sexta-feira, 18 de julho de 2014

EPITÁFIO


EPITÁFIO

Devia ter amado mais, ter chorado mais

ter visto o sol nascer.

Devia ter arriscado mais e até errado mais,

ter feito o que eu queria fazer.

Queria ter aceitado as pessoas como elas são.

Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração.

O acaso vai me proteger,

enquanto eu andar distraído.

O acaso vai me proteger

enquanto eu andar.

Devia ter complicado menos, trabalhado menos,

ter visto o sol se pôr.

Devia ter me importado menos com problemas pequenos.

Ter morrido de amor.

Queria ter aceitado a vida como ela é,

a cada um cabe alegrias e a tristeza que vier.

O acaso vai me proteger,

enquanto eu andar distraído.

O acaso vai me proteger,

Enquanto eu andar

 

 

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TITÃS, Epitáfio. Autoria de Sérgio Britto.

 

INSTANTES


Atribui-se ao grande escritor argentino Jorge Luis Borges a seguinte elegia de sua vida:


 
INSTANTES

 

Se eu pudesse viver novamente a minha vida,

trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, seria mais relaxado.

Seria mais bobo do que fui;

na verdade encararia muito poucas coisas com seriedade.

Seria menos higiênico,

correria mais riscos,

faria mais viagens,

contemplaria mais entardeceres,

subiria mais montanhas, nadaria mais em rios.

Iria mais a lugares que nunca tivesse ido.

Comeria mais sorvetes e menos verduras.

Teria mais problemas reais e menos imaginários.

Eu fui dessas pessoas que viveu sensata

e corretamente cada minuto de sua vida;

claro que tive momentos de alegria.

Mas se eu pudesse voltar atrás,

procuraria apenas ter bons momentos.

Se não sabem, disso é que é feita a vida,

somente de momentos. Não percam o agora.

Eu fui uma dessas pessoas que nunca ia a parte alguma

sem levar um termômetro, uma bolsa de água quente,

um guarda-chuva e um esparadrapo.

Se pudesse voltar a viver,

viajaria mais levianamente.

Se pudesse voltar a viver,

começaria a andar descalço no princípio da primavera

e seguiria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na calçada,

Contemplaria mais amanheceres

e brincaria mais com as crianças;

se tivesse outra vez a vida pela frente ...

Mas já se vai, tenho 85 anos e estou morrendo.

 

 

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Há uma discussão entre críticos literários se de fato esse poema é de autoria de Jorge Luis Borges. Há um certo consenso que de fato a autora seja Nadine Stair, autora norte-americana, que teria publicado o poema sob o título Moments.

 

quinta-feira, 17 de julho de 2014

A HERMENÊUTICA DE RUDOLF KARL BULTMANN

"Não é o verbo que se fez carne,
mas é a carne que se fez verbo”.

É de Bultmann a máxima supracitada. Nela, ele aventa a ideia que as “mensagens dos fatos” são mais importantes do que os “próprios fatos”. “A fé não se atém ao ‘Jesus pregador’, mas sim ao ‘Jesus pregado’, proclamado Cristo. Como personagem da história, o Mestre da Galileia é importante, sim. Mas não como critério da fé.”

Para Bultmann crer não significa “acreditar em fatos”. Segundo o teólogo, “crer é uma nova maneira de enxergar a própria existência, de compreender-se, de interpretar sua vida”.
A teologia existencialista de Bultmann é proveniente do teólogo e filósofo dinamarquês Sören Kierkegaard e do filósofo Martin Heidegger. Com este último, ele teve um grande convívio.

Foi Bultmann que fez a primeira teologia do Novo Testamento. Mas o que há neste misterioso teólogo que tenta demitologizar as narrativas episódicas encontradas nos evangelhos, oferecendo outro jeito de interpretar os milagres cristãos?

De acordo com o teólogo nascido em Wiefelstede, no norte da Alemanha, “a linguagem predominante na Bíblia é de natureza mítica, conflitante com a ‘cosmovisão’ científica e tecnológica da modernidade. Para desobstruir o acesso à fé importa evitar a confusão entre ciência e mito e distinguir entre fatos históricos e simbologia religiosa”.

