Dias desses, participei de
um Debate numa rádio, onde falamos sobre a avalanche de heresias que ocorre nas
igrejas brasileiras.
Primeiramente, precisamos
fazer uma distinção enorme entre “heresias antigas” e “heresias atuais”. As
“heresias antigas” eram oriundas de muito estudo e muita pesquisa. Os chamados
heréticos eram professores, conhecedores profundos da matéria que estavam
defendendo. Outra coisa: nos Concílios só entravam os mestres e doutores que se
debruçavam por 100 dias sobre um tema qualquer para esmiuçá-lo. Todos levavam
seus escritos sobre o assunto que iriam defender ou combater e só entravam no
recinto após ser verificado seu trabalho.
Em segundo lugar, não
podemos chamar de heresia o que acontece em algumas igrejas no Brasil. O que
existe aqui é um comportamento de rejeição à cultura, ao saber, ao
conhecimento, aliado a uma frenética busca por alívio e consolo imediatos. E,
para tal, utiliza-se de tudo que puder para chegar a um fim pretendido. Não é
heresia o que se pratica na maioria das igrejas pentecostais e
pós-pentecostais, quando avaliamos heresia por um critério mais histórico e
teológico. O que há de avalanche passando por algumas igrejas é eminentemente
fenomenológico. Até porque os que estão propagando essas tolices são líderes
sem o mínimo que se exige de conhecimento teológico para se construir uma
heresia.
Em terceiro lugar, temos
igrejas novas mal formadas, onde seus líderes não têm conhecimento teológico
quase que nenhum; não há anciãos que sirvam de referência à novel igreja e nem
doutores e mestres para ensiná-la.
Em quarto lugar, os líderes
dessas igrejas fazem cursos rápidos, exasperados que estão para sair ao campo.
Procuram “seminários miojos” – cursos teológicos em 3 meses ou 6 meses. O
chamado “curso rapidinho”. Não há como preparar uma pessoa para o pastorado em
tão pouco tempo.
Em quinto lugar, temos essa
enxurrada de equívocos acontecendo em centenas de igrejas, porque transformamos
o Logos (a Palavra) de Deus em Mythos.
Em sexto lugar, o povo
também é culpado porque procura caminhos mais fáceis, rápidos e com respostas
menos demoradas. O povo não gosta de ler, estudar, refletir, aprofundar,
comparar, etc. E quem não lê, não sabe.
Em sétimo lugar – eu teria
ainda muita coisa a dizer, mas o tempo não permite – continuamos a insistir em
bater numa tecla que é um tiro no nosso próprio pé. Insistimos em perseguir
quem estuda, quem busca conhecimento, os nobres doutores e mestres da Bíblia.
Só que sem eles não temos boas traduções, interpretações, exegeses,
hermenêutica dos textos das Sagradas Escrituras.
As igrejas brasileiras, de
um modo geral, não investem em pessoas que possam estudar profundamente
Arqueologia, Paleontologia, Filologia, Linguística, Línguas Originais para que
tenhamos pesquisadores que nos sirvam de consultores de assuntos que nós não
dominamos. Não investimos em doutorados teológicos eficientes, porque invejamos
quem sabe mais do que nós. Aliás, atacamos o tempo todo os nossos mestres e
doutores. Só que sem eles, sem os pesquisadores, ficamos catando moscas e
falando um monte de besteiras.
O Brasil se notabiliza por ser um país de igrejas populares,
mas absolutamente patronais, que leem a Bíblia da maneira simples, romântica,
verticalista, a partir de verdades sistematizadas, denominacionalizadas, com
aplicações práticas no que dizem respeito à conduta comportamental, tudo a
partir do seu rol de “sábios” e “entendidos” a seus próprios olhos.
Não aguento mais ouvir que estudar mata
espiritualidade, traz frieza espiritual e perda de sensibilidade, etc. Quem tem
perda de espiritualidade é quem se mete com o poder temporal, pois passam a
maquinar o mal o tempo todo contra os seus oponentes e se insuflam de
mesquinharias, perdendo totalmente a sensibilidade. Um mestre ou doutor na
palavra lê, estuda, pesquisa, aprofunda seus conhecimentos, avaliam discursos,
faz prova de cada um deles, para terem argumentos válidos, embasados, com
vistas a ensinar o povo de Deus o que está mais próximo da verdade. Além disso, ao contrário dos que invejam o
conhecimento, a Bíblia diz:
“Os
presbíteros que governam bem sejam estimados por dignos de duplicada HONRA,
PRINCIPALMENTE os que trabalham na palavra e na doutrina” (1 Timóteo 5.17).
Neste texto, timh está no genitivo singular.
Podendo o versículo ser traduzido da seguinte maneira também:
“Devem ser
considerados merecedores de DOBRADOS HONORÁ- RIOS os presbíteros
que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino”
(1 Timóteo 5.17).
Os sentidos da palavra “honra”, no português,
são: DISTINÇÃO, MERCÊ, CONSIDERAÇÃO; EXALTAR, ELOGIAR. No grego, timh,
DINHEIRO, HONORÁRIOS, HONRARIA, PRECIOSIDADE, PREÇO, SOMA, VALOR. Neste mesmo
diapasão está a palavra “reverência”, que significa RESPEITO PROFUNDO,
ACATAMENTO, CONSIDERAÇÃO.
Portanto, a própria Bíblia nos estimula a
RESPEITAR, CONSIDERAR, HONRAR DUPLAMENTE os nossos oficiais, aqueles que nos
ensinam e ainda fazê-los participantes de todos os nossos bens (materiais e
espirituais):
“E o que
é instruído na palavra reparta de todos os seus bens com aquele que o instrui”
(Gálatas 6.6).
Mas se quisermos paralisar essa avalanche de
meninice e imaturidade cristã ocorrida em centenas de igrejas brasileiras,
precisamos fazer duas coisas fundamentais. Primeiro parar de falar mal daqueles
que estudam e levam essa vocação a sério. Em segundo lugar, nos apressar na
formação de liderança eficiente, em todos os aspectos.
Rev. Paulo Cesar
Lima.