sábado, 25 de junho de 2016

AS HERESIAS E AS IMATURIDADES DO POVO PENTECOSTAL E PÓS-PENTECOSTAL


        Dias desses, participei de um Debate numa rádio, onde falamos sobre a avalanche de heresias que ocorre nas igrejas brasileiras.
 
Primeiramente, precisamos fazer uma distinção enorme entre “heresias antigas” e “heresias atuais”. As “heresias antigas” eram oriundas de muito estudo e muita pesquisa. Os chamados heréticos eram professores, conhecedores profundos da matéria que estavam defendendo. Outra coisa: nos Concílios só entravam os mestres e doutores que se debruçavam por 100 dias sobre um tema qualquer para esmiuçá-lo. Todos levavam seus escritos sobre o assunto que iriam defender ou combater e só entravam no recinto após ser verificado seu trabalho.
 
Em segundo lugar, não podemos chamar de heresia o que acontece em algumas igrejas no Brasil. O que existe aqui é um comportamento de rejeição à cultura, ao saber, ao conhecimento, aliado a uma frenética busca por alívio e consolo imediatos. E, para tal, utiliza-se de tudo que puder para chegar a um fim pretendido. Não é heresia o que se pratica na maioria das igrejas pentecostais e pós-pentecostais, quando avaliamos heresia por um critério mais histórico e teológico. O que há de avalanche passando por algumas igrejas é eminentemente fenomenológico. Até porque os que estão propagando essas tolices são líderes sem o mínimo que se exige de conhecimento teológico para se construir uma heresia.
 
Em terceiro lugar, temos igrejas novas mal formadas, onde seus líderes não têm conhecimento teológico quase que nenhum; não há anciãos que sirvam de referência à novel igreja e nem doutores e mestres para ensiná-la. 
 
Em quarto lugar, os líderes dessas igrejas fazem cursos rápidos, exasperados que estão para sair ao campo. Procuram “seminários miojos” – cursos teológicos em 3 meses ou 6 meses. O chamado “curso rapidinho”. Não há como preparar uma pessoa para o pastorado em tão pouco tempo.
 
Em quinto lugar, temos essa enxurrada de equívocos acontecendo em centenas de igrejas, porque transformamos o Logos (a Palavra) de Deus em Mythos.  
 
Em sexto lugar, o povo também é culpado porque procura caminhos mais fáceis, rápidos e com respostas menos demoradas. O povo não gosta de ler, estudar, refletir, aprofundar, comparar, etc. E quem não lê, não sabe.
 
Em sétimo lugar – eu teria ainda muita coisa a dizer, mas o tempo não permite – continuamos a insistir em bater numa tecla que é um tiro no nosso próprio pé. Insistimos em perseguir quem estuda, quem busca conhecimento, os nobres doutores e mestres da Bíblia. Só que sem eles não temos boas traduções, interpretações, exegeses, hermenêutica dos textos das Sagradas Escrituras.
 
As igrejas brasileiras, de um modo geral, não investem em pessoas que possam estudar profundamente Arqueologia, Paleontologia, Filologia, Linguística, Línguas Originais para que tenhamos pesquisadores que nos sirvam de consultores de assuntos que nós não dominamos. Não investimos em doutorados teológicos eficientes, porque invejamos quem sabe mais do que nós. Aliás, atacamos o tempo todo os nossos mestres e doutores. Só que sem eles, sem os pesquisadores, ficamos catando moscas e falando um monte de besteiras.  
 
O Brasil se notabiliza por ser um país de igrejas populares, mas absolutamente patronais, que leem a Bíblia da maneira simples, romântica, verticalista, a partir de verdades sistematizadas, denominacionalizadas, com aplicações práticas no que dizem respeito à conduta comportamental, tudo a partir do seu rol de “sábios” e “entendidos” a seus próprios olhos.
 
             Não aguento mais ouvir que estudar mata espiritualidade, traz frieza espiritual e perda de sensibilidade, etc. Quem tem perda de espiritualidade é quem se mete com o poder temporal, pois passam a maquinar o mal o tempo todo contra os seus oponentes e se insuflam de mesquinharias, perdendo totalmente a sensibilidade. Um mestre ou doutor na palavra lê, estuda, pesquisa, aprofunda seus conhecimentos, avaliam discursos, faz prova de cada um deles, para terem argumentos válidos, embasados, com vistas a ensinar o povo de Deus o que está mais próximo da verdade.  Além disso, ao contrário dos que invejam o conhecimento, a Bíblia diz:
 
“Os presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada HONRA, PRINCIPALMENTE os que trabalham na palavra e na doutrina” (1 Timóteo 5.17).

