A FAMÍLIA FRENTE AO
CONSUMISMO
Muitas famílias, talvez a
maioria, são levadas pelo forte estímulo de uma propaganda “bem bolada” a
querer possuir aquilo que não podem. Começam a ficar indóceis, irrequietas. Aí,
então é que surgem as “vantajosas prestações” facilitando todas as coisas.
E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos
pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa,
agradável, e perfeita vontade de Deus” (Romanos 12:2).
O esquema de vida implantado
pela sociedade de consumo vem se tornando cada vez mais hostil e mais
difícil para a sobrevivência do ser humano. Tanto o indivíduo como a família
têm sido usados como cobaias para as mais diferentes experiências do programa
empresarial hodierno, que tem como objetivo único tornar o maior número
possível de seres humanos num alvo passivo e, daí, em potenciais consumidores.
A verdade é que só nos apercebemos que estamos sendo arrastados
pela correnteza do consumismo moderno, quando somos surpreendidos, as mais
das vezes, praticando aquilo que nunca imaginamos praticar; comprando o que
nunca desejamos comprar, e vivendo um tipo de vida que jamais almejamos viver.
Aí, então, nos assustamos. A rigor, isto acontece de forma muito sutil e bem
esquematizada, de modo a não deixar pistas negativas aos clientes e nem
decepcioná-los ou inibi-los.
A socióloga M.B. L. Della Torre, autora do livro O
Homem e a Sociedade, analisa as sugestões por trás de cada propaganda. Segundo
ela, sugestão é também cópia, mas cópia de ideias. Na sugestão há comunicação
de ideias, geralmente aceitas sem maior exame ou crítica. Essas são
comunicadas, ou por ideias (expressas ou não), ou fazendo apelo para
sentimentos e emoções. Continuando, a socióloga diz que na análise da sugestão
deve-se considerar: a) o prestígio ou ascendência do agente e b)
a sugestionabilidade do paciente. Para Della Torre só nos
deixamos sugestionar por quem possui
ascendência, prestígio sobre nós. É baseada nisso que a socióloga diz que a
propaganda lança mão de “ídolos do povo” para alcançar seus fins. O paciente é
mais ou menos sugestionável, dependendo de certas variáveis como idade,
temperamento, conhecimentos deficientes, desejos insatisfeitos. A criança
deixa-se sugestionar mais facilmente que o adulto; o primitivo, mas do que o
civilizado. As pessoas de temperamento nervoso ou impulsivo, são geralmente
mais propensas à sugestão. Somos mais propensos a deixar-nos levar por ideias,
das quais possuímos conhecimento deficiente, por não dispormos de base para
nos opor. Toda proposta que acene a uma de nossas aspirações, consciente ou
inconscientemente, é recebida geralmente sem demora e sem crítica.
O grau de sugestionabilidade, conforme parecer da socióloga Dalle,
varia no mesmo indivíduo de acordo com o momento. A fadiga nos deixa propensos
a aceitar ideias com mais passividade. Em momentos de excitação coletiva, como
na multidão ativa, os indivíduos precisam de forte espírito crítico para reagir
à sugestão.
Alfred M. Lee e Elizabeth
B. Lee, citados pela socióloga Della Torres, analisam os
instrumentos usuais de propaganda classificando-as em sete tipos principais:(2)
a. Qualitativo. Consiste em referir-se ao adversário
usando termos com conotação negativa: “quadrado”, “bitolado”, “caipira”.
b. Generalidades brilhantes. Emprega-se um tipo de
conceito universalmente bem aceito: “beleza feminina”, “juventude”,
“felicidade”.
c. Transferência. Associa-se uma ideia ou coisa a uma
pessoa, imagem ou símbolo reverenciado: “John Kennedy”, “criança-flor”.
d. Testemunho. Menciona-se a aprovação de uma ideia ou
objeto por uma pessoa de grande prestígio: artista famoso, líder popular,
atleta de fama.
e. Popularidade. Assumem-se atitudes simpáticas ao
público. Mostra-se, por exemplo, amigo dos pobres, protetor dos infelizes.
f. Jogo marcado. Mencionam-se de maneira exageradamente favorável as virtudes de uma pessoa ou objeto,
omitindo-se os pontos negativos. Exemplo: “Tal remédio cura todas as doenças”.
g. Adesionismo. Espalha-se a ideia de que o mundo faz
ou usa determinada coisa. Exemplo: “Se você ainda não comprou o produto X”.
