ALEGRIA COMO FORÇA
REVOLUCIONÁRIA, ÉTICA E ESTÉTICA DOS AFETOS
No século XVII a Santa Inquisição perseguia toda e qualquer expressão de
espontaneidade. Não se podia rir nesta época, sob pena de ser julgado e
condenado como blasfemador pela Igreja. No passado, no meio pentecostal
clássico, o riso era repudiado. Ou seja: qualquer expressão de espontaneidade
era vista como escárnio e zombaria.
Foi penoso para os crentes de 40, 50 anos atrás terem que se tornar carrancudos,
mau humorados, trombudos, emburrados, para demonstrarem espiritualidade. A
única coisa que podia quebrar essas proibições, nervuras, impedimentos,
interdições, era o batismo com o Espírito Santo, com o qual a pessoa batizada
ficava, por um momento, desgovernada, impactada, e saía da sua postura de “equilíbrio”,
controle pessoal. Ela ria, pulava, dançava, aplaudia. Era uma manifestação
clara de efusão, de celebração, alegria contagiante. Só assim o pentecostal
clássico podia expressar alegria, expansão, fervor.
Foram muitas as descobertas que fiz nesse meu encontro
com a alegria. A primeira descoberta foi, justamente, com relação à filosofia
antiga. Descobri que, na filosofia antiga, a alegria era considerada como uma mania,
como um delírio, como uma loucura. Em Fedro, de Platão, a
alegria tem o sentido de mania, loucura e delírio. Quando lemos a filosofia
antiga, temos que ter cuidado com as palavras, pois nunca são palavras usadas
sem ter sido primeiro refletidas, vividas. Então quando os antigos estão
falando de mania, estão falando de loucura, de delírio.
Mas, esta mania designa o quê? Designa a presença do divino. E este “divino” não
é o divino absolutamente apregoado por alguns grupos evangélicos. Mas é aquele
divino que tem uma força transformadora e incentivadora do sujeito, em uma
relação com a alegria que fará com que dessa relação sujeito/alegria
ecloda o próprio sujeito no mergulho na própria alegria. Quer dizer que
mergulhar na alegria não é sem consequência para o sujeito. Tem tanta
consequência que esse sujeito sai eclodido. Essa eclosão do sujeito refere-se
aqui, sobretudo, às transformações, às mudanças, e o mais interessante, ao
encontro. Ou seja: Sentir-se alegre, encontrar com a alegria, é encontrar-se com Deus na mais louca das
experiências.
“A
alegria embeleza o rosto, mas a tristeza deixa a pessoa abatida” (Provérbios
15:13).
Rev. Paulo Cesar Lima
Presidente da CMADERJE
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