              Neste texto, timh está no genitivo singular. Podendo o versículo ser traduzido da seguinte maneira também:

“Devem ser considerados merecedores de DOBRADOS HONORÁ- RIOS os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (1 Timóteo 5.17).

               Os sentidos da palavra “honra”, no português, são: DISTINÇÃO, MERCÊ, CONSIDERAÇÃO; EXALTAR, ELOGIAR. No grego, timh, DINHEIRO, HONORÁRIOS, HONRARIA, PRECIOSIDADE, PREÇO, SOMA, VALOR. Neste mesmo diapasão está a palavra “reverência”, que significa RESPEITO PROFUNDO, ACATAMENTO, CONSIDERAÇÃO.
 
              Portanto, a própria Bíblia nos estimula a RESPEITAR, CONSIDERAR, HONRAR DUPLAMENTE os nossos oficiais, aqueles que nos ensinam e ainda fazê-los participantes de todos os nossos bens (materiais e espirituais):
 
E o que é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui” (Gálatas 6.6).

              Mas se quisermos paralisar essa avalanche de meninice e imaturidade cristã ocorrida em centenas de igrejas brasileiras, precisamos fazer duas coisas fundamentais. Primeiro parar de falar mal daqueles que estudam e levam essa vocação a sério. Em segundo lugar, nos apressar na formação de liderança eficiente, em todos os aspectos.

Rev. Paulo Cesar Lima.
 

 

 

 

 

 

 

 

segunda-feira, 13 de junho de 2016

«JESUS – O MAIOR DE TODOS OS INTÉRPRETES DA BÍBLIA»

 
INTRODUÇÃO
 
Escolhi o tema «Jesus – o maior de todos os intérpretes da Bíblia» – porque sem Ele ficaríamos no obscurantismo, na ignorância, e cairíamos nas mãos de manipuladores da verdade, por não sabermos como interpretar a Bíblia de forma coerente e consistente sem Ele. Foi Ele quem reinterpretou a Torá Oral que, nas mãos de santos perversos, só fazia oprimir o povo.
 
Jesus foi quem mais investiu na libertação da consciência do povo. Aliás, começou o seu duro ministério numa luta titânica no deserto e venceu o império do mal com a expressão bíblica: «Está escrito!», reafirmando-a todo tempo em face de distorções sugeridas como propostas indecentes pelo arqui-inimigo do ser humano. E, quando a disputa se tornou mais rígida, não deixou de dizer ao diabo a frase lapidar da sua tentação: «Tam­­­­bém está escrito!». «Também está escrito» para aqueles que ousam interpretar voluntario­­­­­­samente a Bíblia de forma incorreta e distorcida. «Tam­­­­­­bém está escrito» para aqueles que imaginam que citar algum texto da Bíblia seja o suficiente para radicalizar seus pontos de vista. «Também está escrito» para aque­­­­­­les que tomam o caminho da ideia absoluta, dogmática, fechada, fanatizada, um tipo de fundamentalismo sem contraditório. «Também está escrito» para intérpretes bíblicos que fazem o caminho da “particular interpre­­tação”.

 
Digo assim porque com a expressão «está escrito» pode-se dizer o que quiser, até mesmo propagar os mais profundos equívocos na área da interpretação bíblica; o «está escrito» dito por um neófito, pode provocar concei­­­­tos descabi­­dos, incoerentes, inconvenientes, inoportunos e mortais; o «está escrito» mal empregado pode gerar igrejas mórbidas, opressoras e oprimidas, igrejas que medem a espiritualidade de uma pessoa pela proteção ou não que ela tenha de Deus.
 
Ninguém tem todo poder em relação à verdade, mes­­­­mo que fale a partir do que «está escrito», porque isso o tornaria onipotente, divino.