Há ainda muitos outros instrumentos de propaganda, e dia a dia novas técnicas
publicitárias são aperfeiçoadas.
Os governos vêm discutindo sobre a validade ética do emprego
de propaganda subliminar. Trata-se de uma técnica em que o indivíduo não tem
ciência de estar sendo estimulado a consumir determinado produto ou a adotar
certa atividade ou comportamento com relação a alguma ideologia, grupo, etc.
Na tv e no cinema, esta técnica sutil consiste em lançar determinada imagem
durante algum programa ou filme. A imagem aparece na tela como um relâmpago, em
frações de segundo. Embora a pessoa raramente perceba, a imagem se fixa em seu
inconsciente. Foi feito um teste num cinema, projetando-se a imagem de um
refrigerante X, várias vezes durante o filme. Na saída da sessão,
distribuíram-se refrigerantes da mesma marca X e Y. O resultado foi
espantoso: a maioria do público “preferiu” o refrigerante X. E esta é apenas
uma das técnicas da propaganda subliminar.
ÍDOLOS DE PAPEL
Hoje, com a chamada valorização humana, está bem patente a
todo o empresário que o “filão” do mercado é dirigir o impulso principal da
publicidade para um traço inerente da natureza humana, o orgulho. Basta
examinar as revistas e observar os anúncios coloridos que tomam a página. São
verdadeiros ídolos de papel. Muitas vezes tais propagandas não se referem à
utilidade do artigo por eles apresentado, mas ao orgulho do comprador. “Pense
na satisfação que vai sentir quando seus amigos olharem, invejosos, o seu
novo carro, sua nova cozinha, seu novo iate”, diz a propaganda. E os quadros
visuais apresentam também a expressão de inveja nos rostos dos amigos, a quem
está sendo mostrada uma casa nova, com todas as instalações elegantes e
dispositivos embutidos. Foi Bacon quem afirmou: “A felicidade dos
grandes não consiste em sentir que sejam realmente felizes, mas em compreender
como os outros acham que devem ser felizes.”
Assim é que vemos gente entediada desfilando em veículos
elegantes, não que esteja procurando oportunidades de fazer qualquer
contribuição à sociedade, mas pondo-se à vista para que outras pessoas a
admirem. Diz Billy Graham que o orgulho não está em querer ser rico, mas
em querer ser mais rico do que o vizinho. Não é querer ser notado, mas querer
ser o mais notado. Não é querer ter as coisas, mas querer ter mais coisas do
que os outros.
MÁQUINAS DE PRODUZIR SONHOS
“Nós criamos o sonho e eles compram a ilusão”, disse em uma
de suas aulas um professor de Comunicação e Expressão.
Com imagens requintadas, encantadoras,
multicoloridas, cheias de sonhos e com frases curtas e bem elaboradas como
“Momentos felizes começam com um presente feliz”, “Coma bem e ainda economize”,
“Ande na moda com o esportivo estilo europeu”, “Seguro é com o corretor”, “Não
sonhe com a realidade”, “Aproveite o seu apetite para conquistar uma imensa
fatia do mercado”, “Agora você vai se apaixonar”, “UNIQUE, acaba com o sorriso
amarelo de fumantes”, “A nova moda que está conquistando o mundo”, “O seu sonho
virou realidade”, etc. entra em cena, qual avalancha incontida, o consumismo
moderno, enchendo os olhos dos incautos, com o escopo de fazê-los sonhar, divagar,
pois assim não se lembrarão das suas misérias, e necessidades presentes. Essas
máquinas têm o poder de transportar as pessoas, de uma amargura presente, para
um futuro utópico e cheio de ilusões. É o mundo das fantasias. Muitas famílias,
na tentativa de escapar das pressões, opressões e depressões do mundo
presente, começam a viver uma vida de sonhos e devaneios, que no final serão
os mais terríveis pesadelos.
