quarta-feira, 22 de abril de 2015

A FAMÍLIA FRENTE AO CONSUMISMO



A FAMÍLIA FRENTE AO CONSUMISMO

Muitas famílias, talvez a maioria, são levadas pelo forte estímulo de uma propaganda “bem bolada” a querer possuir aquilo que não podem. Começam a ficar indóceis, irrequietas. Aí, então é que surgem as “vantajosas prestações” facilitando todas as coisas.


E não vos confor­meis com este mun­do, mas transfor­mai-vos pela reno­vação do vosso entendi­mento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2).

O esquema de vida implantado  pela sociedade de consumo vem se tornando cada vez mais hostil e mais difícil para a sobrevivência do ser huma­no. Tanto o indivíduo como a família têm sido usados como cobaias para as mais diferentes experiências do programa empresarial hodierno, que tem como objetivo único tornar o maior número possível de seres humanos num alvo passivo e, daí, em potenciais consu­­midores.

A verdade é que só nos apercebe­mos que estamos sendo arrasta­dos pela cor­renteza do consumismo mo­derno, quan­­do somos surpre­endidos, as mais das vezes, praticando aquilo que nunca imaginamos praticar; com­prando o que nunca desejamos com­prar, e vivendo um tipo de vida que jamais almejamos viver. Aí, então, nos assustamos. A rigor, isto acontece de forma muito sutil e bem esquematiza­da, de modo a não deixar pistas nega­tivas aos clientes e nem decepcioná-los ou inibi-los.

A socióloga M.B. L. Della Torre, autora do livro O Homem e a Sociedade, analisa as sugestões por trás de cada propaganda. Segundo ela, sugestão é também cópia, mas cópia de ideias. Na sugestão há comuni­cação de ideias, geralmente aceitas sem maior exame ou crítica. Essas são comunicadas, ou por ideias (expressas ou não), ou fazendo apelo para sentimentos e emoções. Continuando, a socióloga diz que na análise da sugestão deve-se considerar: a) o prestígio ou ascen­dência do agente e b) a sugestionabilidade do paciente. Para Della Torre só nos deixamos suges­tionar  por quem possui ascendência, prestígio sobre nós. É baseada nisso que a socióloga diz que a propaganda lança mão de “ídolos do povo” para alcan­çar seus fins. O paciente é mais ou menos suges­tionável, dependendo de certas variáveis como idade, tempera­mento, conhecimentos deficientes, desejos insatisfeitos. A criança deixa-se suges­tionar mais facilmente que o adulto; o primitivo, mas do que o civi­lizado. As pessoas de temperamento nervoso ou impulsivo, são geralmente mais propensas à sugestão. Somos mais propensos a deixar-nos levar por ideias, das quais possuímos conheci­mento deficiente, por não dispormos de base para nos opor. Toda proposta que acene a uma de nos­­sas aspirações, consciente ou in­conscientemente, é recebida geralmente sem demora e sem crítica.

O grau de sugestionabilidade, con­forme parecer da socióloga Dalle, varia no mesmo indivíduo de acordo com o momento. A fadiga nos deixa propensos a aceitar ideias com mais passividade. Em momentos de exci­tação coletiva, como na multidão ati­va, os indivíduos precisam de forte espírito crítico para rea­gir à sugestão.

Alfred M. Lee e Elizabeth B. Lee, citados pela socióloga Della Torres, ana­­lisam os instrumentos usuais de propaganda classificando-as em sete tipos principais:(2)

a. Qualitativo. Consiste em referir-se ao adversário usando termos com cono­­tação negativa: “quadrado”, “bitolado”, “caipira”.
b. Generalidades brilhantes. Emprega-se um tipo de conceito universal­­mente bem aceito: “beleza femi­nina”, “juventude”, “felicidade”.
c. Transferência. Associa-se uma ideia ou coisa a uma pessoa, imagem ou símbolo reverenciado: “John Kennedy”, “criança-flor”.
d. Testemunho. Menciona-se a aprovação de uma ideia ou objeto por uma pessoa de grande prestígio: artis­­ta famoso, líder popular, atleta de fa­­ma.
e. Popularidade. Assumem-se atitudes simpáticas ao público. Mostra-se, por exemplo, amigo dos pobres, protetor dos infelizes.
f. Jogo marcado. Mencionam-se de  maneira exageradamente favorável as     virtudes de uma pessoa ou objeto, omitindo-se os pontos negativos. Exemplo: “Tal remédio cura todas as doenças”.
g. Adesionismo. Espalha-se a ideia de que o mundo faz ou usa deter­minada coisa. Exemplo: “Se você ain­­da não comprou o produto X”. Há ainda muitos outros instrumentos de propaganda, e dia a dia novas técnicas publicitárias são aperfeiçoadas.

