Escolhi o tema «Jesus – o maior de
todos os intérpretes da Bíblia» – porque sem Ele ficaríamos no obscurantismo,
na ignorância, e cairíamos nas mãos de manipuladores da verdade, por não
sabermos como interpretar a Bíblia de forma coerente e consistente sem Ele. Foi
Ele quem reinterpretou a Torá Oral que, nas mãos de santos perversos, só fazia
oprimir o povo.
Jesus foi quem mais investiu na
libertação da consciência do povo. Aliás, começou o seu duro ministério numa
luta titânica no deserto e venceu o império do mal com a expressão bíblica: «Está
escrito!», reafirmando-a todo tempo em face de distorções sugeridas como
propostas indecentes pelo arqui-inimigo do ser humano. E, quando a disputa se
tornou mais rígida, não deixou de dizer ao diabo a frase lapidar da sua
tentação: «Também está escrito!». «Também está escrito» para aqueles
que ousam interpretar voluntariosamente a Bíblia de forma incorreta e
distorcida. «Também está escrito» para aqueles que imaginam que
citar algum texto da Bíblia seja o suficiente para radicalizar seus pontos de
vista. «Também está escrito» para aqueles que tomam o caminho da
ideia absoluta, dogmática, fechada, fanatizada, um tipo de fundamentalismo sem
contraditório. «Também está escrito» para intérpretes bíblicos que fazem
o caminho da “particular interpretação”.
Digo assim porque com a expressão «está
escrito» pode-se dizer o que quiser, até mesmo propagar os mais profundos
equívocos na área da interpretação bíblica; o «está escrito» dito por um
neófito, pode provocar conceitos descabidos, incoerentes, inconvenientes,
inoportunos e mortais; o «está escrito» mal empregado pode gerar igrejas
mórbidas, opressoras e oprimidas, igrejas que medem a espiritualidade de uma
pessoa pela proteção ou não que ela tenha de Deus.
Ninguém tem todo poder em relação à
verdade, mesmo que fale a partir do que «está escrito», porque isso o
tornaria onipotente, divino.
O que eu estou tentando passar para
vocês, nesta noite, é que a resposta de Jesus, o maior de todos os intérpretes
das Sagradas Escrituras, a esta sórdida proposta de satanás é que, mesmo
que alguém afirme que «está escrito», sempre haverá um «também está
escrito» da parte de Jesus. Ou seja: haverá sempre um «também
está escrito» para quem diz «está escrito» sem base, sem contexto, sem
coerência, sem lastro histórico, sem maturidade, sem profundidade, sem
responsabilidade, sem critério, sem discernimento, sem prudência, sem humildade,
sem princípio, meio e fim, sem teologia...
Para cada pedalada hermenêutica no uso
irresponsável do «está escrito» que se pretenda absoluto, dogmático,
autoritário, categórico, imperativo, sentencioso, equivocado, mal
interpretado, isolado, há sempre um «também está escrito» para
chamar a atenção daqueles que se embrenham pela radicalização de um só
versículo e ainda mal interpretado.
Jesus, o maior de todos os intérpretes
da Bíblia, não permitiu que se fizesse a expropriação do conteúdo da Palavra de
Deus. Aliás, é dele a mais contundente das afirmações sobre a Palavra de Deus,
a Bíblia Sagrada: «... a tua palavra é a verdade».
Lutou, como ninguém, contra ferozes
manipuladores da religião, e nos deixou o maior de todos os legados: a
liberdade.
Certa vez foi encontrado por uma
pessoa que o pegou lendo o Novo Testamento para sua filha e imediatamente o
interpelou:
– «Que é isso Rousseau? Você
que se proclama incrédulo, cético, está ensinando o Evangelho à sua filha»?
Ele então responde:
– «Meu amigo, se você tem alguma coisa
melhor que o Evangelho para ler, faça o obséquio de me mostrar».
Deixo-lhes uma última palavra, que é
uma das minhas frases baseadas na luta de Jesus no deserto:
«A liberdade é e sempre será maior do
que o pão».
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