terça-feira, 29 de abril de 2014

OS MAIS DIFÍCEIS TEMAS DA BÍBLIA

OS MAIS DIFÍCEIS TEMAS DA BÍBLIA

        OS MAIS DIFÍCEIS TEMAS DA BÍBLIA



Sempre nutri dúvidas sobre o que ouvia como interpretação do evangelho. Percebia contradições, excrescências, e uma visão exageradamente simplista na maneira como eram encaminhados os temas bíblicos, os quais vinham a nós como se fora “revelação de Deus”. Tinha comigo que não devia me pronunciar sobre esses fatos enquanto não tivesse conhecimento suficiente. Pus-me a estudar os temas bíblicos anos a fio, mais de 30 anos. Primeiramente, demovi-me do a priori de ler a Bíblia já sabendo o que ela está dizendo. Depois comecei a reestudar assuntos estabelecidos, convencionados. Em segundo lugar, comecei a me preocupar com as ideias vigentes que eram produzidas e reproduzidas entre nós sem nenhum questionamento. Daí para frente, entrei em crise, porque vi que a maioria das ideias que a mim foram passadas, e que são passadas até hoje, não tinha embasamento histórico nem tampouco lastro científico para provar o que se admitia e admite como certo. 



Os Mais Difíceis Temas da Bíblia é uma resposta a esta acomodação de consciência de receber as coisas prontas e como certas, sem procurar saber se de fato são verdadeiras.



COMENTÁRIO

 

 
A contemporaneidade insiste em querer negar a Bíblia como Palavra de Deus aos homens. E há aqueles que fazem disso um "cavalo de batalha" à procura de desmentir os postulados bíblicos.


Nos volumes I e II dos "Mais Difíceis Temas da Bíblia" compartilho com o leitor de temas polêmicos que comumente são usados pelos agnósticos e ateus, mas não quero ser voz dogmática e nem solucionador-mor de problemas neles existentes, meu objetivo é despertar no leitor o interesse por uma dialética tolerante, que não tem pressa de mostrar o certo do lado de cá e menosprezar o errado do lado de lá.


Escrever sobre "Os Mais Difíceis Temas da Bíblia" parece, à primeira vista, ousadia. Mas, sinceramente, não me arrogo capaz. Gosto mesmo é de garimpar à espera de encontrar pepitas preciosas que foram enterradas em monturos dogmáticos. 


Não quero ser olhado como erudito. Longe de mim levar tal designação, pois sou um simples amante do saber e ledor das Escrituras.


Os Mais Difíceis Temas da Bíblia não é busca obcecada por respostas prontas a fim de não deixar Deus em apuros. O livro é resultado de um desejo de ver temas tão importantes analisados de forma inteligente, coerente e convincente, e por acreditar que eles tenham muito mais a nos dizer do que até então foi-nos passado.


AUTOR



Rev. Paulo Cesar Lima é hoje considerado um dos maiores ensinadores e doutrinadores das Assembleias de Deus no Brasil e formador de opinião dos mais laureados.


Como Teólogo especializou-se em Metodologia Exegética do Novo Testamento e Hermenêutica, lecionando em vários Seminários no Rio de Janeiro.



Como Mestre tem deixado um exemplo muito grande para os seus alunos: alguém que ama a Palavra de Deus e o conhecimento.


Como Pastor, tem 29 anos de pastorado e está indo para 38 de ministério. Atualmente, é Presidente da Catedral da Assembleia de Deus em Jardim Primavera, Duque de Caxias, RJ, desde o dia 18 de dezembro de 2001. Também preside a CMADERJE – Convenção de Ministros das Assembleias de Deus do Estado do Rio de Janeiro e outros. É membro da Comissão Apologética da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil.