Os governos vêm discutindo sobre a validade ética do emprego de propaganda subliminar. Trata-se de uma téc­­nica em que o indivíduo não tem ciência de estar sendo estimulado a consumir determinado produto ou a adotar certa atividade ou compor­tamento com relação a alguma ideo­logia, grupo, etc. Na tv e no cinema, esta técnica sutil con­siste em lançar de­terminada imagem durante algum programa ou filme. A imagem aparece na tela como um relâmpago, em frações de segundo. Embora a pessoa raramente perceba, a imagem se fixa em seu in­consciente. Foi feito um teste num cinema, projetando-se a imagem de um refrigerante X, várias vezes durante o filme. Na saída da sessão, distribuíram-se refrigerantes da mes­­ma marca X e Y. O resultado foi espantoso: a maioria do público “pre­­feriu” o refrigerante X. E esta é apenas uma das técnicas da propaganda subliminar.

ÍDOLOS DE PAPEL

Hoje, com a chamada valorização humana, está bem patente a todo o em­­presário que o “filão” do mercado é di­­rigir o impulso principal da publi­cidade para um traço inerente da natureza humana, o orgulho. Basta examinar as revistas e observar os anúncios coloridos que tomam a página. São verdadeiros ídolos de papel. Muitas vezes tais propagandas não se referem à utilidade do artigo por eles apre­sentado, mas ao or­gulho do comprador. “Pense na satisfação que vai sentir quando seus amigos olharem, invejosos, o seu novo carro, sua nova cozinha, seu novo iate”, diz a propaganda. E os quadros visuais apresentam também a expressão de inveja nos rostos dos ami­­gos, a quem está sendo mostrada uma casa nova, com todas as instalações elegantes e dispositivos embutidos. Foi Bacon quem afirmou: “A felicidade dos grandes não consiste em sentir que sejam realmente felizes, mas em compreender como os outros acham que devem ser felizes.”

Assim é que vemos gente entediada desfilando em veículos elegantes, não que esteja procurando oportunidades de fazer qualquer contribuição à sociedade, mas pondo-se à vista para que outras pessoas a admirem. Diz Billy Graham que o orgulho não está em querer ser rico, mas em querer ser mais rico do que o vizinho. Não é querer ser notado, mas querer ser o mais notado. Não é querer ter as coi­sas, mas querer ter mais coisas do que os outros.

MÁQUINAS DE PRODUZIR SONHOS

“Nós criamos o sonho e eles compram a ilusão”, disse em uma de suas aulas um professor de Comunicação e Expressão.

Com imagens requintadas, encantadoras, multicoloridas, cheias de sonhos e com frases curtas e bem elaboradas como “Momentos felizes começam com um presente feliz”, “Coma bem e ainda economize”, “Ande na moda com o esportivo estilo europeu”, “Seguro é com o corretor”, “Não sonhe com a realidade”, “Aproveite o seu apetite para conquistar uma imensa fatia do mercado”, “Agora você vai se apaixonar”, “UNIQUE, acaba com o sorriso amarelo de fumantes”, “A nova moda que está conquistando o mundo”, “O seu so­nho virou realidade”, etc. entra em cena, qual avalancha incontida, o consumismo moderno, enchendo os olhos dos incautos, com o escopo de fazê-los sonhar, divagar, pois assim não se lembrarão das suas misérias, e necessidades presentes. Essas má­quinas têm o poder de transportar as pessoas, de uma amargura presente, para um futuro utópico e cheio de ilusões. É o mundo das fantasias. Muitas famílias, na tentativa de es­capar das pressões, opressões e depressões do mundo presente, co­meçam a viver uma vida de sonhos e devaneios, que no final serão os mais terríveis pesadelos.

