O QUE É A VERDADE?
O QUE É A VERDADE?
DEFINIÇÃO
Verdade é algo que tem exatidão,
autenticidade, realidade, correspondência e coerência. Segundo os melhores
dicionários, verdade é
• Conformidade entre o pensamento
ou a sua expressão e o objeto de pensamento.
• Qualidade do que é verdadeiro
• Realidade
• Exatidão, rigor, precisão
• Coisa certa
• Axioma, premissa evidente
• Ausência de contradição
FILOSOFIA
A Filosofia trabalha pelo menos com
cinco tipos de verdade ou cinco teorias acerca da verdade. Vejamos:
1. EMUNAH (אמונה). É uma
palavra hebraica e tem o mesmo significado que confiar ou amém. Esta é uma
verdade que é derivada do senso comum; é verdade por consenso. É uma verdade
que se espelha na maioria, ou seja, se a maioria está dizendo então eu
acredito. É a “mentira do rebanho” como diz Nietzsche. O sujeito se guia pelo
rebanho, pela maioria. Podemos chamar também de a verdade da moda. Esta
verdade, infelizmente, faz parte do cotidiano de muita gente.
2. VERITAS – Na mitologia romana, Veritas era a deusa da verdade, filha de Saturno e mãe da virtude.
Achava-se que se ocultava no fundo de um poço sagrado porque era muito fugidia.
Sua imagem mostra-a como uma jovem virgem vestida de alvo. Veritas é também o nome que recebe a “virtude” romana da
veracidade, que era considerada uma das principais virtudes que um bom romano
devia possuir. Na mitologia grega, Veritas
era conhecida como Aletheia. Os
escolásticos começaram a dizer que Veritas
era a correspondência entre a verdade e a coisa. O que quer dizer isso? É a concepção
de uma verdade por correspondência. Essa ideia é muito comum como a concepção
por coerência. É verdadeiro tudo aquilo que se fala ou se pensa e que tenha
correspondência no mundo. Logo, é a correspondência entre o intelecto e o
mundo, o intelecto e a coisa. Se você diz ou pensa alguma coisa que não tenha
correspondente na realidade, no mundo, você está cometendo um erro,
equivocando-se ou dizendo uma mentira. Podemos chamá-la também como a verdade
discursiva, a verdade das ideias ou das representações.
3. Aλήθεια – Na tradição neotestamentária há de
se encontrar as origens e as derivações das palavras gregas. Por exemplo, a
expressão verdade = «αλήθεια». Todos os termos derivados de «αλήθεια» provém de «λανθάνo» = esquecer, estar escondido, ser ignorado. Sendo composto por «a», prefixo de negação, designa aquilo que não é oculto. Ou seja: «αλήθεια» indica aquilo que não é dissimulado.
Dizer a verdade equivale a não esconder
nada, por isso «αλήθεια» se opõe à mentira e ao
esquecimento. Dentro desta lógica, um evento é verdadeiro se é revelado. «Lêthos» ou «Lanthãno» era um rio
que, antes de chegar ao Hades, os seres humanos tinham que passar por ele. E,
passando por esse rio, os seres humanos perdiam todas as memórias anteriores.
Era o rio do esquecimento. Aletheia (αλήθεια) seria este
movimento de descobrir, ou seja, o acesso à verdade passaria por esse movimento
de descobrir, desvelar, ir além das aparências, tirar o véu, desocultar ou
descobrir relembrando. Mas essencialmente o que fica hoje é ir além das
aparências, descobrir. É também uma concepção ontológica da verdade. Por que
ontológica? Porque é uma concepção acerca do ser; ontologia é o estudo do ser.
E para chegar à verdade do ser tem que desvelar, tirar o véu, desocultar.
4. VERDADE PRAGMÁTICA. A verdade
pragmática está relacionada à ideia de que é verdadeiro o que é útil.
Relaciona-se a esse universo da prática, da ação. Aqui o verdadeiro é medido
por sua utilidade ou eficácia.
5. A TEORIA DA VERDADE POR COERÊNCIA. É verdadeiro aquilo que
tem coerência. Toda e qualquer relação entre o homem e os seus objetos de
pesquisa tem que ter coerência.
TEOLOGIA
A teologia trabalha outro campo da
verdade: a verdade revelada por Deus. Por isso precisamos fazer a diferença
entre a mentalidade hebraica e a grega para não sucumbirmos em erros e
distorções.
Aponto abaixo algumas dessas
diferenças:
1. A Bíblia foi escrita com uma
mentalidade hebraica, no entanto, nossa leitura ocidental se tornou grega. Eis
o grande descompasso.
2. Para o hebreu, o ouvido era o órgão que revelava o
divino. Para o grego, eram os olhos.
Para o hebreu, ouvir Deus era relacionar-se com Ele; para o grego, a observação
era de importância vital para se conhecer o divino.
3. Para o grego, verdade é algo a ser
conhecido, dominado. Para o hebreu, a verdade se trata de envolvimento pessoal,
vivenciável, experiencial. Verdade é alguma coisa com a qual eu me relaciono.
4. Para o grego a pergunta que se
deve fazer é: o que é a verdade?
Para o hebreu, a pergunta é: quem é a
verdade? Jesus: "eu sou a verdade".
5. Para os gregos, a verdade faz
você conhecer o mundo. Para os hebreus, a verdade transforma o mundo. A
intenção hebraica é afetar mais que compreender.
6. Na compreensão de Deus, o hebreu
tinha um sentido relacional e comunitário: quem é Deus em relação a nós,
criador, libertador, pai?
7. Para a compreensão grega de
Deus, o que importava era conceitual, e não relacional, o que Ele era em
relação a si mesmo, um deus ontológico.
8. A perspectiva grega de quem é
Deus para si mesmo gera uma espiritualidade individual, abstrata, descolada das
relações sociais.
9. A perspectiva hebraica de quem é
Deus gera uma espiritualidade e uma ética voltada para as relações sociais,
para a comunidade.
Rev. Paulo Cesar Lima