Escreveu os livros «Dizimista, eu?!», «Quebra de maldição: uma prática supersticiosa?», «O que está por trás do G-12» (todos editados pela CPAD), «Teologia da ação política e social da igreja», «Profecia», «Limites – vivendo sob autoridade», «Predestinado?», «Jejuou! Aconteceu?!!», «Divorciado pode casar-se de novo?». É fundador dos Jornais Desafio, Nova Opinião, Comaderj, Unimaderje e Cmaderje; é fundador dos Seminários Teológicos Ibcei, Sal, Segme, Setaderj e Semtel; é Doutor em Teologia, Jornalista, Graduado em Psicanálise Clínica, licenciado em Filosofia e terminou a Docência do Ensino Superior; foi professor em diversos Seminários do Rio de Janeiro na área de Graduação, Pós-Graduação e Mestrado em Teologia e Ciências da Religião.
 
 
 
 
 
 
 

Rev. Paulo Cesar Lima
Presidente da Catedral e
da CMADERJE.

 
 
 

sábado, 26 de abril de 2014

TÔ PAGANO!” – A CULTURA DA BARGANHA

TÔ PAGANO!” – A CULTURA DA BARGANHA

 
Os livros de Eclesiastes e Jó manifestam a tendência dos homens sempre pensarem em Deus em termos de recompensa e castigo.

 

 

A atriz Katiuscia Canoro, intérprete da personagem Lady Kate em um programa da Rede Globo, sempre termina o seu quadro com o bordão: “tô pagano!”.

 

O “tô pagano!” de Lady Kate está fazendo sucesso nos arraiais evangélicos. Hoje o comportamento de um número assustador de evangélicos assemelha-se ao crédito-recompensa “tô pagano!”. É uma forma de pressionar D’us, para que suas bênçãos cheguem mais rápido.
 
O dantesco disso tudo é que crentes evangélicos – os quais deveriam ter entendimento bíblico – quando incentivados, induzidos, programados por pregadores espertos e charlatães, caem na esparrela do “toma-lá-dá-cá”, ou seja: “Pagou?! Levou a Bênção!”, afinal de contas D’us é obrigado a responder suas orações repletas de delírios e caprichos, porque... “tão pagano!”.
 
CULTURA DA BARGANHA
 
A “cultura da barganha”, que sempre fez parte das igrejas de “curas divinas”, agora aparece com força total nas reuniões pentecostais (não clássicas) e pós-pentecostais. É o famoso “quem paga leva a bênção!” – “Tô pagano!”.
 
Falando em pagar, evoco a lembrança da história contada por um dos alunos do SAL – Seminário Avançado Para Líderes – que já frequentou uma dessas “igrejas de cura divina”. Segundo ele, certa vez ele estava com muita vontade de participar de uma “dessas campanhas”, mas tinha que pagar “trezentos reais”, e ele só tinha a metade do dinheiro. Então foi ao pastor para saber se podia participar da campanha com os cento e cinquenta reais. O pastor disse que era trezentos e não podia fazer concessão. Não conseguindo, apelou ao bispo, que lhe disse o seguinte: “Nós não estamos forçando ninguém a dar trezentos reais, mas também não somos obrigados a levar pedido de oração de ninguém que não der os trezentos reais!”. Isso chega a ser dantesco.
 
Mas a coisa está num ritmo tão alucinante que cada igreja procura inventar o jeito mais eficiente de tirar dinheiro do povão. Hoje tem até “UNÇÃO DO NEGOCIADOR”. Ah! Para com isso!
 
Agora, como pode um povo estar sendo enganado e mesmo assim aceitar coisas tão grotescas e, ainda, participar com os seus últimos centavos? Será que isso é a derrocada de todos os ensinamentos de Jesus, no Novo Testamento, em relação aos pentecostais e pós-pentecostais brasileiros?
 
A “cultura da barganha” está hoje entranhada nas artérias pentecostais. Os ensinos errados da Bíblia quanto à prosperidade, salvação, consagração, santidade... distorceram as verdades bíblicas e fizeram com que o povo aprendesse a ter uma relação com Deus à base de troca. Então você regateia com Deus reivindicando dele alguma coisa, porque, a seu ver, você tem crédito com Ele, pois “Tô pagano!”
 