Dentre uma gama muito grande de máquinas produtoras de sonhos, des­taca-se em primeiríssimo lugar a TV. Stanislaw Ponte Preta, famoso humorista carioca, chamava a televisão de “a máquina de fazer doidos”. Um físico alemão, em sua análise sobre o assunto, diz que a televisão forma e deforma caráter.

De fato, é precisamente com ela que a sociedade de consumo trabalha fe-rozmente, aplicando suas mais modernas técnicas aliadas às mais recentes conquistas das ciências humanas e sociais, a fim de abarrotar o mercado com os seus diversificados produtos. O consumismo, com as suas sugestões e propostas, arrasta para dentro dos lares, em fração de segundos, todos os maus hábitos, tiques nervosos, vícios diversos, modas extravagantes, etc., condicionando, assim, a família, o grande re­­ceptáculo destes produtos, a um “modus vivendi” conforme os moldes impingidos, pelo sistema. E é aqui, exatamente aqui, onde começa a inin­terrupta busca do homem pelo ter, pelo possuir.

Podemos dizer que a família atual, sob os efeitos da hipnose das publicidades do consumismo, corre celeremente para a sua completa desestabilização moral e social. E o pior de tudo é que não exis­­­te no léxico da sociedade de consumo o verbo parar. A ordem suprema é: “To­dos devem ser alcançados (do bebê recém-nascido até o homem mais idoso), custe o que custar!”

No desespero de vender suas marcas, patentes, etiquetas, etc., as empresas têm gastado quantias vultuosas em propaganda. Por exemplo, para quem fuma uma marca X de cigarros, ele se depara com cenas belíssimas e ao mesmo tempo requintadas no fundo do vídeo. Já as marcas inferiores, são ilus­­tradas com cenários rústicos e sinuosos, com vistas a atingir o homem mais po­­bre.

A verdade é que neste grande mercado dos sonhos, a família se torna a grande consumidora de ilusões, que não lhe trazem nenhuma compensação real, pois tornam-se em verdadeiras desgra­­ças o que se vê, em muitos casos, é um acúmulo de dívidas sobre dívidas, que levam a família à ruína.

O escritor e sociólogo Eric From, escreveu um livro intitulado Ser versus Ter, onde fala sobre o porquê das depressões e das frustrações do homem moderno. Ele diz que o homem atual mudou completamente o seu comportamento. Antes, sempre queria ser alguma coisa; agora, procura, descontroladamente, ter alguma coisa.

Aproveitando-se desta ano­malia no comportamento humano, o consumismo moderno, aparamentado com suas etiquetas, “slogans”, sugestões, sons estonteantes e requintes, vem aliciando e enlaçando seus consumidores de todos os níveis e idades. Ninguém escapa aos seu encantos.­ Ele apresenta-se, à seme­­lhança de uma enorme aranha, a mover-se em suas tenebrosas teias, a fim de prender suas vítimas para o golpe fatal.
A verdade é que muitas famílias, talvez a maioria, são levadas pelo forte estímulo de uma propaganda “bem bolada” a querer possuir aquilo que não podem. Começam a ficar indóceis, irre­­quietas. Aí, então, é que surgem as “van­tajosas prestações” facilitando as coisas, inclusive sem entrada e sem juros. Tudo muito bem esquematizado e programado. Mas a realidade é que estas “vantagens” não passam de “iscas” para agarrar os incautos em duras e intermináveis dívidas. Lembre-se, as famílias evangélicas, que nós não podemos nos deixar levar pelo espírito deste século. Disse o nosso amado mestre: “Não andeis cuidadosos [ansiosos]  quanto à nossa vida, pelo que haveis de comer ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais que o mantimento, e o corpo mais do que o vestido? Mas buscais primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos serão acrescentadas” ( Mt 6.25,33).

