domingo, 30 de novembro de 2014

FOI PAULO O CRIADOR DO CRISTIANISMO?

As dúvidas nutridas sobre Paulo, segundo várias revistas de grande circulação no país, têm sido uma constante. Desta feita, a Revista Superinteressante vem com uma matéria de capa, em sua edição de dezembro de 2003, acusando o apóstolo dos gentios de traição. De acordo com o artigo escrito na Revista supracitada, Paulo traiu Jesus e iniciou, por auto recriação, o Cristianismo, uma forma de religião baseada numa visão helênica. 

Para responder a essa e outras indagações desautorizadas sobre a pessoa de Paulo, transcrevo, abaixo, o artigo do Pastor Augusto Nicodemos(*), na sua íntegra. 


Uma das revistas de grande circulação no Brasil, a Superinteressante , publicou em sua edição de dezembro de 2003 uma matéria de capa onde acusa Paulo de ter traído Jesus e ter iniciado o Cristianismo, que acabou prevalecendo sobre o Judaísmo reformado que Jesus teria desejado implantar. Não é a primeira vez que esta acusação é feita, mas existe uma história até chegarmos aqui.

Paulo sempre foi visto pelo Cristianismo antigo e histórico como fiel apóstolo de Cristo, responsável pela interpretação e sintetização do que a vida e obra de Cristo representam. Há uma continuação direta entre o conceito de Reino pregado por Jesus e aquele da justificação pela fé defendido por Paulo, conceito este que, especialmente debaixo da influência da experiência de conversão de Lutero, foi considerado na Reforma como o centro da teologia de Paulo.

Debaixo da influência do pietismo pós-reforma, no entanto, o centro da teologia de Paulo passou a ser entendido como o processo de salvação individual e santificação. O centro deslocou-se do aspecto forênsico (justificação) para aspectos mais pneumáticos e éticos da pregação Paulina. Com a chegada do racionalismo nos estudos neotestamentários no século XVII, surgiram diferentes interpretações de Paulo por parte de várias escolas alemãs de estudos bíblicos. F. C. Baür e a Escola de Tübingen entenderam que o centro do pensamento de Paulo não era sua cristologia, mas sua pneumatologia. Em particular, na antítese entre o espírito e a carne. Essa antítese era entendida em termos hegelianos, como se referindo à antítese entre o absoluto e infinito (espírito) e o finito (carne). Paulo teria desenvolvido essa antítese em reação ao cristianismo judaico. Baür conseguiu estabelecer firmemente nos círculos acadêmicos modernos a ideia de que Paulo desenvolveu sua teologia em separado de Jesus e dos demais apóstolos.

Esse pensamento foi fortalecido pela obra de outro teólogo liberal alemão, Wilhelm Wrede, para quem a essência do pensamento de Paulo é a doutrina de Cristo e a sua obra – redenção em escala cósmica. Paulo teria tornado os fatos redentivos (encarnação, morte e ressurreição) em fundamento da religião. Portanto, a história da redenção seria o pilar fundamental do cristianismo Paulino. A única maneira plausível pela qual Paulo poderia ter tomado a figura do Jesus histórico e a transformado no Cristo Paulino é se ele já tivesse em sua formação e mente alguns conceitos pré-definidos sobre um ser divino (o mito do redentor cósmico das religiões de mistério), que ele então teria transferido para o Jesus histórico debaixo do impacto da ressurreição (que para Wrede não foi literal). Como resultado, Wrede aprofunda ainda mais a separação entre Paulo e Jesus.

Depois dele, os estudiosos voltaram-se para o fenômeno das religiões populares da época de Paulo, no helenismo, em busca das fontes e origens de seu pensamento. Focalizaram-se especialmente no sincretismo religioso daquela época, que era o resultado da invasão das religiões orientais de mistério na cultura grega. Bousset, um dos estudiosos mais destacados desse período, explicou o Cristo de Paulo como uma reinterpretação mística do Cristo escatológico da igreja palestina primitiva. Para ele, Paulo havia "recauchutado" o conceito e gerado a ideia do Kurios pneumático, sob a influência do cristianismo helenista (que já existia antes dele) e das religiões de mistério. Ou seja, Paulo teria se afastado completamente do evangelho judaico pregado por Jesus e criado uma religião helenística.

