsistência.
Além disso, a enfermidade era vista como castigo de Deus pelos
pecados: “Ao passar, Jesus viu um cego de
nascença. Os discípulos pergunta- ram: ‘Mestre, quem foi que pecou, para que
ele nascesse cego? Foi ele ou seus pais?’” (Jo 9.1,2). Por essa razão os
enfermos eram considerados “impuros”,
discriminados também pela religião judaica. Consequentemente podiam permanecer
somente nas portas externas da esplanada do Templo ou, quando muito, no pátio
dos gentios ou pagãos, que também eram considerados pecadores e impuros.
Ao
lado dos pecadores, os enfermos (que segundo a religião judaica são também
pecadores) são os preferidos de Jesus em sua atividade em vista do Reinado de
Deus.
Jesus
une sempre o Reinado de Deus, o anúncio da Boa Notícia, o poder e autoridade
que dá a seus discípulos e seguidores, com a cura corporal. Foi assim que a
comunidade cristã entendeu, desde o início, sua missão. Comprova-o o texto de Lucas 9.1-6:
E, convocando os seus doze discípulos,
deu-lhes virtude e poder sobre todos os demônios, para curarem enfermidades. E
enviou-os a pregar o reino de Deus, e a curar os enfermos e disse-lhes: Nada
leveis convosco para o caminho, nem bordões, nem alforje, nem pão, nem
dinheiro; nem tenhais duas túnicas. E em qualquer casa em que entrardes, ficai
ali, e de lá saireis. E se em qualquer cidade vos não receberem, saindo vós
dali, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles. E, saindo eles,
percorreram todas as aldeias, anunciando o evangelho, e fazendo curas por toda a parte.
Nos
evangelhos encontramos numerosas curas milagrosas atribuídas a Jesus. De um
total de 32 milagres, 22 são curas. Podemos agrupá-las assim:
A. Quatro curas de cegos:
1.
O de Jericó (Mc 10.46-52)
2.
O de Betsaida (Mc 8.22-26)
3.
O de nascença (Jo 9.1-41)
4.
Os dois cegos de Cafarnaum (Mt 9.27-31)
1.
O homem com a mão seca (Mc 3.1-6)
2.
O paralítico de Cafarnaum (Mc 2.1-12)
3.
O enfermo de Betesda (Jo 5.1-18)
4.
A mulher na sinagoga (Lc 13.10-17)
C. Duas curas de leprosos:
1.
De um leproso (Mc 1.40-45)
2.
De dez leprosos (Lc 17.11-19)
D. Duas curas a distância (“à distância” porque os judeus não podiam entrar nas
casas dos pagãos; a mulher cananeia e o oficial romano são pagãos).
1.
A filha da cananeia (Mc 7.24-30).
2.
O empregado do oficial romano (Mt 8.5-13).
E. Cinco curas com libertação:
1.
O de Gerasa (Mc 5.1-20)
2.
O menino epilético (Mc 9.14-29)
3.
O endemoninhado mudo (Lc 11.14,15)
4.
O da sinagoga de Cafarnaum (Mc 1.21-28)
5.
Madalena (Lc 8.1,2).
F. Diversas curas:
1.
O surdo-mudo da Decápole (Mc 7.31-37)
2.
A sogra de Pedro (Mc 1.29-31)
3.
A mulher com hemorragia (Mc 5.25-34)
4.
O hidrópico (Lc 14.1-6)
5.
A orelha de Malco (Jo 18.10)
Além
disso, os evangelhos apresentam curas em massa:
Em
Cafarnaum (Lc 4.40,41); num povoado (Lc 5.15); ao descer do monte (Lc 6.18,19); diante dos mensageiros de João Batista
(Lc 7.21-23); em Betsaida (Lc 9.11)
etc.
A CURA PATROCINADA PELO AMOR
Para falar o que eu quero sobre o tema supracitado evoco a lembrança de um
filme que marcou a minha vida: “Uma Mente
Brilhante” (“A Beatiful Mind”) sobre a vida do Matemático Americano John
Forbes Nash, onde Russell Crowe interpreta o papel de um homem acometido
por esquizofrenia, e que apenas sobreviveu em condições mínimas de trabalho e
produtividade em razão de ter confiado no amor de sua mulher Alcia Nash.
O que me leva a evocar a memória do primeiro filme (2001) é o fato
simples e poderoso que ele apresenta: uma
pessoa doente precisa se ver através dos olhos de alguém que a ame a fim de
encontrar sua saúde e equilíbrio.
John Nash, brilhante, superdotado, venturoso em tudo o que fazia,
subitamente começa a entrar num mundo paralelo tão real quanto tudo o mais que
ele chamasse de real, com a diferença de que somente ele via o que via, e,
portanto, tratava-se de algo subjetivo e não real para o resto do mundo.
Sua salvação não da esquizofrenia, mas sim da “loucura”, só foi possível
porque ele admitiu a esquizofrenia, entregando suas decisões sobre o que
era ou não real entre as coisas que via, ao julgamento de sua esposa.
Assim, confiando no juízo e no discernimento da esposa, e,
sobretudo no seu amor por ele, foi que Nash conseguiu viver com a
esquizofrenia sem enlouquecer.
De vez em quando ele tinha de perguntar à sua mulher se as pessoas que
estavam diante dele eram reais ou apenas subjetivas em sua percepção, e, assim,
conseguiu, mediante a fé no amor de sua mulher, encontrar o termo de
aferimento de sua própria realidade.
A salvação de John Nash esteve e está no fato de ele confiar no amor de
sua mulher por ele, e, assim, conferir com ela o que era ou não real.
Ter gente de bom senso e de confiança, e que nos ame, sempre sendo
consultados sobre nossas próprias impressões, é algo vital para a saúde de
nossas mentes.
Fé e amor continuam a ser os únicos elementos capazes de preservar
a integridade de nossas mentes num mundo de falsificações e de construções
alucinadas. Isto porque pensamos coisas sobre nós mesmos que não são reais e
interpretamos a vida com critérios de uma subjetividade que raramente casa com
os fatos reais da existência.
É assim que o tímido é visto como arrogante silencioso, o falante é
percebido como metido, o quieto é olhado como fraco, o prestativo enxergado
como interesseiro, o recluso como antissocial, o triste como infeliz, o belo
como bom, o feio como mal e o simples como tolo.
Resolutamente, posso dizer que o amor que não desiste de amar, o amor que
ampara, o amor que motiva, o amor corajoso, o amor condutor, o amor que supera,
o amor que não deixa morrer a quem ama, o amor valente, impávido, destemido,
afoito, intrépido, denodado, o amor protetor, o amor que resguarda... para um
doente já é meio caminho da cura.
Termino parafraseando o título de um livro que li faz algum tempo: “Quem
ama não adoece”. Eu digo: “Quem é amado não morre!”
Deus, algumas vezes, aceita esta exceção!!!!!!
Rev. Paulo Cesar Lima
Pastor Presidente da Catedral
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