Conforme a ideia de Bultmann, a exegese só pode ser livre de premissas se isto subentender uma “não pressuposição dos resultados da exegese”, isto é, se o intérprete antes de confrontar-se com o texto estivesse livre de pressuposições sobre o mesmo. Por outro lado, será impossível isso, que é o seu conceito fundamental, visto que o exegeta aborda o texto guiado pela pré-compreensão do próprio intérprete.

Bultmann afirma que por mais objetivo que o hermeneuta pretenda ser ao abordar um tema, ele não pode escapar à compreensão que dele tem: “Resulta que uma compreensão, uma interpretação, sempre está orientada por um enfoque... Isto, porém, inclui que ela nunca está isenta de premissas, mas precisamente, ela está dirigida por uma compreensão prévia do assunto, consoante a qual ela pergunta ao texto” (O problema da Hermenêutica, 1950, p.206).

A CONTIGUIDADE DE SEU CONCEITO FUNDAMENTAL
 
Bultmann procura provar suas assertivas através de três pilares argumentativos, a saber:
 
1. A exegese livre de preconceito.Preposição fundamental: A rejeição do método da alegorese.
Bultmann distingue entre alegoria e alegorese. Alegoria consiste no próprio gênero literário que pergunta pelo sentido tencionado pelo texto; enquanto alegorese é uma forma de eisegese. Cita como exemplo de alegorese a interpretação de Fílon sobre uma ideia estóica, o uso de Dt 25.4 por Paulo em 1 Co 9.9, e o texto de Gn 14.14 em que os 318 servos de Abraão são interpretados como profecia da cruz de Cristo na epístola Barnabé (9.7s). Isto posto, a interpretação alegórica, segundo Bultmann, só é válida quando é exigida pelo próprio texto. A alegorese, por outro lado, “é uma forma crassa e infiel de abordar o texto; eisegese...” Está claro nestes casos que “o exegeta não ouve o que o texto diz, e sim fá-lo dizer aquilo que ele, o exegeta, já sabe de antemão.”

2. A exegese dirigida por preconceitos.
Preposição fundamental: Os relatos históricos dos discípulos serem estritamente fiéis por se basearem na convivência destes com Cristo, e a consciência messiânica de Jesus.
 

Segundo Bultmann, tanto um quanto o outro, somente pode ser demonstrado pela pesquisa histórica. Bultmann concluiu seu argumento afirmando que: “Toda exegese que é dirigida por preconceitos dogmáticos não ouve o que o texto está dizendo, mas fá-lo dizer o que ela quer ouvir”.

3. A Exegese pode ser livre de preconceitos, mas jamais será livre de premissasPreposição fundamental: A premissa imprescindível é o método histórico ao se inquirir os textos.
 

Para Bultmann, o fato de a exegese não ser livre de premissas não tem caráter fundamental, pois “cada exegeta está determinado por sua individualidade, isto é, por suas tendências e hábitos específicos, por seus dons e pontos fracos”. Assim, a investigação do exegeta é ampliada ou ínfima a partir de “seus dons” e “seus pontos fracos”. Neste sentido, o “exegeta elimina sua individualidade para educar um ouvir de interesse puramente objetivo.”


EXPOSIÇÃO DO MÉTODO HISTÓRICO-CRÍTICO


1. Bultmann perfila que o método histórico deve ser aplicado utilizando a exegese gramatical: “um texto deve ser interpretado segundo as regras da gramática...”, e, segundo o autor, levando os matizes estilísticos dos textos “... à exigência de que a exegese histórica observe o estilo individual do texto”. Estas duas regras desembocam na observação sincrônica e diacrônica da linguagem: “a observação de que cada texto fala na linguagem de sua época e de sua esfera histórica... o exegeta precisa conhecer o condicionamento histórico da língua daquela época da qual provém o texto a ser explicado.”


2. Bultmann, a partir desse raciocínio, problematiza a respeito dos idiomatismos hebraicos e sua influência sobre o grego neotestamentário: “Onde e até que ponto o grego neotestamentário está determinado pela linguagem semítica?” Bultmann pressupõe então, que, o estudo das literaturas apocalípticas, rabínicas, dos textos de Qumran e da historiologia da religião semita são conditio sine qua non para uma compreensão satisfatória. Cita, de modo sintético, uma abordagem diacrônica do termo grego pneuma.