Algumas tentativas foram feitas para encontrar a matriz do pensamento de Paulo no gnosticismo. Reitzenstein apelou para a literatura Hermética, que reflete uma religião influenciada pelo Judaísmo, religiões egípcias e orientais. Reitzenstein acreditava que Paulo havia sido profundamente influenciado por esse tipo de gnosticismo helenista, pois ele usava muitas palavras similares, como psikukos , pneumatikos , gnosis , agnosia , potizein , etc. Para ele, Paulo foi o maior de todos os gnósticos. Sua tese deixou marcas profundas nos estudos paulinos.

Estas teses do antigo liberalismo alemão sobre a origem do pensamento de Paulo estão hoje largamente desacreditadas nos meios acadêmicos da Europa e Estados Unidos, de onde vem grande parte da teologia que desembarca aqui no Brasil. Os estudiosos mais e mais perceberam de que a estrutura do pensamento de Paulo não é a cristologia pneumática que ele teria elaborado. A matriz do pensamento de Paulo não está no helenismo, mas na revelação histórica de Cristo na plenitude dos tempos, o cumprimento cristocêntrico das promessas feitas a Israel. Vide a obra gigantesca de Herman Ridderbos, neste sentido.
Entretanto, alguém precisa dizer aos Galileus, Isto é, Épocas e Superinteressantes da vida que estas teses que sempre levantam são de uma fase dos estudos neotestamentários já superada. São apenas matérias sensacionalistas. Paulo nunca traiu Jesus. Ele não é o autor do Cristianismo e nem criou uma forma de Cristianismo que fosse diferente em essência daquela preconizada no Antigo Testamento e estabelecida por Jesus Cristo. É lamentável constatar que a teologia brasileira está sendo feita não por teólogos responsáveis, mas por jornalistas incultos, despreparados e desatualizados.
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(*) É paraibano e pastor presbiteriano. É bacharel em teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (Recife), mestre em Novo Testamento pela Universidade Reformada de Potchefstroom (África do Sul) e doutor em Interpretação Bíblica pelo Westminster Theological Seminary (EUA), com estudos no Seminário Reformado de Kampen (Holanda). Foi professor e diretor do Seminário Presbiteriano do Norte (1985-1991), professor de exegese do Seminário JMC em São Paulo, professor de Novo Testamento do Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (1995-2001), pastor da Primeira Igreja Presbiteriana do Recife (1989-1991) e pastor da Igreja Evangélica Suiça de São Paulo (1995-2001). Atualmente é chanceler da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pastor auxiliar da Igreja Presbiteriana de Santo Amaro. É autor de vários livros, entre eles O que você precisa saber sobre batalha espiritual (CEP), O culto espíritual (CEP), A Bíblia e Sua Familia (CEP) e A Bíblia e Seus Intérpretes (CEP).

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O NÍVEL DE COMPROMETIMENTO DE UMA AMIZADE


O NÍVEL DE COMPROMETIMENTO DE UMA AMIZADE

 

É do velho filósofo Sócrates, oráculo dos gregos, a máxima: “Amigo, não há amigos!”.

Parece que o problema de se achar amizade sólida, verdadeira, coerente, não é coisa nova. Mas, até onde uma amizade deve ir para provar sua lealdade? Como provar o nível de envolvimento de um amigo em face de situações extremas: defendê-lo, por exemplo, diante de algozes assumindo todas as consequências resultantes da defesa? Qual a maior prova de amizade que se pode dar a um amigo senão se expor por conta de ajudá-lo, principalmente quando este está sozinho ou ausente de um linchamento moral. Só dizer que é amigo não basta. Há que se provar.

 

A julgar por essas e outras razões, está faltando amigo de verdade que defenda a justiça, a coerência. À procura de amigos assim muitos estão, principalmente quando se sabe que o que mais há são colegas, sem nenhum envolvimento de coração.

 

Nesta desesperada busca por amizade nos deparamos com fatos paradoxais. É o inusitado que nos apanha, assalta e converte em pessoas crédulas que, mesmo diante de contradições, podem a qualquer hora ser surpreendidas, invadidas pela realidade crucial e irrefutável de que amigos há, é preciso apenas descobri-los.    