No atual momento pelo qual a igreja passa é absolutamente comum vermos figuras grotescas, caricatas, burlescas usando o púlpito para fazer renascer a cultura da barganha. Isto porque pastor que prega o que o povo QUER OUVIR faz da porta da tesouraria uma antessala do céu. Pastor que prega o que o povo PRECISA OUVIR, vive do “pão nosso de cada dia”.
 
Um famoso pregador pentecostal lançou em sua igreja a campanha “O milagre vai acontecer.” Nele, o ator/pregador trás orientações práticas de como o milagre poderá acontecer. Uma delas é sacrificar o valor simbólico de R$ 7,00 (sete reais), que deverá ser enviado através de depósito ou boleto bancário ou transferência eletrônica para uma de suas contas bancárias, pois é só pagar que acontece.
 
Caso recente também ocorreu numa igreja pentecostal onde as pessoas foram motivadas e induzidas a darem o seu melhor para D’us. Uma dessas pessoas que deram o que não podiam, embalada pelo “tô pagano!” comprou um carro. Pagou o primeiro mês, o segundo, mas no terceiro em diante não teve mais condição. Então apelou ao pastor que o incentivou a dar tudo que tinha para que o ajudasse. A resposta do pastor foi fria e direta: “Não mandei o irmão comprar carro nenhum!”. E arrematou: “O irmão tem que andar de ônibus!
 
Por vezes, ouve-se – aqui, ali – histórias de pessoas que, em nome de um “D’us caricaturado”, “ofertam” o que não podem, e em razão disto passam a exigir o cumprimento de suas promessas.
 
Não é possível: ou somos bobos demais ou estamos acomodados no “engana que eu gosto!”, porque comprar “CAPA UNGIDA” de alguém que diz que o “senhor” o mandou vender e ainda por 1000 reais cada uma, é abrir mão da razão, da coerência. do bom senso e da sanidade.
 
A gente quer ver a igreja local liberta desses instrumentos de controle, dessas picaretagens e pirotecnia, desses contornos mágico-supersticiosos imantando objetos, coisas e chamando-os de ungidos, e aí você ouve que algumas igrejas estão com práticas dantescas, charlatanismo barato, num exercício de domínio de alma e alienação de cabeça. Isso é uma aberração.
 
A igreja atual precisa passar por uma transformação. Mas só podemos transformar a igreja e depois o mundo através da RENOVAÇÃO DO NOSSO ENTENDIMENTO. O real entendimento do Evangelho de Cristo pode mudar a sociedade. Isto significa que o entendimento distorcido do evangelho pode agravar o mal na sociedade. Se não entendermos os valores cristãos da maneira como nos foram passados por Jesus, nos tornaremos disseminadores do mal. O mundo está indo de mal a pior porque não está havendo RENOVAÇÃO DO ENTENDIMENTO nas igrejas. Nosso modo de pensar, de entender a vida, ainda é o mesmo, com pequenos ajustes. Estamos com corpo de crente, mas nossa “cabeça” continua homologável e conformada.
 
Aliás, boa parte das mensagens pregadas pelos prega-DORES brasileiros nos aponta quão despreparados estão nossos atalaias:
 

“Suas mensagens são rasas, sem substância, empobrecidas teologica- mente, cheia de modismos, unções do jeitinho brasileiro, decretos e deter­­­­minismos, os quais têm reverberado vergonhosamente em todo território nacional”.

Em nome do “D’us” muita gente vive vida nababesca, mercadejando o evangelho. Assusta-me o fato de que alguns, em nome de uma espiritua-­­­­lidade cristã, têm cobrado um “pequeno valor simbólico de R$ 7,00” para experimentar o milagre de Deus em suas vidas. Ora, que Cristianismo é esse? Que evangelho é esse? Sem nenhum receio afirmo que esse não é o cristianismo pensado, idealizado e passado a nós por Jesus, e nem tampouco o Evangelho da Bíblia, antes o evangelho que alguns dos evangélicos fabricam!