3. O método histórico para Bultmann, implica na premissa de que a história é uma unidade no sentido de uma contextura integrada de efeitos e por isso mesmo “... a concatenação de curso histórico não pode ser quebrada pela intervenção de poderes sobrenaturais do além, significa portanto, que não pode haver ‘milagres’ nesse sentido”.
4. Bultmann, no afã de conformar as Escrituras aos padrões modernos, entendia que a Bíblia estava sujeita aos mesmos princípios filológicos e históricos aplicados a qualquer outro livro, e por isso mesmo, os milagres e as intervenções de Deus na história deveriam ser desmitologizadas, pois “... a ciência histórica não pode constatar uma atuação de Deus, mas apenas constata a fé em Deus e na sua ação”. A partir dessa perspectiva, a ciência não pode constatar esse episódio como fato histórico, porém, deixa a critério do intérprete: “Mas ela própria na qualidade de ciência, não pode constatá-lo nem contar com esta possibilidade, ela somente pode deixar por conta de cada um se ele quer enxergar atuação de Deus num evento histórico...”; continua afirmando que “os textos bíblicos não podem constituir exceção, se é que queremos entendê-los historicamente.”


5. Bultmann considera o exercício de interpretar o texto historicamente como uma necessidade, já que se trata de uma língua estrangeira, costumes anacrônicos e cosmovisão estranha ao exegeta. Traduzir, segundo Bultmann, “significa tornar compreensível, e pressupõe compreensão.” Essa compreensão da história pressupõe a “compreensão das forças atuantes a concatenarem os fenômenos individuais.” Essa força para Bultmann são aspectos “sociolinguísticos” tais como problemas sociais, necessidades econômicas, paixões, ideias e ideais humanos que transparecem no texto a ser interpretado. Neste sentido, dificilmente, apesar de completo esforço, se chegará a uma visão uniforme, pois “no caso de cada historiador individual sempre preponderá determinado enfoque ou perspectiva.” O conceito bultmanniano é que cada exegeta esteja consciente de que seu enfoque é unilateral ao inquirir o fenômeno a partir de determinada perspectiva. Assim, “a compreensão histórica é necessária a compreensão do objeto" (das sachliche Verständnis). Em suma: a compreensão histórica irá pressupor compreensão do objeto em pauta na história e das pessoas que agem na história.


6. Desta forma a exegese sempre pressupõe certa compreensão dos objetos pelo intérprete, que se manifesta direta ou indiretamente nos textos. Isto é o que Bultmann chama de contexto vivencial ou “Lebenszusammenhang” no qual se encontra o intérprete. O quadro histórico só é falsificado, segundo Bultmann, quando o exegeta “considerar sua compreensão prévia uma compreensão definitiva”, pois o evento histórico (geschichtlich) só poderá ser reconhecido no futuro: “o evento histórico faz parte do futuro.”
7. Concluindo seu argumento, Bultmann formula cinco teses relacionadas às consequências da exegese dos textos bíblicos. A quarta tese que trata do princípio existencial, provavelmente foi e será a que mais expressa o método exegético de Bultmann. A quinta mostra o relativismo bultmanniano, de que a compreensão de um texto nunca é definitiva, pois fala para dentro da existência. O papel do exegeta, segundo Bultmann, em sua conclusão, é que o exegeta “precisa ouvir a palavra da Escritura como palavra falada para dentro de sua situação histórica específica, ele sempre entenderá de forma sempre nova a palavra antiga”, isto é o que Bultmann chama de quadro conceptual ou “Begrifflichkeit”.



Rev. PAULO CESAR LIMA 
Pastor Presidente da Catedral da Assembleia de Deus
em Jardim Primavera, Duque de Caxias, RJ.

terça-feira, 15 de julho de 2014

DO QUE PRECISAMOS: RESTITUIÇÃO OU UNIDADE?


DO QUE PRECISAMOS:
RESTITUIÇÃO OU UNIDADE?