 

Quem é que já não teve a grata surpresa de ser traído pelo melhor “amigo”? Por outro lado, quem é que também já não teve a régia recompensa de ser brindado por uma amizade inesperada?

 

Mas se a amizade que confiamos pode não ser a que é real, como podemos confiar no real? Desconfiaremos sempre do real para depositar o coração no inesperado?

 

É realmente muito complicado para qualquer ser mortal aceitar o fato de não poder ter, com ninguém, qualquer relação de confiança. Todavia, a Bíblia diz que há amigos mais chegados que irmãos. Certamente isso não se trata de frase de efeito nem qualquer coisa que o valha. É realidade.

 

Mas se isso ajuda você que já viveu ou vive este momento de desilusão à procura de uma grande amizade, a Bíblia assevera que “maldito o homem que confia no homem”.

 

O que o texto contempla aqui não é o “eu” confiar no “tu”, mas sim a empáfia humana que acredita que pode viver independente de Deus, com a força do seu próprio braço.

 

Se fôssemos pensar como a maioria, diríamos que o assunto não tem solução: não há amigos de verdade. Mas, se raciocinarmos com ausência de preconceito, concluiremos que esse é o grande mistério da convivência: quem é quem na história do convívio humano.

 

Basta uma olhada para trás para que lembremos alguns episódios bem pitorescos da nossa convivência, e quão difícil é para alguém ser aquilo que gostaria.


Eu diria que tudo isso se resolve com uma boa e imparcial leitura da vida. Nem nós nos conhecemos. Somos alguém hoje e outro amanhã.

 

De resto mesmo, fica a amizade madura, que gosta além das próprias ambiguidades, dos próprios sentidos e que insiste em ter o amigo, mesmo sem retorno, sem troca. É o tudo/nada pela amizade.

 

Mude o "quem ganha alma sábio é" (tradução incorreta) para "quem sabe fazer um amigo é sábio!

 
REV. PAULO CESAR LIMA.
 

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

PSICOPATAS DA FÉ?!! ESSA NÃO!!!!


PSICOPATAS DA FÉ?!! ESSA NÃO!!!!

Fonte: Gritos de Alerta.

 

 

Os psicopatas são falantes charmosos, simpáticos, sedutores, capazes de impressionar e cativar rapidamente qualquer pessoa. Sua capacidade de parecer “bonzinho, educado e inofensivo” é impecável. É a pessoa perfeita, aquela que você menos desconfia de Ser um psicopata.

 

Tudo isso é uma fachada, como um teatro muito bem engendrado para esconder suas características perturbadoras:  a incapacidade de se adaptar às normas sociais com respeito a comportamento dentro da lei ou da ética social.

Não existe defesa totalmente segura contra eles. O psicopata não é exatamente um doente mental, mas sim uma pessoa que se encontra na divisa entre a sanidade e a loucura.

 

Os sociopatas exibem egocentrismo e um narcisismo patológico, baixa tolerância para a frustração e facilidade de comportamento agressivo, falta de empatia para com outros seres humanos. Geralmente eles são cínicos, incapazes de manter uma relação e de amar.  Eles mentem sem qualquer vergonha, roubam, abusam, trapaceiam, negligenciam suas famílias e parentes.

 

O QUE OS ESPECIALISTAS DIZEM A RESPEITO

 

Dr. Robert Hare “… é um enorme sofrimento social, econômico e pessoal causado por algumas pessoas cujas atitudes e comportamento resultam menos das forces sociais do que de um senso inerente de autoridade e uma incapacidade para conexão emocional do que o resto da humanidade. Para estes indivíduos – os psicopatas – as regras sociais não são uma força limitante… eles andam pela sociedade como predadores sociais, rachando famílias, se aproveitando de pessoas vulneráveis e deixando carteiras vazias por onde passam … é como o gato, que não pensa no que o rato sente -  se o rato tem família, se vai sofrer. Ele só pensa em comida. Gatos e ratos nunca vão se entender. A vantagem do rato sobre as vítimas do psicopata é que ele sempre sabe quem é o gato…”

 

Em 1941, Dr. Hervey M. Cleckley escreveu um livro chamado “A máscara da saúde”, no qual se referia a este tipo de pessoas. Em 1964 descreveu as características mais frequentes do que hoje chamamos psicopatas.