 

          O que fazer com o “tô pagano!” de uma multidão de evangélicos que se transforma em credores de Deus em vez de serem apenas seus servos? Como dizer ao povo que Deus não é D’us de recompensa, mas de Graça? O que fazer com igrejas que deixaram de ser comunidade da Palavra para se tornarem comunidade da barganha?

 

     Respondo a essas e outras perguntas com uma parte da bela crônica de um escritor evangélico, com a qual concordo,
 

“não dá pra vivermos vida cristã de profecia em profecia, de decreto em decreto. Mais do que nunca, é hora de regressar à Palavra de Deus, de redescobrir os seus preciosos tesouros, de fazer das Sagradas Escrituras a referência de fé e de comportamento”.

 

    Que tenhamos brio e coragem para mudar o “tô pagano!” habitual de algumas igrejas pentecostais e pós-pentecostais para o “Ele [Cristo] já pagou!” da Bíblia Sagrada!
 
    Termino esta reflexão fazendo minhas as palavras do apóstolo Paulo:
 
       Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis.
 
 
 
 
Rev. Paulo Cesar Lima da Silva
 
 

sexta-feira, 25 de abril de 2014

O PODER NÃO ACEITA O SEGUNDO LUGAR

O poder não aceita o segundo lugar

 

 

 Rei, ministros e conselheiros, todos na maior agitação! O palácio inteiro entra em alvoroço, como que tomado por histeria coletiva... É que acabam de chegar personagens importantes, para adorar Alguém  que não é Herodes. Alguém com jeito e cheiro de usurpador, evidente­mente...      
 
 
 
Os magos eram eruditos no campo da matemática, as­tronomia, astrologia, alquimia e da religião. Eram con­selheiros de cortes reais. Um dos deveres dos magos era estudar as estrelas a fim de antecipar o nascimento de qualquer novo governante, que eventualmente ameaçasse os poderes correntes.
 
 
 
Os cristãos orientais têm uma tradição de doze sábios, outros pensavam em sete, on­ze, e depois três, representando as três raças principais ou a Trindade.
 
 
 
Toda essa questão que gira em torno de três personagens, foi por causa da atitude tomada pela imperatriz Helena, mãe de Constantino o Grande.
 
 
 
Esta mulher, par­tindo em busca de encontrar pro­vas sobre a exis­tência desses ma­gos, se deparou com três esqueletos que jaziam perto do túmulo de Jesus. Assim, ela mandou que os trouxessem para Constantinopla. Sua permanência ali, no entanto, foi breve. Pouco depois eram removidos para Milão.
 
 
 
Mas foi somente no século XII, quando Barbaroxa se tornou imperador e os esqueletos foram removidos para Colônia que eles receberam os nomes de Gaspar, Melchior e Baltazar.
 
 
 
À luz da Bíblia, pode-se dizer que toda esta história é inexistente.
 
 
 
É sempre assim. O poder fareja peri­gos e ameaças por todos os lados e não tolera ser deixado em se­gundo lugar pelo povo, nem que seja por causa do próprio Deus. Pois, um povo disposto a dobrar os joelhos perante Deus é indomável, difícil de ser manipulado, subjugado, explorado. Rei ou presidente nenhum consegui­rá atrelar à sua carrua­gem os ado­radores do verda­deiro Deus...
 
 
 
Mas por que  tanto pavor de uma criança? É que criança é anúncio de vida nova, pro­messa de primave­ra, pos­sibilidade de alter­nativa e de mudan­ça. Ora, o poder não aprecia novidades, alter­nativas ou mudan­­ças. Toda aspira­ção nesse sentido deve ser sufocada. E os que deliram por essas coisas, ou se ajoe­lham peran­te o po­der, ou serão des­­truídos...
 
