Automatismo na Pregação
“Pregar, não porque tem que se dizer algo,
mas porque se tem algo a dizer”
mas porque se tem algo a dizer”
Esta máxima de Ricardo Whatly tem, evidentemente, muito
a nos dizer, alertar, acordar, sacudir. Seguindo a sua linha de raciocínio, o
pregador não deve e não pode se deixar vencer pela habitualidade, pela rotina e
obrigatoriedade da sua função, que é pregar. Pois em muito maior relevância
está a sua consciência de servo de Deus. O pregador cristão não pode passar
para o povo aquilo que não tem, não aconteceu em sua vida, não foi vivenciado
por ele. É neste particular que muitos mensageiros estão errando.
Temos que nos desbloquear dessa razão mesquinha, medíocre,
estreita, de que pregador é aquele que prega. Porque se o pregador cristão não
tiver o testemunho de uma vida
transformada e sensível diante de Deus, o seu “bom” sermão – quando muito –
pode durar meia hora.
Assim se expressou Lutero, expoente da Reforma Protestante,
ao responder a um de seus discípulos que lhe fez o seguinte pedido: “‘Senhor,
ensinai-me uma maneira breve de pregar’. Primeiro, responde Lutero,
aprenda a subir ao púlpito; segundo, saiba aguentar algum tempo lá em
cima; terceiro, aprenda, também, a descer outra vez (...)”
O pregador cristão não pode se deixar robotizar, automatizar,
profissionalizar. A mensagem não pode apenas advir das fontes de pesquisas
com as quais ele se consulta, mas, sim, de uma experiência vivida, demonstrada
e depois apresentada homileticamente. Assim diz certo escritor: “Os melhores pregadores
não são aqueles que dominam suas mensagens, mas aqueles que se deixam dominar
por elas”.
O pregador evangélico, seguindo a palavra de Whatly,
não pode viver também uma vida descontextualizada, verticalista, acomodada,
conformista, pregando “Canaã” como fuga da realidade presente, que o sufoca,
o angustia.
O orador cristão – permitam-me usar este termo para designar o
pregador evangélico – não pode se eximir de confrontar-se com os sistemas
opressores e de buscar modelos sociais mais justos e “equânimes” (expressão de R.
Cavalcanti) para o seu tempo e sua gente.
PREGADOR-PROFETA
O pregador é um profeta.
À primeira vista esta declaração pode representar algo muito
forte, que implica em êxtases, visões, revelações, arrebatamentos, previsões,
etc. O profeta reflete a época dos grandes vaticínios, das transcendentes
inspirações e confrontos ideológicos. Trata-se de um arrebatado, de alguém bem
incomum, alguém especial para interpretar os oráculos das divindades... Por
isto mesmo denominar o pregador da atualidade de profeta é, para muitos,
distanciá-lo da conjuntura hodierna, como se fosse um extraterrestre.
Mas o pregador cristão é um profeta por se tratar de uma
figura incômoda, um desmancha-prazer, alguém que vive rodeando, alertando aqueles que trocam a
forma projetada por Deus pela forma que a sociedade sem Deus dita.
É, sem sombra de dúvida, muito difícil imaginar o
pregador-profeta como uma pessoa acomodada, conformada. Profeta conformado –
ou o falso profeta – era uma espécie de “guru”, que fazia profecia de
encomenda. A propósito, quero lembrar que, se pastores, ministros de Deus
querem ser profetas, devem primeiro ler um pouco mais sobre a vida desses
homens, que absolutamente não era rodeada de conforto e privilégios materiais.
O pregador evangélico tal quais os profetas antigos, deve
ser, na atualidade, esta personagem “incômoda”, manifestando o parecer divino
no que concerne a todas as injustiças sociais, enganos, imoralidades,
mentiras, racismos, autoritarismos, omissões, opressões sociais, na tentativa
de alertar o povo para a forma de vida que o Todo-Poderoso nos oferece em
Cristo.
Do exposto, queremos salientar que o pregador cristão tem
grande responsabilidade diante de Deus e dos homens, neste final de século: tem
que se atualizar, sem se conformar; tem que se confrontar, sem se revoltar;
tem que participar, sem contemporizar-se com as injustiças; tem que buscar a
espiritualidade, sem se colocar à margem dos problemas da sociedade moderna.
“A definição do pregador é a vida e o
exemplo” – concluímos com Vieira.
Et gloria est Dei!
Nenhum comentário:
Postar um comentário