 

Em 1968, Stephen B. Karpmam disse “dentro dos psicopatas há dois grandes grupos; os predadores e os parasitas” (fazendo uma analogia biológica). Os predadores: são aqueles que tomam as coisas pela força. Os parasitas: tomam-nas através da astúcia e do engodo.

 

Cleckley estabeleceu, em “A máscara da saúde”, alguns critérios para o diagnóstico do psicopata, e, em 1976, Dr. Robert D. Hare, Dr. Stephen D. Hart e Dr. Timothy J. Harpur, completaram esses critérios.

 

Somando-se as duas listas podemos relacionar as seguintes características:

 

1 – Problemas de conduta na infância.

2 – Inexistência de alucinações e delírio.

3 – Ausência de manifestações neuróticas.

4 – Impulsividade e ausência de autocontrole.

5 – Irresponsabilidade

6 – Encanto superficial, notável inteligência e loquacidade.

7 – Egocentrismo patológico, autovalorização e arrogância.

8 – Incapacidade de amar.

9 – Grande pobreza de reações afetivas básicas.

10 – Vida sexual impessoal, trivial e pouco integrada.

11 – Falta de sentimentos de culpa e de vergonha.

12 – Indigno de confiança, falta de empatia nas relações pessoais.

13 – Manipulação do outro com recursos enganosos.

14 – Mentiras e insinceridade.

15 – Perda específica da intuição.

16 – Incapacidade para seguir qualquer plano de vida.

17 – Conduta antissocial sem aparente arrependimento.

18 – Ameaças de suicídio raramente cumpridas.

19 – Falta de capacidade para aprender com a experiência vivida.

 

Segundo a REVISTA SUPERINTERESSANTE (Julho-2006.p.48), estas são as principais características de um psicopata:

 

1 – CHARME: Tem facilidade em lidar com as palavras e convencer pessoas vulneráveis. Por isso, torna-se líder com frequência. Seja na política, no trabalho ou na cadeia.

 
2 – INTELIGÊNCIA: O QI costuma ser maior que o da média: alguns conseguem passar por médico ou advogado sem nunca ter acabado o Colegial.

3 – AUSÊNCIA DE CULPA: Não se arrepende nem tem dor na consciência. É mestre em botar a culpa nos outros por qualquer coisa. Tem certeza que nunca erra.

4 – ESPÍRITO SONHADOR: Vive com a cabeça nas nuvens. Mesmo se a situação do sujeito é miserável, ele só fala sobre as glórias que o futuro lhe reserva.

5 – HABILIDADE PARA MENTIR: Não vê diferença entre sinceridade e falsidade. É capaz de contar qualquer lorota como se fosse a verdade mais cristalina.

6 – EGOÍSMO: Faz suas próprias leis. Não entende o que significa “bem comum”. Se estiver tudo bem para ele, não interessa como está o resto do mundo.

7 – FRIEZA: Não reage verdadeiramente ao ver alguém chorando ou sofrendo.

8 – PARASITISMO: Quando consegue a amizade de alguém, suga até a medula.

OS PSICOPATAS DA FÉ

 
Agem de forma sorrateira, a enganar as pessoas. Chegam de mansinho, no inicio são uns amores de pessoas, atenciosos, olhares sérios, mas mal sabem as pessoas que os olhares sérios são para olharem melhor e se prepararem para suas próximas investidas.

 

Sempre vestidos de ovelhas, com mansidão, mas a mente cheia de coisas ruins e destruição. A fala é mansa e polida, mas a intenção cruel e nociva. A roupa é de marca e alinhada, mas alma é doente e esfarrapada. Usam relógios bonitos e atraentes, mas a língua são espadas entre os dentes.

 

Charmosos e simpáticos; mentirosos e manipuladores. Os psicopatas não se importam de passar por cima de tudo e de todos para alcançar seus objetivos. Egocêntricos e narcisistas, eles não sentem remorso, muito menos culpa. Se algo ou alguém ameaça seus planos, tornam-se agressivos.

 

São inteligentes, mas insensíveis, frios, manipuladores, e sua capacidade de fingir sentimentos é perfeita. Se descobertos, são mestres em inverter o jogo, colocando-se no papel de vítimas ou tentar convencer de que foram mal interpretados. E estão conscientes de seus atos.