 
 
Cristo, em sua Epifania, resplande­­ce como a nova al­ternativa a todos os “herodes” que infer­­nam nossa vida. Alternativa tão frágil e pequenina, quanto crian­ça recém-nas­cida; mas bem capaz de jogar medo e inquietação na cons­ciên­cia dos senhores abusivos do poder opressor.
 
 
 
Hoje, nós é que deveríamos oferecer ao mundo as alter­nativas para uma nova convivência, mais humana e fra­terna. Mas, apon­tar a alternativa da paz a um mundo que adora fazer guerras; propor a lei do a­mor a uma sociedade que só acre­dita em leis violentas - tudo isso nos faz apare­cer como dinamiteiros, merecedo­res da mor­te...
 
 
 
Não importa. Diante de Cristo, úni­ca alternativa de vida para a humanidade, dobraremos joelhos e corações, convencendo os irmãos a fazer o mesmo, a fim de podermos viver em perfeita alegria e em plena liberdade.

 
 
Et gloria est Dei!
 
Rev. Paulo Cesar Lima
 

 

A PAIXÃO DE CRISTO

A Paixão de Cristo

 

 a Quem realmente matou Jesus Cristo?

a A morte de Jesus foi predestinada por Deus?

a Qual a abrangência da morte de Jesus?

 

 
Alguns olham, mas não vêem; outros escutam, mas não ouvem; há também aqueles que não conseguem uma coisa nem outra. No entanto, há os que vêem e abstraem até mesmo além do que estão vendo.  
 
 
Dirigido pelo então ator de Hollywood, Mel Gibson, o filme “Paixão de Cristo”, diferente de todos os demais até então produzidos, mostra, com fina clareza e vivas demonstrações, a dor, o sofrimento por que passou Jesus. Mais: mostra, em cenas assustadoramente reais, as ininterruptas barbáries infringidas contra o corpo indefeso de Jesus, esbagaçando-o completamente. A ação dos soldados romanos dilacerando o corpo de Cristo é algo avassaladoramente inominável, e com requintes da mais absurda crueldade. Não há quem não chore, e que não queira gritar: “Parem! Mudem de cena!” 
 
 
Sofrimentos à parte, o filme aclara a visão de como esta cena vem se repetindo ao longo dos séculos sobre aqueles que ousam desafiar ou mesmo denunciar a maneira imoral de ser dos sistemas religioso, político, social, econômico implantados na sociedade.
 
 
Também fica evidente no filme que a morte dos “cristos” (os seguidores de Jesus) é produzida quase sempre pelos religiosos, os quais introjetam no tecido sangüíneo da sociedade o veneno da intolerância e do ódio compulsórios, que é o germe das piores atrocidades ocorridas na história da Humanidade.
 
 
As cenas, muito bem trabalhadas e editadas, com algumas inserções spilbergianas, é lógico, têm a seu favor ser, pelo menos até hoje, o que mais se aproxima da narrativa bíblica encontrada nos evangelhos. Gibson mostra um Cristo totalmente humano, indefeso.
 
 
Paixão de Cristo, com muita sensibilidade e discernimento, consegue ressaltar certos detalhes comportamentais das personagens envolvidas, direta ou indiretamente, na história da crucificação de Jesus, e trazer de volta relevâncias históricas até então despercebidas.  Essa nova leitura tirada das letras inanimadas das narrativas dos evangelhos, nos obriga a uma releitura da morte de Jesus. Aliás, a morte de Jesus – o mais atroz homicídio cometido pelo sistema sacrificalista – não deve ser vista tão-somente com visão sentimentalista, romântica ou coisa que o valha. Gibson, com o uso de suas robustas lentes filmadoras, faz-nos rever conceitos antigos sobre as cenas envolvendo o Calvário. Paradoxalmente, foi preciso o binóculo hollywoodiano para conseguirmos enxergar o Gólgota de forma diferente, coisa que a própria Teologia nesses longos anos de atividade pedagógica não obteve sucesso.
 