Dentre uma gama muito grande de
máquinas produtoras de sonhos, destaca-se em primeiríssimo lugar a TV. Stanislaw
Ponte Preta, famoso humorista carioca, chamava a televisão de “a máquina de
fazer doidos”. Um físico alemão, em sua análise sobre o assunto, diz que a
televisão forma e deforma caráter.
De fato, é precisamente com ela que a
sociedade de consumo trabalha fe-rozmente, aplicando suas mais modernas
técnicas aliadas às mais recentes conquistas das ciências humanas e sociais, a
fim de abarrotar o mercado com os seus diversificados produtos. O consumismo,
com as suas sugestões e propostas, arrasta para dentro dos lares, em fração de
segundos, todos os maus hábitos, tiques nervosos, vícios diversos, modas
extravagantes, etc., condicionando, assim, a família, o grande receptáculo
destes produtos, a um “modus vivendi” conforme os moldes impingidos, pelo
sistema. E é aqui, exatamente aqui, onde começa a ininterrupta busca do homem
pelo ter, pelo possuir.
Podemos dizer que a família atual, sob
os efeitos da hipnose das publicidades do consumismo, corre celeremente para a
sua completa desestabilização moral e social. E o pior de tudo é que não existe
no léxico da sociedade de consumo o verbo parar. A ordem suprema é: “Todos
devem ser alcançados (do bebê recém-nascido até o homem mais idoso), custe o
que custar!”
No desespero de vender suas marcas,
patentes, etiquetas, etc., as empresas têm gastado quantias vultuosas em
propaganda. Por exemplo, para quem fuma uma marca X de cigarros, ele se depara
com cenas belíssimas e ao mesmo tempo requintadas no fundo do vídeo. Já as
marcas inferiores, são ilustradas com cenários rústicos e sinuosos, com
vistas a atingir o homem mais pobre.
A verdade é que neste grande mercado
dos sonhos, a família se torna a grande consumidora de ilusões, que não lhe
trazem nenhuma compensação real, pois tornam-se em verdadeiras desgraças o
que se vê, em muitos casos, é um acúmulo de dívidas sobre dívidas, que levam a
família à ruína.
O escritor e sociólogo Eric From,
escreveu um livro intitulado Ser versus Ter, onde fala sobre o
porquê das depressões e das frustrações do homem moderno. Ele diz que o homem
atual mudou completamente o seu comportamento. Antes, sempre queria ser alguma
coisa; agora, procura, descontroladamente, ter alguma coisa.
Aproveitando-se desta anomalia no
comportamento humano, o consumismo moderno, aparamentado com suas etiquetas,
“slogans”, sugestões, sons estonteantes e requintes, vem aliciando e enlaçando
seus consumidores de todos os níveis e idades. Ninguém escapa aos seu encantos.
Ele apresenta-se, à semelhança de uma enorme aranha, a mover-se em suas
tenebrosas teias, a fim de prender suas vítimas para o golpe fatal.
A verdade é que muitas famílias,
talvez a maioria, são levadas pelo forte estímulo de uma propaganda “bem
bolada” a querer possuir aquilo que não podem. Começam a ficar indóceis, irrequietas.
Aí, então, é que surgem as “vantajosas prestações” facilitando as coisas,
inclusive sem entrada e sem juros. Tudo muito bem esquematizado e programado.
Mas a realidade é que estas “vantagens” não passam de “iscas” para agarrar os
incautos em duras e intermináveis dívidas. Lembre-se, as famílias evangélicas,
que nós não podemos nos deixar levar pelo espírito deste século. Disse o nosso
amado mestre: “Não andeis cuidadosos [ansiosos] quanto à nossa vida, pelo que haveis de comer
ou pelo que haveis de beber; nem quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de
vestir. Não é a vida mais que o mantimento, e o corpo mais do que o vestido?
Mas buscais primeiro o reino de Deus, e a sua justiça, e todas estas coisas vos
serão acrescentadas” ( Mt 6.25,33).
ENFEITANDO O PAVÃO
Embora sendo um pouco reprimida pelo
problema socioeconômico e sabendo que o mercado não está propício, a sociedade
de consumo não perde tempo nem espaço, para enfeitar muito bem o “seu pavão”.