 

E estão sempre conscientes de todos os seus atos, pois, diferentemente do que ocorre em outras doenças mentais, os psicopatas não entram em delírio. A psicopatia atinge cerca de 4% da população (3% de homens e 1% de mulheres), segundo a classificação americana de transtornos mentais. Sendo assim, um em cada 25 brasileiros enquadra-se nesse perfil. Mas isso não significa, é claro, que todos são bandidos em potencial.

 

E quero informar que esse número também atinge Lideres, Pastores, Bispos, Cantores, Músicos etc.

 

Olhando para nossos dias, é comum ver nos noticiários fatos que envolvem líderes evangélicos ou mesmos membros de comunidades evangélicas:

 

Você, antes de consagrar um obreiro, procurou saber mais sobre ele?

Em muitos casos, a omissão de muitos líderes tem levado a destruição de muitas famílias, pois consagram pessoas que foram reprovadas por Deus, levando, assim, essas pessoas a continuarem a sua caminhada de destruição.

Uma coisa é certa. O final dos tempos está chegando, e precisamos ficar atentos, pois muitos outros psicopatas da fé vão aparecer por aí, com olhar de boas intenções, mas um coração de rapina, esperando a próxima vítima aparecer.


CUIDADO: A próxima vítima pode ser você.

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

A CURA PELO AMOR


A CURA PELO AMOR

Texto: Mateus 20:34


 Quero começar esta reflexão asseverando que os milagres da história de Jesus nos evangelhos têm como pano de fundo, como elemento motivador, o amor, a compaixão, a misericórdia. De fato, o que impulsionava Jesus para a realização dos seus milagres era o fato de estar fazendo justiça aos injustiçados: “Então Jesus, movido de íntima compaixão, tocou-lhes nos olhos, e logo seus olhos viram; e eles o seguiram” (Mateus 20:34). A razão, historicamente falando, é muito simples:


No tempo de Jesus a medicina era incipiente. Não havia medicina preventiva. Hospitais, ambulatórios etc. Quando muito havia remédios que a natureza oferecia e que a experiência comprovava como benefícios.


A saúde era um problema que geralmente se resolvia com a morte; mortes prematuras, vida curta, cegueira, paralisia, doenças de pele que se arrastavam pela vida inteira.


As doenças que pareciam inexplicáveis porque não se lhes via nenhuma causa perceptível eram atribuídas aos “demônios”, espíritos maus impuros, que se haviam introduzido dentro das pessoas, apoderavam-se delas e as impeliam de realizar corretamente suas funções, privando-as do domínio normal do seu corpo. O “espírito mau” se havia introduzido tão fundo que parecia dobrar o homem e a sua personalidade. Isso acontecia, por exemplo, com a mudez, surdez, a epilepsia, a loucura etc. Quando se vê claramente que o corpo está mal, com lepra, cegueira, hemorragias, febre, perna ou braço quebrado, atrofiado etc., nunca essas enfermidades, nos evangelhos, são atribuídas aos “demônios”.


Os enfermos: cegos, coxos, mutilados, paralíticos etc. e, sobretudo, os leprosos, estavam entre os pobres mais pobres. Normalmente todos eles eram também mendigos. Era sua única chance de subsistência.


Além disso, a enfermidade era vista como castigo de Deus pelos pecados: “Ao passar, Jesus viu um cego de nascença. Os discípulos pergunta- ram: ‘Mestre, quem foi que pecou, para que ele nascesse cego? Foi ele ou seus pais?’” (Jo 9.1,2). Por essa razão os enfermos eram considerados “impuros”, discriminados também pela religião judaica. Consequentemente podiam permanecer somente nas portas externas da esplanada do Templo ou, quando muito, no pátio dos gentios ou pagãos, que também eram considerados pecadores e impuros.


Ao lado dos pecadores, os enfermos (que segundo a religião judaica são também pecadores) são os preferidos de Jesus em sua atividade em vista do Reinado de Deus.