 
O que eu estou tentando passar para vocês, nesta noite, é que a resposta de Jesus, o maior de todos os intérpretes das Sagradas Escrituras, a esta sórdida proposta de satanás é que, mesmo que alguém afirme que «está escrito», sempre haverá um «também está escri­­­­to» da parte de Jesus. Ou seja: haverá sempre um «tam­­­­bém está escrito» para quem diz «está escrito» sem base, sem contexto, sem coerência, sem lastro histórico, sem maturidade, sem profundidade, sem responsabilidade, sem critério, sem discernimento, sem prudência, sem humildade, sem princípio, meio e fim, sem teologia...

 
CONCLUSÃO:

 
Para cada pedalada hermenêutica no uso irresponsável do «está escrito» que se pretenda absoluto, dogmático, autoritá­­­­­­rio, categórico, imperativo, sentencioso, equivocado, mal interpretado, isolado, há sempre um «também está es­­­­­­crito» para chamar a atenção daqueles que se embre­­­­­­nham pela radicalização de um só versículo e ainda mal interpretado.
 
Jesus, o maior de todos os intérpretes da Bíblia, não permitiu que se fizesse a expropriação do conteúdo da Palavra de Deus. Aliás, é dele a mais contundente das afirmações sobre a Palavra de Deus, a Bíblia Sagrada: «... a tua palavra é a verdade».
 
Lutou, como ninguém, contra ferozes manipuladores da religião, e nos deixou o maior de todos os legados: a liberdade.

 
Termino, nesta noite, com um pequeno achado biográfico do grande filósofo francês Rousseau. Além de filósofo, era criador e escravo do individualismo.
 
Certa vez foi encontrado por uma pessoa que o pegou lendo o Novo Testamento para sua filha e imediatamente o interpelou:
 
– «Que é isso Rousseau? Você que se proclama incré­­­­dulo, cético, está ensinando o Evangelho à sua filha»?

 
Ele então responde:

 
– «Meu amigo, se você tem alguma coisa melhor que o Evangelho para ler, faça o obséquio de me mostrar».
 
Deixo-lhes uma última palavra, que é uma das minhas frases baseadas na luta de Jesus no deserto:

 

«A liberdade é e sempre será maior do que o pão».
 
 
Rev. Paulo Cesar Lima

 


quinta-feira, 2 de junho de 2016

O «JESUS» QUE NEM JESUS CONHECE

            



Há um «jesus» popularizado pela religião que nem Jesus conhece.
 
A informação acima não é nova quando se trata de Cristologia. Os cristos caricaturados, fisiculturados nas telas de nossas tvs, nos filmes, na literatura e nas próprias apresentações que as igrejas fazem da imagem de Cristo alguma coisa que não bate com a revelação das Escrituras. O resgate da imagem perdida do Jesus das Escrituras é o desafio-tarefa deste trabalho.  

 

O «jesus» QUE NEM JESUS CONHECE

 
          Concordo plenamente com certo escritor quando diz que, «em matéria de religião, o ‘ídolo’ disfarçado em Deus é pior do que o diabo».
 
O Jesus dos evangelhos nunca desejou criar uma religião, outra religião, uma religião verdadeira ou mais uma religião. Na ver­­dade, os primeiros cristãos foram chamados «os do caminho». A razão é simples: Jesus se preocupava com a vida, o perdão, o amor, elementos que humanizam o homem, alvo de sua pregação. Paradoxalmente, a men­­­­­­sagem de Jesus, no primeiro século, soou como uma mensagem SECULAR dentro de um mundo possuído pela RELIGIÃO.

 
Precisamos recordar que os primeiros cristãos eram chamados de ateus, por não adorarem as divindades ali existentes. Isto posto, mais uma vez o desafio é colocado para nós. Portanto, ou humanizamos a nossa mensagem com vistas a alcançar o homem, ou vamos perder a grande chance de transformar o homem religioso em apenas um ser humano, pois a tendência do «homem religioso» é separar-se do «homem comum», mas o «homem-sim­­­­plesmente-humano» consegue se aproxi­­mar do homem comum, sem nenhum tipo de precon­­ceito e pré-julgamento.

 
Perguntaram uma vez a um grande professor de teologia sobre o que ele achava da sociedade humana que, mesmo vivendo no século XXI, ainda se deixava influenciar pelo fanatismo e fundamentalismo. Sua resposta foi precisa: «Eu é que pergunto: ‘Como podem existir pessoas que pensem diferente disso tudo que está aí e que é tão comum a todos os homens, num mundo tão cheio de fundamentalismo e fanatismo’?» 
 