 
A morte de Jesus não se trata apenas de um marco na história do cristianismo. É mais do que isso.  É o ponto máximo da redenção dos homens. Mas é também o fundamento mimético da história, que se repete com a morte dos filhos de Deus, os seguidores de Cristo, na atualidade.
 
 
A minha abstração do filme “Paixão de Cristo” é feita a partir da separação de alguns elementos do conjunto das cenas. Se não, vejamos:
 
 
1. Cristo – Sua morte tem cunho teológico – morreu para salvar o homem pecador. Mas também abrange aspectos sociais e políticos bem relevantes. Primeiramente, o destaque para a representação da sua morte. Ela aponta a história dos “cristos” (seus seguidores) que morrem, aqui e ali, por conta de tentarem ser coerentes com a verdade e a justiça. Segundo, a denúncia feita aos sistemas de morte tem uma reverberação histórica inextirpável: o que matou Jesus, continua matando seus “seguidores”. É óbvio que com esta declaração não pretendo, nem de longe, associar qualquer ação de resgate social com o que aconteceu no Calvário.
 
 
2. Os sacerdotes – Quem mata os “cristos” (os que, com a vida, imitam Jesus) são sempre os religiosos. Os que vivem da e pela religião, não aceitam dessemelhança, diferenças na sua estrutura. Ao menor sinal de diferença, a morte é decretada. A inveja dos sacerdotes, adoração dissimulada, matou Cristo e mata seus “seguidores” atuais.
 
 
3. O povo judeu – O povo, como sempre, é elemento de manipulação nas mãos das elites. Não consegue ter idéia própria, mas trabalha a que é fabricada. Diz sim ou não a tudo que o sistema determina. Exemplo: os “caras pintadas” da época de Collor. Eram apenas bonecos nas mãos de ventríloquos.
 
 
4. Os oficiais romanos – Representam o sistema desinteressado em fazer justiça. Só querem preservar a imagem. Fazem, sem escrúpulos, aquilo que o povo deseja, fingindo-se seus cooperadores e ajudadores.  Para eles tanto faz soltar Cristo ou Barrabás. Estão sempre com as mãos sujas, prontas para serem lavadas na bacia da indiferença e da omissão.
 
 
5. Os soldados romanos – São os reprodutores do ódio do povo. Não têm vontade própria. Matam até irmãos em obediência a ordens dadas, mesmo as mais estapafúrdias.
 
 
6. Os discípulos – Seguem Jesus, mas não conseguem avaliar  o preço deste compromisso. Aliás, se assustam quando vêem a extensão do seu envolvimento. Nenhum deles se dignou a sequer carregar a cruz pesada que Jesus carregou.
 
 
7. O mal – Nas cenas mais intensas e marcantes aparece a figura corpori- ficada do mal, sempre por trás ou no meio do povo, querendo ressaltar que o pior mal é o institucional. 
 
 
8. O jogo antagônico entre a justiça e a injustiça – A paixão de Cristo mostra, em cores vivas, que o amor não pode ser existencialista, mas atemporal para vencer as “aparências” na guerra entre a justiça e a injustiça. O que Jesus descobriu, e a descoberta terá uma longa e explosiva história no Ocidente, é o poder da vítima contra o agressor: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.
 
 
 
 
Et gloria est Dei!

 
Rev. Paulo Cesar Lima
 
 

 

CUIDADO! AUTOMATISMO NA PREGAÇÃO

CUIDADO!
Automatismo na Pregação

 
“Pregar, não porque tem que se dizer algo,
mas porque se tem algo a dizer”

 

 
Esta máxima de Ricardo Whatly tem, evidentemente, muito a nos dizer, alertar, acordar, sacudir. Seguindo a sua linha de raciocínio, o pregador não deve e não pode se deixar vencer pela habitualidade, pela rotina e obrigatoriedade da sua função, que é pregar. Pois em muito maior relevância está a sua consciência de servo de Deus. O pregador cristão não pode passar para o povo aquilo que não tem, não aconteceu em sua vida, não foi vivenciado por ele. É neste particular que muitos mensageiros estão errando.
 