Jesus une sempre o Reinado de Deus, o anúncio da Boa Notícia, o poder e autoridade que dá a seus discípulos e seguidores, com a cura corporal. Foi assim que a comunidade cristã entendeu, desde o início, sua missão. Comprova-o o texto de Lucas 9.1-6:


E, convocando os seus doze discípulos, deu-lhes virtude e poder sobre todos os demônios, para curarem enfermidades. E enviou-os a pregar o reino de Deus, e a curar os enfermos e disse-lhes: Nada leveis convosco para o caminho, nem bordões, nem alforje, nem pão, nem dinheiro; nem tenhais duas túnicas. E em qualquer casa em que entrardes, ficai ali, e de lá saireis. E se em qualquer cidade vos não receberem, saindo vós dali, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles. E, saindo eles, percorreram todas as aldeias, anunciando o evangelho, e fazendo curas por toda a parte.


Nos evangelhos encontramos numerosas curas milagrosas atribuídas a Jesus. De um total de 32 milagres, 22 são curas. Podemos agrupá-las assim:


A. Quatro curas de cegos:

1. O de Jericó (Mc 10.46-52)

2. O de Betsaida (Mc 8.22-26)

3. O de nascença (Jo 9.1-41)

4. Os dois cegos de Cafarnaum (Mt 9.27-31)

         B. Três curas de paralíticos e a de um enfermo numa cama:

1. O homem com a mão seca (Mc 3.1-6)

2. O paralítico de Cafarnaum (Mc 2.1-12)

3. O enfermo de Betesda (Jo 5.1-18)

4. A mulher na sinagoga (Lc 13.10-17)


C. Duas curas de leprosos:

1. De um leproso (Mc 1.40-45)

2. De dez leprosos (Lc 17.11-19)


D. Duas curas a distância (“à distância” porque os judeus não podiam entrar nas casas dos pagãos; a mulher cananeia e o oficial romano são pagãos).

1. A filha da cananeia (Mc 7.24-30).

2. O empregado do oficial romano (Mt 8.5-13).


E. Cinco curas com libertação:

1. O de Gerasa (Mc 5.1-20)

2. O menino epilético (Mc 9.14-29)

3. O endemoninhado mudo (Lc 11.14,15)

4. O da sinagoga de Cafarnaum (Mc 1.21-28)

5. Madalena (Lc 8.1,2).

F. Diversas curas:

1. O surdo-mudo da Decápole (Mc 7.31-37)

2. A sogra de Pedro (Mc 1.29-31)

3. A mulher com hemorragia (Mc 5.25-34)

4. O hidrópico (Lc 14.1-6)

5. A orelha de Malco (Jo 18.10)

Além disso, os evangelhos apresentam curas em massa:

Em Cafarnaum (Lc 4.40,41); num povoado (Lc 5.15); ao descer do monte (Lc 6.18,19); diante dos mensageiros de João Batista (Lc 7.21-23); em Betsaida (Lc 9.11) etc.


A CURA PATROCINADA PELO AMOR

      Para falar o que eu quero sobre o tema supracitado evoco a lembrança de um filme que marcou a minha vida: “Uma Mente Brilhante” (“A Beatiful Mind”) sobre a vida do Matemático Americano John Forbes Nash, onde Russell Crowe interpreta o papel de um homem acometido por esquizofrenia, e que apenas sobreviveu em condições mínimas de trabalho e produtividade em razão de ter confiado no amor de sua mulher Alcia Nash.


O que me leva a evocar a memória do primeiro filme (2001) é o fato simples e poderoso que ele apresenta: uma pessoa doente precisa se ver através dos olhos de alguém que a ame a fim de encontrar sua saúde e equilíbrio.


John Nash, brilhante, superdotado, venturoso em tudo o que fazia, subitamente começa a entrar num mundo paralelo tão real quanto tudo o mais que ele chamasse de real, com a diferença de que somente ele via o que via, e, portanto, tratava-se de algo subjetivo e não real para o resto do mundo.


Sua salvação não da esquizofrenia, mas sim da “loucura”, só foi possível porque ele admitiu a esquizofrenia, entregando suas decisões sobre o que era ou não real entre as coisas que via, ao julgamento de sua esposa.


Assim, confiando no juízo e no discernimento da esposa, e, sobretudo no seu amor por ele, foi que Nash conseguiu viver com a esquizofrenia sem enlouquecer.


De vez em quando ele tinha de perguntar à sua mulher se as pessoas que estavam diante dele eram reais ou apenas subjetivas em sua percepção, e, assim, conseguiu, mediante a fé no amor de sua mulher, encontrar o termo de aferimento de sua própria realidade.