ENFEITANDO O PAVÃO

Embora sendo um pouco reprimida pelo problema socioeconômico e sabendo que o mercado não está propício, a sociedade de consumo não perde tempo nem espaço, para enfeitar muito bem o “seu pavão”.

Nesta corrida em busca do ouro, isto é, pela conquista do mercado, não há escrúpulos, não se pensa em padrões  morais, em família, em bom senso. A meta prioritária é aliciar, vender o que for lucrativo, enlaçar os consumidores, tantos quantos possíveis. Os empresários, via de regra, lançam mão das técnicas mais sutis e requintadas para, a todo custo, atingir os seus objetivos, sem contudo preocuparem-se com o aspecto nocivo que certos produtos podem trazer ao homem e à família.

Uma importante revista apresenta o anúncio onde se lê um parágrafo revelador: “A automatização, o uso da eletrônica para dirigir máquinas, irá encher seu lar de surpresas. Irão olhos mágicos iluminar todas as peças da casa. Você virá a possuir um piano portátil, relógios elétricos com fio e telefones onde se fala sem ser preciso tirar o receptor do gancho. Descubra como esse novo e emocionante acontecimento poderá tornar mais feliz a sua vida.

Pergunto: Estaria a felicidade reduzida a pianos portáteis e ao piscar de o­lhos mágicos?

Mas aí está o consumismo moderno, incontrolado, impulsivo, a despejar sobre os lares todo o seu lixo.

NÃO VOS CONFORMEIS COM O MUNDO

Estando agora a par de todas as manobras da sociedade de consumo e dos múltiplos enganos, toda a família cristã, como parte única na busca da conservação dos valores morais, deve atentar para os conselhos do apóstolo Paulo exarados nas Escrituras: “Não vos conformeis com este mundo”. A palavra “não vos conformeis”, no grego, susxhmati/zese indica a modelagem segundo um determinado padrão, em que uma coisa toma a forma de ou­­tra, adquirindo o seu caráter, me­­­diante alguma influência ou poder exterior. Significa “moldar de confor­midade com”. É possível que o verbo “confor­­mar-se” (no grego, schema) seja contrastado com o vocábulo grego “morphê”, que é a raiz da palavra que pode ser traduzida por “transformar”.

A ideia aqui é a de que o mundo tem um esquema de vida e que a família cristã não pode viver dentro ou conformada nele. A razão por que muitas famílias não conseguem uma grande transformação é exatamente esta. Poderíamos, pois, dizer: “Não vos esquematizeis com este mundo”, ou: “Não andeis nos esquemas de vida deste mundo”. O esquema de vida do mundo abrange todos os ângulos da vida. O mundo dita normas para a religião, família, governo, moral, sexo, educação, e para tudo mais. Quando uma pessoa é salva por Cristo e continua, ainda que não completamente, vivendo segundo o esquema de vida ditado pela sociedade de consumo, a transformação de Cristo não se processa satisfatoriamente em sua vida.

O crente não pode viver a vida cristã acompanhando o esquema de vida do mundo, porque este mundo (a humanidade e o sistema de vida) inteiro­ “jaz no maligno” (1 Jo 5.19). João usou o verbo “jazer”, que tem a ideia de estar deitado, como morto.

O apóstolo Paulo ainda nos exorta: “Nos quais andaste outrora, segundo o curso deste mundo.” A palavra “mundo” aqui neste texto e em muitos outros na Escritura, significa sistema de vida da humanidade sem Cristo. A expressão “curso deste mundo”, é de um poder tão forte que arrasta a tudo que está no seu curso, como quando as águas de uma grande represa rompem a barragem. Qualquer pessoa no curso é arrastada. Milhares de famílias cristãs não conseguem ficar livres da correnteza. O único modo de vencer o mundo, mormente o consumismo moderno, é conhecer o modo de vida segundo Deus, exarado na Bíblia Sagrada.

É necessário que todas as famílias cristãs, nesta hora de tantos ataques diabólicos, se curvem, em oração, aos pés do Filho de Deus, para ouvir a sua petição ao Pai: “Não peço que o tires do mundo; e, sim, que os guardes do mal [maligno, no original]” (Jo 17.15).


Rev. Paulo Cesar Lima. 

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