TRAÍDOS PELA PRÓPRIA TRAIÇÃO
«Na noite em que foi traído, tomou o pão...»
(1 Co 11. 23).
Alguns homens lutam a luta da vida com uma
queixada de jumento; outros lutam com funda, espada, cajado; alguns preferem
carros, cavalos, lanças, escudos, exército; e há aqueles que lutam com o que
têm nas mãos. Jesus foi o único que enfrentou o pior momento da sua história –
a traição – com um pão partido nas mãos.
A traição é uma das experiências mais
dolorosas, sofridas, doídas, angustiantes que um ser humano pode passar em toda
sua vida; é uma marca que adesiva uma existência; ela dói muito porque quem a
comete é, geralmente, alguém muito próximo, acima de qualquer suspeita, sua
proximidade é da distância de um abraço amigo, solidário e confidente; o que
trai é sempre alguém de quem esperamos lealdade, sinceridade, verdade e honra.
A traição, comumente, advém de coração invejoso, magoado, solitário, infeliz,
mal resolvido.
Quem trai o faz porque ama um amor não
correspondido, negado, distante... O que o traidor ama, de fato, é a imagem, o
símbolo, a representação.
Falando de
traidores e amigos de verdade, disponibilizo, abaixo, algumas diferenças entre
o traidor e o amigo. Senão, vejamos:
1. O traidor «carrega» segredos, mas não aguenta e trai; o amigo
«guarda» o sagrado e jamais se presta à infidelidade.
2. O traidor, com o passar do tempo,
transforma-se em justiceiro; o amigo faz da amizade o seu escudo de justiça.
3. O traidor coleta informações para utilizá-las
contra o amigo; o amigo não trabalha com provas e nem se vale disso para se
garantir.
4. O traidor beija e trai; o amigo pelo fato de
não trair é beijado pela honra e pela gratidão.
5. O traidor, mesmo consciente da sua insensatez,
segue o seu destino que é trair; o amigo é amigo porque a sua essência, o seu
dever, o seu querer, o seu estado normal é esse.
6. O traidor acena com as mãos, abraça, faz-se
solícito em todas as tarefas, mas o veneno da traição, que está no seu coração,
é mais forte do que ele mesmo; o amigo, ao contrário, isola-se de cenas
ostensivas e prefere o anonimato ao estrelato.
7. O traidor é impulsivo porque ele sempre acha
que está fazendo um bem para a humanidade ao trair; o amigo não quer ser mais
nada a não ser amigo.
8. O traidor não admite que o seu «amigo» cresça
tanto que termine ficando longe dos seus domínios; para o amigo é melhor que o
outro cresça e que ele diminua.
9. Traidor é alguém sem honra, dignidade, amor
próprio, brio, respeito a si mesmo, honestidade, decência; amigo não abre mão
de valores fundamentais para manter sua amizade.
10. O traidor é capaz de debulhar, desnudar a
vida de quem diz que respeita; o amigo, por sua vez, está sempre cobrindo, à
semelhança de Sem e Jafé, a nudez daquele que é alvo do seu respeito e carinho.
Conclusão:
A cada dia que passa entendo mais a direção do
Senhor para a Catedral da Assembleia de Deus em Jardim Primavera. Há uma crise
de integridade em nossa região; as pessoas andam confusas com tantas vozes e
promessas, mas sem nenhuma consistência. Nestes onze anos de pastorado à
frente da Catedral em Jardim Primavera, Deus está preparando a igreja para ser
um modelo de Comunidade de Jesus em meio a tantas que existem ao nosso redor e
mostrar que é possível viver Mais Jesus e Menos Religião com o mínimo de
esforço ético. Só assim abandonaremos de vez a mesquinhez evangélica para nos
apegarmos a uma visão mais abrangente e revolucionária. Esse é o nosso lema:
«Estamos ocupados fazendo uma grande obra; de modo que não podemos descer».
Termino esta pequena reflexão com as palavras encontradas em provérbios:
«O fruto do justo é árvore de vida, e o que
‘ganha almas’ [= o que faz um amigo] é sábio» (Provérbios 11.30).
Rev. Paulo Cesar Lima.