Nesta corrida em busca do ouro, isto
é, pela conquista do mercado, não há escrúpulos, não se pensa em padrões morais, em família, em bom senso. A meta
prioritária é aliciar, vender o que for lucrativo, enlaçar os consumidores,
tantos quantos possíveis. Os empresários, via de regra, lançam mão das técnicas
mais sutis e requintadas para, a todo custo, atingir os seus objetivos, sem
contudo preocuparem-se com o aspecto nocivo que certos produtos podem trazer ao
homem e à família.
Uma importante revista apresenta o
anúncio onde se lê um parágrafo revelador: “A automatização, o uso da
eletrônica para dirigir máquinas, irá encher seu lar de surpresas. Irão olhos
mágicos iluminar todas as peças da casa. Você virá a possuir um piano portátil,
relógios elétricos com fio e telefones onde se fala sem ser preciso tirar o
receptor do gancho. Descubra como esse novo e emocionante acontecimento poderá
tornar mais feliz a sua vida.
Pergunto: Estaria a felicidade
reduzida a pianos portáteis e ao piscar de olhos mágicos?
Mas aí está o consumismo moderno,
incontrolado, impulsivo, a despejar sobre os lares todo o seu lixo.
NÃO VOS CONFORMEIS COM O MUNDO
Estando agora a par de todas as manobras
da sociedade de consumo e dos múltiplos enganos, toda a família cristã, como parte
única na busca da conservação dos valores morais, deve atentar para os
conselhos do apóstolo Paulo exarados nas Escrituras: “Não vos conformeis com
este mundo”. A palavra “não vos conformeis”, no grego, susxhmati/zese indica a modelagem segundo um
determinado padrão, em que uma coisa toma a forma de outra, adquirindo o seu
caráter, mediante alguma influência ou poder exterior. Significa “moldar de
conformidade com”. É possível que o verbo “conformar-se” (no grego, schema)
seja contrastado com o vocábulo grego “morphê”, que é a raiz da palavra que
pode ser traduzida por “transformar”.
A ideia aqui é a de que o mundo tem um
esquema de vida e que a família cristã não pode viver dentro ou conformada
nele. A razão por que muitas famílias não conseguem uma grande transformação é
exatamente esta. Poderíamos, pois, dizer: “Não vos esquematizeis com este
mundo”, ou: “Não andeis nos esquemas de vida deste mundo”. O esquema de
vida do mundo abrange todos os ângulos da vida. O mundo dita normas para a
religião, família, governo, moral, sexo, educação, e para tudo mais. Quando uma
pessoa é salva por Cristo e continua, ainda que não completamente, vivendo
segundo o esquema de vida ditado pela sociedade de consumo, a transformação de
Cristo não se processa satisfatoriamente em sua vida.
O crente não pode viver a vida cristã
acompanhando o esquema de vida do mundo, porque este mundo (a humanidade e o
sistema de vida) inteiro “jaz no maligno” (1 Jo 5.19). João usou o
verbo “jazer”, que tem a ideia de estar deitado, como morto.
O apóstolo Paulo ainda nos exorta:
“Nos quais andaste outrora, segundo o curso deste mundo.” A palavra “mundo”
aqui neste texto e em muitos outros na Escritura, significa sistema de vida da
humanidade sem Cristo. A expressão “curso deste mundo”, é de um poder tão forte
que arrasta a tudo que está no seu curso, como quando as águas de uma grande
represa rompem a barragem. Qualquer pessoa no curso é arrastada. Milhares de
famílias cristãs não conseguem ficar livres da correnteza. O único modo de
vencer o mundo, mormente o consumismo moderno, é conhecer o modo de vida
segundo Deus, exarado na Bíblia Sagrada.
É necessário que todas as famílias
cristãs, nesta hora de tantos ataques diabólicos, se curvem, em oração, aos pés
do Filho de Deus, para ouvir a sua petição ao Pai: “Não peço que o tires do
mundo; e, sim, que os guardes do mal [maligno, no original]” (Jo 17.15).
Rev. Paulo Cesar Lima.
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