segunda-feira, 19 de outubro de 2015

DEUS É A RESPOSTA À AUSÊNCIA DE RESPOSTAS

Deus É A Resposta
À Ausência de Respostas

Não pude esquecer o que me aconteceu alguns meses atrás. Fui chamado às pressas para fazer a cerimônia fúnebre de uma pessoa que falecera com esclerose múltipla, no dia dos finados. Havia muita gente no cemitério, por conta do dia do feriado. Eu imaginei, quando cheguei ao local, que se tratava do velório de uma grande personalidade de Niterói, dado ao número vultuoso de pessoas no cemitério da Colina, em Pendotiba, Nite­­rói.

Quando me foi dada a oportunidade – lembro-me –, eu pre­­guei uma mensagem sobre a importância de vivermos a vida de forma coerente, produtiva, sendo solidário, fraterno, sempre construindo pontes em vez de muralhas. No término, via-se algumas pessoas com os olhos marejados de lágrimas, pelo momento e pela circunstância que envolvia o ambiente. Algumas dessas pessoas vieram me cumprimentar agradecidos pela palavra que foi dada. Uma dessas aproximou-se de mim, com toda a cerimônia exigida pelo momento, e falou, sereno, ao meu ouvido: «Eu sou ateu, mas fiquei impressionado com o que você disse. Parabéns!».

Após aquele momento, acompanhamos o cortejo fúnebre até que o corpo fosse enterrado. Voltamos. No retorno, mais uma vez fui abordado pelo mesmo homem, que me chamou e disse novamente:

– «Você costuma dar palestras em algum lugar?»
– Só na Igreja e em alguns Seminários – respondi.

Então, ele continuou:

– Eu sou ateu, mas gostei do que você disse. Queria ouvi-lo de novo.
– «Eu também sou ateu» lhe retruquei. Não creio no «D’us» que você diz não acreditar.
– Para mim, Deus é ausência de resposta – retru­­cou-me o homem.
– Este é o pensamento de alguns filósofos. Mas para mim Deus é a respos­­ta à ausência total de respostas – asseverei.

O ho­­mem-ateu saiu impressionado por ouvir a declaração de um pastor que não acredita no “D’us” que ele acredita não acreditar.

É a partir da visão reeditada de um teocentrismo medieval esmagador que Jean Paul Sartre, expoente do existencialismo do lado francês, dizia que «se o homem é livre, Deus não existe. Se Deus existe, o homem não é livre».

É sobre esta concepção medieval que Rubem Alves diz que «para que a ideia de demo­­cracia viesse a existir no mundo, os homens precisaram deixar de acreditar em Deus». Para Altaizer, no entanto, o homem só passa a ser livre realmente quando con­­segue erradicar Deus da sua história. Esta leitura não apropriada sobre Deus fez o teólogo Fredrich Vahanian discordar da posição radical de Altaizer. Para Vahanian não devemos negar a existência de Deus. O que, se­­­­gundo ele, realmente precisa ser feito é combater a concepção distorcida que as pesso­­as têm de Deus. Esta distorção começa a partir de que Deus seja transformado na imagem e semelhança do próprio homem. É sobre esta fatídica possibilidade que Von Rad, teólogo contemporâneo, fala. Ele diz que o homem piedoso é o que corre mais perigo de transformar Deus à sua imagem e semelhança.

Corremos perigo iminente de transformar Deus numa ausência de resposta, na medida em que fazemos um culto com formas estreitas e tentamos monitorar as ações de Deus, ou ainda porque só o conce­­bemos por uma ótica religiosa.

A visão que a igreja tem de Deus quase sempre O transforma na imagem e semelhança de si mesma. Eu adiro ao pensamento do escritor evangélico que diz que não apenas os pagãos, mas os cristãos têm um Deus à sua imagem e semelhança. O Deus de suas teologias sistemáticas, dogmas, projeções, de forte componente antropomórfico e antropopático, sintoni­­zado com as fraquezas e limitações huma­nas. Não só a visão da igreja, mas também a sua missão, o seu comporta­­mento, a sua presença, as suas idiossincrasias refletem o conceito de Deus que ela possui. Ou seja: o conceito, a teologia, a doutrina que a igreja tem de Deus, termina tomando o lugar de Deus. A rigor, toda verdade oficial, convencionada, estereotipada, estra­­tificada sobre Deus é segundo à imagem e semelhança daqueles que a constroem.

Por estas e outras razões, a igreja tende a pensar Deus a partir dos seus preconceitos e a reduzi-lo ao tamanho da teologia que O forja.

A igreja evangélica no Brasil, anestesiada pela alie­­nação, pelo medo, pela acomodação, pelos privilégios, pela «teologia» caipira norte-americana que nos afoga, parece ter perdido a visão do reino e sua res­­ponsabilidade em sua implantação.

Tudo isso faz com que a visão do Deus verdadeiro, mostrado por Jesus Cristo, seja totalmente prejudicada.


REV. PAULO CESAR LIMA

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