 

 

Davi chega a Ziclague, com todos os seus seguidores, e encontra a cidade devastada, desmantelada, destruída; os inimigos roubaram tudo: sonhos, esperança, alegria, perspectivas, enfim, tudo lhe foi tirado.

 

Primeiramente, DAVI E SEUS COMANDADOS PASSAM PELO DESGASTE DA ANGUSTIANTE EXPERIÊNCIA: choram, lamentam, murmuram e concentram suas forças no alvo errado: Davi. Tentam apedrejá-lo.

 

Sempre culpamos alguém pelas nossas perdas: mãe, pai, irmão, irmã, tio, tia, avó, avô, esposo, esposa, filho, filha, liderança etc. Comumente, estes são os alvos errados que atacamos. Nossa mente já é programada para buscarmos em horas como estas um “bode expiatório”. Ou seja: precisamos culpar alguém pelos problemas de que estamos sendo acometidos. Não conseguimos enxergar nossos próprios erros e por isso nos arremetemos contra “alguém” para jogarmos sobre ele todas as nossas culpas.

 

Freud chamava isso de projeção. Trata-se de um mecanismo de defesa do qual lançamos mão quando não conseguimos compreender certas situações e não conseguimos combater determinado problema que nos aflige. Escondemo-nos debaixo de uma cortina de fumaça e lançamos sobre o grupo a nossa culpa. 

Em segundo lugar, Davi faz a diferença: MOTIVA-SE NA PRESENÇA DO SENHOR. Este caminho percorrido pelo rei de Israel foi decisivo para o enfrentamento de outras etapas mais sérias e mais difíceis. Isto porque um homem estimulado, motivado tem uma força de reação extremamente duplicada.

 

Em terceiro lugar, Davi, em meio a toda a confusão, encontra o caminho para a vitória: ORIENTAR-SE COM DEUS. Davi procura saber com Deus se vai perseguir o bando de ladrões ou esperar um pouco. O poeta de Israel é submisso à vontade de Deus. Abandona a impetuosidade de guerreiro; habita à sombra do Altíssimo e faz de Deus o seu Pavilhão. Sua ação não pode ser impulsiva, sem consciência. Deve refletir muito antes de tomar qualquer iniciativa. O rei de Israel não pode errar. Ele diz a Deus: “Subirei, Senhor; perseguirei, Senhor!”

 

Deus quer responder às nossas orações, mas que elas sejam inteligentes, coerentes e contenham propósito.

 

Em quarto lugar, DAVI RECEBE A RESPOSTA DE DEUS: “Perseguirás; alcançarás e TRARÁS DE VOLTA TUDO QUANTO É TEU”.

 

Quando ouvimos a resposta de Deus, devemos ter em mente que não podemos deixar para trás as estratégias, os bons planos, pois esta parte é nossa. Às vezes perdemos a batalha, mesmo recebendo o “sim” de Deus, porque nos desarmamos, abrimos mão dos nossos planejamentos, por conta de imaginar que tudo já está sob o controle.

 

Mesmo sabendo que Deus havia prometido a vitória, Davi foi extremamente estratégico na sua ação contra os seus inimigos: persegui-os até destruí-los completamente.

 

Não deixe nada para amanhã; cuide de fazer tudo hoje, aproveitando o momento da vitória. Irmãos, Deus quer nos transformar de um povo comum para uma COM-UNIDADE.

 

Necessitamos de UNIDADE. O coração do povo ligado ao coração do pastor. Quando conseguirmos ser “um só coração”, não há nada que nos possa impedir de avançar, triunfar, conquistar, e trazer de volta tudo que é nosso.

 

Que Deus abençoe você!

 

Rev. Paulo Cesar Lima.

Presidente da CMADERJE.

ALEGRIA COMO FORÇA REVOLUCIONÁRIA, ÉTICA E ESTÉTICA DOS AFETOS


ALEGRIA COMO FORÇA REVOLUCIONÁRIA, ÉTICA E ESTÉTICA DOS AFETOS

 

 

No século XVII a Santa Inquisição perseguia toda e qualquer expressão de espontaneidade. Não se podia rir nesta época, sob pena de ser julgado e condenado como blasfemador pela Igreja. No passado, no meio pentecostal clássico, o riso era repudiado. Ou seja: qualquer expressão de espontaneidade era vista como escárnio e zombaria.

