A TEOLOGIA
DA CRUZ
Há
muitas coisas apreciáveis nos escritos paulinos (?). Uma delas me impressiona: a cruz de Cristo. Para o apóstolo dos
gentios a teologia da cruz encerra –
de uma vez por todas – o sistema sacrificalista, pois, segundo Paulo, Jesus é o
sacrifício que nos livra de todos os sacrifícios – mysterium tremendum!
Eu fui me aperceber da grandeza dessa verdade a bem pouco
tempo. E compreendi que nós, evangélicos, ainda estamos muito longe dessa
descoberta paulina. Isto porque nós
somos sacrificalistas. Nossa prática cristã é estruturalmente
sacrificalista. Oramos, jejuamos, nos consagramos, nos santificamos de forma
sacrificalista. O que é que eu estou afirmando?
Estou dizendo que a cruz de Jesus – nosso total livramento
dos sacrifícios – é hoje, nos meios evangélicos, uma forma de aprisionamento.
Somos sacrificalistas e ainda incentivamos os outros a serem como nós.
Bem. Vou dizer isso de outra forma para você pegar o que eu
estou querendo alertar.
GOLPE DE
MISERICÓRDIA
Com a morte vicária na cruz, Jesus deu o golpe de
misericórdia em toda a instituição sacrificalista, pois Ele é o “Cordeiro de
Deus” que tira o pecado do mundo. Isto
posto, eu não preciso mais de nenhum tipo de abnegação; não preciso fazer mais nenhum
tipo de sacrifício para obter a salvação, porque esta foi-me dada através da
Graça de Deus, pelo sacrifício completo,
perfeito e final de Jesus. Na cruz, Jesus bradou: “Está consumado!” (ou seja: está tudo pago, finalizado, não há mais
nada a fazer para acrescentar ou tirar com respeito à salvação da humanidade).
A cruz de Cristo é, de fato e de direito, o fundamento da
nossa salvação. É como se os céus dissessem: os sacrifícios feitos no Templo de
Jerusalém devem cessar imediatamente; os sacrifícios que nós, evangélicos, hoje
praticamos devem cessar já. Nenhum sacrifício tem mais razão de ser, porque foi
tudo pago e finalizado na morte expiatória de Jesus. Ninguém tem que pagar
preço algum para ser salvo. Isto porque tanto a salvação é de graça como as
bênçãos de Deus também são de graça.
O QUE É O SISTEMA SACRIFICALISTA?
É aquele que se baseia no dogma da retribuição: Eu faço alguma coisa para Deus a fim de
receber o seu favor. Se eu faço o que Deus gosta, Ele tem prazer em mim,
mas se não faço o que Ele gosta, Ele pesa a mão sobre mim. O objetivo desse
sistema é manter as pessoas presas à ideia inflexível da causa e efeito. Se você está recebendo as bênçãos de Deus é porque Deus
está se agradando de você. Mas se algo de errado estiver acontecendo com você,
é que a sua vida não vai muito bem diante de Deus.
Olha o pecado que estamos cometendo: voltamos a praticar
rituais, cerimoniais, sacrifícios, enfim, tudo que a cruz de Cristo nos livrou.
O sistema sacrificalista, manipulado pela classe sacerdotal, voltou com força
total através das igrejas católicas e protestantes. Pior: o sistema
sacrificalista, que é abrigado pela classe sacerdotal,
além de tornar Deus um ídolo sádico e avarento, que deseja o sacrifício dos
seus filhos até o último pedaço de vida a fim de abençoá-los, ainda O
transforma na imagem de um “deus pagão” inescrupuloso, que vive das oferendas
dos seus adoradores.
APLACAR A IRA DE
DEUS
O sistema sacrificalista se desdobra em várias vertentes no
mundo evangélico. Algumas vezes aparece com o rosto de piedade, atrelando o
sucesso de uma pessoa a alguma prática cristã recomendada, como a oração, o
jejum, a santificação etc. Outras vezes, ele se apresenta com a ideia de aplacar a ira de Deus. Ou seja: eu,
como cristão, tenho que fazer alguma coisa para Deus a fim de aplacar a sua
ira. Significa que os reféns desse sistema opressor se mantêm absolutamente dependentes
dele (do sistema).
Isto é não entender o amor de Deus que, em Jesus Cristo,
aproximou-se do homem de forma
incondicional. Significa dizer que Deus não me ama pelo que eu sou, pelo
que eu faço ou porque sou consagrado e santo; Deus me ama pelo que Ele é, um
Deus de amor. Ou seja: eu não preciso fazer absolutamente nada para obter o
amor de Deus, porque Ele me ama por querer se manifestar aos homens através do amor:
“Mas
Deus prova o seu amor para conosco
em que Cristo morreu por nós, sendo nós
ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu
sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu
Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. E
não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus
Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconci- liação” (Romanos 5.8-11).
A cruz de Cristo veio
para acabar com o sistema sacrificalista que se locupleta da miséria de almas
que carregam o peso do sentimento de culpa imposto por aqueles que pontuam a
santificação, o jejum, a consagração como meios para se chegar à salvação. Mas
a Bíblia chega e diz:
“Pela graça sois salvos, por
meio da fé; isto não vem de vós, é dom de Deus; não vem de obras, para que ninguém se glorie” (Efésios 2.8).
A cruz de Cristo eliminou de vez a glória que os homens sentiam
por suas boas obras. De acordo com as Escrituras Sagradas, nós fazemos as boas
obras não para sermos salvos, mas porque somos salvos. “Porque
somos feitura sua, criados em Cristo Jesus PARA
AS BOAS OBRAS, as quais Deus
preparou para que andássemos nelas” (Efésios 2.10).
A cruz de Cristo
elimina toda obsessão que nós, evangélicos, temos pelo fazer que não consegue enxergar que a nossa relação com Deus,
através de Jesus, não é de troca de favores, mas é algo baseado na Graça, já
que o mais importante não é o que fazemos para Deus, mas sim o que Ele (Jesus)
já fez por nós. “Alegrai-vos, antes, pois
os vossos nomes estão escritos nos céus” – assevera Jesus. Quer dizer que o
mais importante na vida cristã não foi, não é e nem será o que fazemos para
Deus, mas sim o que já foi feito por nós, na pessoa de Jesus Cristo, nosso
Redentor, na cruz do Calvário. Porém isso não é impeditivo para não fazermos
mais nada na Obra de Deus. Absolutamente. É impeditivo, sim, quando se trata de
um “fazer” que faz para garantir que será mais salvo por estar fazendo.
Uma outra coisa grave
construída pelo sistema sacrificalista é que ele costurou novamente o véu, que
foi rasgado de cima para baixo com a morte de Jesus. Este milagre quis dizer que
agora, em Cristo, não há mais distância entre Deus e o seu adorador. Estamos
livres para adorar a Deus e não há nenhum ritual impeditivo. O véu foi rasgado
pelo próprio Deus.
De fato, a cruz
CANCELOU toda a cédula (lista de erros cometidos) que era contra nós.
Libertou-nos da prisão e do distanciamento que havia entre nós e Deus. Por
isso, termino com as palavras paulinas:
“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a
não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está
crucificado para mim e eu para o mundo” (Gálatas
6.14).
Rev. Paulo Cesar Lima
Nenhum comentário:
Postar um comentário