 
Temos que nos desbloquear dessa razão mesquinha, medíocre, estreita, de que pregador é aquele que prega. Porque se o pregador cristão não tiver  o testemunho de uma vida transformada e sensível diante de Deus, o seu “bom” sermão – quando muito – pode durar meia hora.
 
 
Assim se expres­sou Lutero, expoente da Reforma Protestante, ao res­­ponder a um de seus discípulos que lhe fez o seguinte pedido: “‘Senhor, ensinai-me uma maneira breve de pregar’. Primeiro, res­­ponde Lutero, aprenda a subir ao púlpito; segundo, saiba aguentar algum tempo lá em cima; terceiro, aprenda, também, a descer outra vez (...)”
 
 
O pregador cristão não pode se deixar ro­­botizar, automatizar, profissionalizar. A men­­sagem não pode apenas advir das fontes de pesquisas com as quais ele se consulta, mas, sim, de uma experiência vivida, demonstrada e depois apresentada homileticamente. Assim diz certo escritor: “Os melhores pregadores não são aqueles que dominam suas mensagens, mas aqueles que se deixam do­minar por elas”.
 
 
O pregador evangélico, seguindo a palavra de Whatly, não pode viver também uma vida descontextualizada, verticalista, acomodada, confor­­mista, pregando “Canaã” como fuga da reali­dade presente, que o sufoca, o angustia.
 
 
O orador cristão – permitam-me usar este termo para designar o pregador evangélico – não pode se eximir de con­­frontar-se com os sistemas opressores e de buscar modelos sociais mais justos e “equânimes” (expressão de R. Cavalcanti) para o seu tempo e sua gente.

 
 
PREGADOR-PROFETA



O pregador é um pro­­feta.
 
 
À primeira vista esta de­­claração pode representar algo muito forte, que im­­plica em êxtases, visões, revelações, arrebatamentos, previsões, etc. O profeta reflete a época dos grandes vaticínios, das transcendentes inspirações e confrontos ideológicos. Trata-se de um arrebatado, de alguém bem incomum, alguém especial para interpretar os oráculos das divindades... Por isto mesmo denominar o pregador da atualidade de profeta é, para muitos, distanciá-lo da conjuntura hodierna, como se fosse um extraterrestre.
 
 
Mas o pregador cristão é um profeta por se tratar de uma figura incômoda, um desmancha-prazer, alguém que vive  rodeando, alertando aqueles que trocam a forma projetada por Deus pela forma que a sociedade sem Deus dita.
 
 
É, sem sombra de dúvida, muito difícil imaginar o pregador-profeta como uma pessoa acomodada, conformada. Profeta confor­mado – ou o falso profeta – era uma espécie de “guru”, que fazia profecia de encomenda. A propósito, quero lembrar que, se pastores, ministros de Deus querem ser profe­tas, devem primeiro ler um pouco mais sobre a vida des­ses homens, que absolutamente não era rodeada de conforto e pri­vilégios materi­ais.
 
 
O pregador e­vangélico tal quais os profetas anti­gos, deve ser, na atualidade, esta personagem “in­cômoda”, mani­festando o parecer divino no que con­­cerne a todas as injustiças sociais, enganos, imoralidades, mentiras, racismos, autorita­­rismos, omissões, opressões sociais, na tentativa de alertar o povo para a forma de vida que o To­­do-Poderoso nos oferece em Cristo.
 
 
Do exposto, queremos salientar que o pregador cristão tem grande responsabilidade diante de Deus e dos homens, neste final de século: tem que se atualizar, sem se conformar; tem que se confron­­tar, sem se revoltar; tem que participar, sem contemporizar-se com as injustiças; tem que buscar a espiritualidade, sem se colocar à margem dos problemas da sociedade moderna.


“A definição do pregador é a vida e o exemplo” – concluímos com Vieira.
 
 
 
  
Et gloria est Dei!
 
 
 
 
Rev. Paulo Cesar Lima