 

Foi penoso para os crentes de 40, 50 anos atrás terem que se tornar carrancudos, mau humorados, trombudos, emburrados, para demonstrarem espiritualidade. A única coisa que podia quebrar essas proibições, nervuras, impedimentos, interdições, era o batismo com o Espírito Santo, com o qual a pessoa batizada ficava, por um momento, desgovernada, impactada, e saía da sua postura de “equilíbrio”, controle pessoal. Ela ria, pulava, dançava, aplaudia. Era uma manifestação clara de efusão, de celebração, alegria contagiante. Só assim o pentecostal clássico podia expressar alegria, expansão, fervor.

 

Foram muitas as descobertas que fiz nesse meu encontro com a alegria. A primeira descoberta foi, justamente, com relação à filosofia antiga. Descobri que, na filosofia antiga, a alegria era considerada como uma mania, como um delírio, como uma loucura. Em Fedro, de Platão, a alegria tem o sentido de mania, loucura e delírio. Quando lemos a filosofia antiga, temos que ter cuidado com as palavras, pois nunca são palavras usadas sem ter sido primeiro refletidas, vividas. Então quando os antigos estão falando de mania, estão falando de loucura, de delírio. Mas, esta mania designa o quê? Designa a presença do divino. E este “divino” não é o divino absolutamente apregoado por alguns grupos evangélicos. Mas é aquele divino que tem uma força transformadora e incentivadora do sujeito, em uma relação com a alegria que fará com que dessa relação sujeito/alegria ecloda o próprio sujeito no mergulho na própria alegria. Quer dizer que mergulhar na alegria não é sem consequência para o sujeito. Tem tanta consequência que esse sujeito sai eclodido. Essa eclosão do sujeito refere-se aqui, sobretudo, às transformações, às mudanças, e o mais interessante, ao encontro. Ou seja: Sentir-se alegre, encontrar com a alegria, é encontrar-se com Deus na mais louca das experiências.

 
“A sua ira dura só um momento, mas a sua bondade é para a vida toda. O choro pode durar a noite inteira, mas de manhã vem a alegria” (Salmos 30:5).

 
“A alegria embeleza o rosto, mas a tristeza deixa a pessoa abatida” (Provérbios 15:13).
 
 
Rev. Paulo Cesar Lima
Presidente da CMADERJE

COMODIDADE AMEAÇADA


COMODIDADE AMEAÇADA
 
 
“E ninguém põe vinho novo em odres velhos. Se fizer isso, o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão” (Lucas 5.37).

 

Toda e qualquer mudança, seja ela qual for, é complicada e gera um misto de sentimentos, como confor­to-desconforto, segu­rança-apreensão, paz-inquietação, prazer-insatisfação, certeza-dúvida. Mas, se por um lado as propostas de mudança nos trazem esses sentimentos divergentes e às vezes perturbadores, muito pior é aquela mudança de face absolutamente cristã, que exige de nós mais profundidade no que acreditamos, mais co­nhecimento no que sabemos, mais compromisso no que fazemos, mais responsabilidade no que tratamos, mais espiri­tualidade no que somos, mais solidariedade no que praticamos. Isto porque comumente as pessoas que são confrontadas com tais realidades e concreções, se sentem extremamente ameaçadas na sua an­­tiga crença, nos seus padrões éticos-formais, nos seus estereótipos religiosos, na sua conduta cristã até então inquestionável e nos seus comportamentos admitidos co­mo irretocáveis. Con­tudo, a despeito de todas essas barreiras com respeito a mudanças, há uma que se constitui no grande e maior obstáculo para aqueles que precisam mudar: a comodidade.

 

A maioria esmagadora das pessoas não deseja mudar, pelo fato de acharem que não precisam de mu­dança alguma, e tam­bém em razão do fato de saberem que mu­dança, neste nível, pressupõe renúncia, desprendimento, desapego das coisas com as quais se está acos­tumado. Com e­feito, qualquer mudança desse tipo in­comoda, inquieta, de­sassossega, por­quanto mexe com resistên­cias psico­lógicas fortíssimas e sobretudo intranqui­liza os que estão vi­vendo vida cristã no bem-estar da omis­são.