A lembrança de Jesus não é uma tentação de historicismo, uma espécie de saudade do passado, mas uma necessidade para assegurar a autenticidade do querigma. Sem um retorno ao passado pa­­­­ra encontrar o próprio fundamento, a cristologia se dissolve, tornando-se mera eclesiologia, simples pneumatologia ou uma inexpressiva antropologia. O Evangelho dos evangelistas é uma proteção para o evangelho do querigma. O Jesus da história impede o Cristo proclamado de tornar-se um mito, uma gnose, uma ideologia. A referência a Jesus pro­­­­tege o querigma da ameaça do subjetivismo.

 
É preciso desmistificar, entre outras coisas, a forma cúltica de apresentação de um Cristo de fabricação humana, personagem da alegria dos homens. O «Jesus histórico» que foi trocado pelo «Cristo da fé», absolutamente mediocrizado e devorado por uma religião mercadológica e consumista, precisa voltar as telas humanas. Conquanto entendamos que os contornos histórico de Jesus, às vezes recheados de especu­­­­­­lação, quase sempre não batam com os sentidos dados ao «Cristo da Fé» pela nossa frágil dogmática, não há como separar o «Cristo da fé» do «Jesus histórico». Se­­­­­­gundo a opinião de diversos teólogos e cientistas da religião, as duas coisas podem muito bem se harmonizar, sem que precisemos anular a prova histórica dos evan­­­­­­gelhos, mesmo com todos os retoques teológicos, românticos que sabemos existir.

 
O QUE FIZERAM COM JESUS

 
Quem lê os evangelhos de Jesus, segundo a ótica de Marcos, Mateus e Lucas, há de refazer toda a sua ideia acerca daquele que foi chamado Filho de Deus, Filho do Homem, Jesus Cristo, Jesus de Nazaré, Salvador, Senhor, Filho do Altíssimo, Emanuel, Filho de Davi...

 
A bem da verdade, as interpretações que a Igreja, ao longo desses dois milênios, veio fazendo acerca de Jesus, foram descaracterizando o simples carpinteiro da Galileia. Constantino, imperador romano, por exemplo, cria a famigerada «Teologia do Cristo-Rei», uma reinterpretação do ambiente social em que Jesus viveu com seus pais e parentes. Nesta visão, a manjedoura é substituída por uma recâmara real; José e Maria viram membros da realeza; os trapos em que Jesus foi envolvido tornam-se roupas reais. A partir desta ideia, Jesus vai sendo afastado do homem comum e ganhando feições magníficas, majestáticas, augustas. A simplicidade do Filho de Deus é modificada por imagens pujantes, grandiosas, pomposas. Ao final, Jesus é cooptado pelo religiosismo que Ele deu a sua vida para combater. Passa a censurar, rejeitar, julgar, incriminar, sentenciar, condenar o homem, alvo do seu amor, quando Ele veio, segundo os evangelhos, para perdoar pecados, salvar, libertar e anunciar as boas novas. Não nos esqueçamos que «o machado» estava nas mãos de João, o último a fazer como os profetas do Antigo Testamento, nas mãos de Jesus estava o amor, a misericórdia, a graça e a promessa de jamais «torcer a cana esbagaçada» e «apagar o pavio que ainda fumega».

 
Sem conhecer o Filho de Deus, segundo os evangelhos, nossa noção de certo e errado, verdadeiro e falso, santo e profano se perde na mais profunda escuridão do fanatismo religioso.
 
Não é possível ver o Jesus dos evangelhos sendo apresentado da forma mais intolerante, intransigente pelas igrejas atuais. Um Jesus que se transforma num xerife perseguidor, sempre atrás das portas para nos pegar em erros recorrentes e nos condenar. Um Jesus que só pensa em descobrir pecados ocultos nos homens; um Jesus sem o mínimo de critério para julgar cada caso. Um Jesus que depende mais de quem o interpreta do que de si mesmo. Este verdadeiramente é o «jesus» que nem Jesus conhece.  
 
Não precisamos tanto de intérpretes de Jesus quanto precisamos de quem se arrisque a viver os desafios que Ele deixou de exemplos para serem imitados.


Σ 'Αυτόν, ο Ιησούς, είναι η δόξα στους αιώνες. Αμήν.
Rev. Paulo Cesar Lima.