quinta-feira, 2 de junho de 2016

O «JESUS» QUE NEM JESUS CONHECE

            



Há um «jesus» popularizado pela religião que nem Jesus conhece.
 
A informação acima não é nova quando se trata de Cristologia. Os cristos caricaturados, fisiculturados nas telas de nossas tvs, nos filmes, na literatura e nas próprias apresentações que as igrejas fazem da imagem de Cristo alguma coisa que não bate com a revelação das Escrituras. O resgate da imagem perdida do Jesus das Escrituras é o desafio-tarefa deste trabalho.  

 

O «jesus» QUE NEM JESUS CONHECE

 
          Concordo plenamente com certo escritor quando diz que, «em matéria de religião, o ‘ídolo’ disfarçado em Deus é pior do que o diabo».
 
O Jesus dos evangelhos nunca desejou criar uma religião, outra religião, uma religião verdadeira ou mais uma religião. Na ver­­dade, os primeiros cristãos foram chamados «os do caminho». A razão é simples: Jesus se preocupava com a vida, o perdão, o amor, elementos que humanizam o homem, alvo de sua pregação. Paradoxalmente, a men­­­­­­sagem de Jesus, no primeiro século, soou como uma mensagem SECULAR dentro de um mundo possuído pela RELIGIÃO.

 
Precisamos recordar que os primeiros cristãos eram chamados de ateus, por não adorarem as divindades ali existentes. Isto posto, mais uma vez o desafio é colocado para nós. Portanto, ou humanizamos a nossa mensagem com vistas a alcançar o homem, ou vamos perder a grande chance de transformar o homem religioso em apenas um ser humano, pois a tendência do «homem religioso» é separar-se do «homem comum», mas o «homem-sim­­­­plesmente-humano» consegue se aproxi­­mar do homem comum, sem nenhum tipo de precon­­ceito e pré-julgamento.

 
Perguntaram uma vez a um grande professor de teologia sobre o que ele achava da sociedade humana que, mesmo vivendo no século XXI, ainda se deixava influenciar pelo fanatismo e fundamentalismo. Sua resposta foi precisa: «Eu é que pergunto: ‘Como podem existir pessoas que pensem diferente disso tudo que está aí e que é tão comum a todos os homens, num mundo tão cheio de fundamentalismo e fanatismo’?» 
 
A lembrança de Jesus não é uma tentação de historicismo, uma espécie de saudade do passado, mas uma necessidade para assegurar a autenticidade do querigma. Sem um retorno ao passado pa­­­­ra encontrar o próprio fundamento, a cristologia se dissolve, tornando-se mera eclesiologia, simples pneumatologia ou uma inexpressiva antropologia. O Evangelho dos evangelistas é uma proteção para o evangelho do querigma. O Jesus da história impede o Cristo proclamado de tornar-se um mito, uma gnose, uma ideologia. A referência a Jesus pro­­­­tege o querigma da ameaça do subjetivismo.

 
É preciso desmistificar, entre outras coisas, a forma cúltica de apresentação de um Cristo de fabricação humana, personagem da alegria dos homens. O «Jesus histórico» que foi trocado pelo «Cristo da fé», absolutamente mediocrizado e devorado por uma religião mercadológica e consumista, precisa voltar as telas humanas. Conquanto entendamos que os contornos histórico de Jesus, às vezes recheados de especu­­­­­­lação, quase sempre não batam com os sentidos dados ao «Cristo da Fé» pela nossa frágil dogmática, não há como separar o «Cristo da fé» do «Jesus histórico». Se­­­­­­gundo a opinião de diversos teólogos e cientistas da religião, as duas coisas podem muito bem se harmonizar, sem que precisemos anular a prova histórica dos evan­­­­­­gelhos, mesmo com todos os retoques teológicos, românticos que sabemos existir.

 
O QUE FIZERAM COM JESUS

 
Quem lê os evangelhos de Jesus, segundo a ótica de Marcos, Mateus e Lucas, há de refazer toda a sua ideia acerca daquele que foi chamado Filho de Deus, Filho do Homem, Jesus Cristo, Jesus de Nazaré, Salvador, Senhor, Filho do Altíssimo, Emanuel, Filho de Davi...

 
A bem da verdade, as interpretações que a Igreja, ao longo desses dois milênios, veio fazendo acerca de Jesus, foram descaracterizando o simples carpinteiro da Galileia. Constantino, imperador romano, por exemplo, cria a famigerada «Teologia do Cristo-Rei», uma reinterpretação do ambiente social em que Jesus viveu com seus pais e parentes. Nesta visão, a manjedoura é substituída por uma recâmara real; José e Maria viram membros da realeza; os trapos em que Jesus foi envolvido tornam-se roupas reais. A partir desta ideia, Jesus vai sendo afastado do homem comum e ganhando feições magníficas, majestáticas, augustas. A simplicidade do Filho de Deus é modificada por imagens pujantes, grandiosas, pomposas. Ao final, Jesus é cooptado pelo religiosismo que Ele deu a sua vida para combater. Passa a censurar, rejeitar, julgar, incriminar, sentenciar, condenar o homem, alvo do seu amor, quando Ele veio, segundo os evangelhos, para perdoar pecados, salvar, libertar e anunciar as boas novas. Não nos esqueçamos que «o machado» estava nas mãos de João, o último a fazer como os profetas do Antigo Testamento, nas mãos de Jesus estava o amor, a misericórdia, a graça e a promessa de jamais «torcer a cana esbagaçada» e «apagar o pavio que ainda fumega».

 
Sem conhecer o Filho de Deus, segundo os evangelhos, nossa noção de certo e errado, verdadeiro e falso, santo e profano se perde na mais profunda escuridão do fanatismo religioso.
 
Não é possível ver o Jesus dos evangelhos sendo apresentado da forma mais intolerante, intransigente pelas igrejas atuais. Um Jesus que se transforma num xerife perseguidor, sempre atrás das portas para nos pegar em erros recorrentes e nos condenar. Um Jesus que só pensa em descobrir pecados ocultos nos homens; um Jesus sem o mínimo de critério para julgar cada caso. Um Jesus que depende mais de quem o interpreta do que de si mesmo. Este verdadeiramente é o «jesus» que nem Jesus conhece.  
 
Não precisamos tanto de intérpretes de Jesus quanto precisamos de quem se arrisque a viver os desafios que Ele deixou de exemplos para serem imitados.


Σ 'Αυτόν, ο Ιησούς, είναι η δόξα στους αιώνες. Αμήν.
Rev. Paulo Cesar Lima.

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