A salvação de John Nash esteve e está no fato de ele confiar no amor de sua mulher por ele, e, assim, conferir com ela o que era ou não real.


Ter gente de bom senso e de confiança, e que nos ame, sempre sendo consultados sobre nossas próprias impressões, é algo vital para a saúde de nossas mentes.


 Fé e amor continuam a ser os únicos elementos capazes de preservar a integridade de nossas mentes num mundo de falsificações e de construções alucinadas. Isto porque pensamos coisas sobre nós mesmos que não são reais e interpretamos a vida com critérios de uma subjetividade que raramente casa com os fatos reais da existência.


É assim que o tímido é visto como arrogante silencioso, o falante é percebido como metido, o quieto é olhado como fraco, o prestativo enxergado como interesseiro, o recluso como antissocial, o triste como infeliz, o belo como bom, o feio como mal e o simples como tolo.


Resolutamente, posso dizer que o amor que não desiste de amar, o amor que ampara, o amor que motiva, o amor corajoso, o amor condutor, o amor que supera, o amor que não deixa morrer a quem ama, o amor valente, impávido, destemido, afoito, intrépido, denodado, o amor protetor, o amor que resguarda... para um doente já é meio caminho da cura.


Termino parafraseando o título de um livro que li faz algum tempo: “Quem ama não adoece”. Eu digo: “Quem é amado não morre!”


Deus, algumas vezes, aceita esta exceção!!!!!!
Rev. Paulo Cesar Lima
Pastor Presidente da Catedral

sexta-feira, 18 de julho de 2014

EPITÁFIO


EPITÁFIO

Devia ter amado mais, ter chorado mais

ter visto o sol nascer.

Devia ter arriscado mais e até errado mais,

ter feito o que eu queria fazer.

Queria ter aceitado as pessoas como elas são.

Cada um sabe a alegria e a dor que traz no coração.

O acaso vai me proteger,

enquanto eu andar distraído.

O acaso vai me proteger

enquanto eu andar.

Devia ter complicado menos, trabalhado menos,

ter visto o sol se pôr.

Devia ter me importado menos com problemas pequenos.

Ter morrido de amor.

Queria ter aceitado a vida como ela é,

a cada um cabe alegrias e a tristeza que vier.

O acaso vai me proteger,

enquanto eu andar distraído.

O acaso vai me proteger,

Enquanto eu andar

 

 

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TITÃS, Epitáfio. Autoria de Sérgio Britto.

 

INSTANTES


Atribui-se ao grande escritor argentino Jorge Luis Borges a seguinte elegia de sua vida:


 
INSTANTES

 

Se eu pudesse viver novamente a minha vida,

trataria de cometer mais erros.

Não tentaria ser tão perfeito, seria mais relaxado.

Seria mais bobo do que fui;

na verdade encararia muito poucas coisas com seriedade.

Seria menos higiênico,

correria mais riscos,

faria mais viagens,

contemplaria mais entardeceres,

subiria mais montanhas, nadaria mais em rios.

Iria mais a lugares que nunca tivesse ido.

Comeria mais sorvetes e menos verduras.

Teria mais problemas reais e menos imaginários.

Eu fui dessas pessoas que viveu sensata

e corretamente cada minuto de sua vida;

claro que tive momentos de alegria.

Mas se eu pudesse voltar atrás,

procuraria apenas ter bons momentos.

Se não sabem, disso é que é feita a vida,

somente de momentos. Não percam o agora.

Eu fui uma dessas pessoas que nunca ia a parte alguma

sem levar um termômetro, uma bolsa de água quente,

um guarda-chuva e um esparadrapo.

Se pudesse voltar a viver,

viajaria mais levianamente.

Se pudesse voltar a viver,

começaria a andar descalço no princípio da primavera

e seguiria assim até o fim do outono.

Daria mais voltas na calçada,

Contemplaria mais amanheceres

e brincaria mais com as crianças;

se tivesse outra vez a vida pela frente ...

Mas já se vai, tenho 85 anos e estou morrendo.

 

 

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Há uma discussão entre críticos literários se de fato esse poema é de autoria de Jorge Luis Borges. Há um certo consenso que de fato a autora seja Nadine Stair, autora norte-americana, que teria publicado o poema sob o título Moments.