 

Mas para um cren­te cristão que deseja vi­ver na linha da coe­rência diante de Deus, sempre lhe é exigido constante tensão em buscar, à luz da Pa­lavra de Deus, a ma­neira mais correta de viver para Deus; de sorte que “mudança”  para um cristão não deve ser vista como algo in­cômodo, nem tampouco como ame­aça, mas sempre co­­mo um meio para se alcançar o crescimento espiritual de­­sejado e projetado por Deus.
 
 
REV. PAULO CESAR LIMA
PRESIDENTE DA CMADERJE

O PODER NÃO ACEITA O SEGUNDO LUGAR


O PODER NÃO ACEITA

O SEGUNDO LUGAR

 

 

Rei, ministros e conselheiros, todos na maior agitação! O palácio inteiro entra em alvoroço, como que tomado por histeria coletiva... É que acabam de chegar personagens importantes, para adorar Alguém que não é Herodes. Alguém com jeito e cheiro de usurpador, evidente­mente...      

 

[Os magos eram eruditos no campo da matemática, as­tronomia, astrologia, alquimia e da religião. Eram conselheiros de cortes reais. Um dos deveres dos magos era estudar as estrelas a fim de antecipar o nascimento de qualquer novo governante, que eventualmente ameaçasse os poderes correntes.

Os cristãos orientais têm uma tradição de doze sábios, outros pen­savam em sete, onze, e depois três, representando as três raças principais ou a Trindade.

Toda essa questão que gira em torno de três personagens, foi por causa da atitude tomada pela imperatriz Helena, mãe de Constantino o Grande.

Esta mulher, par­tindo em busca de encontrar pro­vas sobre a exis­tência desses ma­gos, se deparou com três esqueletos que jaziam perto do túmulo de Jesus. Assim, ela mandou que os trouxessem para Constantinopla. Sua permanência ali, no entanto, foi breve. Pouco de­pois eram removidos para Milão. Mas foi somente no século XII, quan­do Barbaroxa se tornou imperador e os esqueletos foram removidos para Co­lônia que eles receberam os nomes de Gaspar, Melchior e Baltazar. À luz da Bíblia, pode-se dizer que toda esta história é inexistente.]

É sempre assim. O poder fareja peri­gos e ameaças por todos os lados e não tolera ser deixado em se­gundo lugar pelo povo, nem que seja por causa do próprio Deus. Pois, um povo disposto a dobrar os joelhos perante Deus é indomável, difícil de ser manipulado, subjugado, explorado. Rei ou presidente nenhum consegui­rá atrelar à sua carrua­gem os ado­radores do verda­deiro Deus...

Mas por que tanto pavor de uma criança? É que criança é anúncio de vida nova, pro­messa de primave­ra, pos­sibilidade de alter­nativa e de mudan­ça. Ora, o poder não aprecia novidades, alter­nativas ou mudan­­ças. Toda aspira­ção nesse sentido deve ser sufocada. E os que deliram por essas coisas, ou se ajoe­lham peran­te o po­der, ou serão des­­truídos...

Cristo, em sua Epifania, resplande­­ce como a nova al­ternativa a todos os “herodes” que infer­­nam nossa vi­da. Alternativa tão frágil e pequenina, quanto crian­ça recém-nas­cida; mas bem capaz de jogar medo e inquietação na cons­ciên­cia dos senhores abusivos do poder opressor.

Hoje, nós é que deveríamos oferecer ao mundo as alter­nativas para uma nova convivência, mais humana e fra­terna. Mas, apon­tar a alternativa da paz a um mundo que adora fazer guerras; propor a lei do a­mor a uma sociedade que só acre­dita em leis violentas – tudo isso nos faz apare­cer como dinamiteiros, merecedo­res da mor­te...

Não importa. Di­­ante de Cristo, úni­ca alternativa de vida para a humanidade, dobraremos joelhos e corações, conven­cendo os irmãos a fazer o mesmo, a fim de podermos viver em perfeita alegria e em plena liberdade.
 
 
REV. PAULO CESAR LIMA
PRESIDENTE DA CMADERJE