sábado, 26 de abril de 2014

TÔ PAGANO!” – A CULTURA DA BARGANHA

TÔ PAGANO!” – A CULTURA DA BARGANHA

 
Os livros de Eclesiastes e Jó manifestam a tendência dos homens sempre pensarem em Deus em termos de recompensa e castigo.

 

 

A atriz Katiuscia Canoro, intérprete da personagem Lady Kate em um programa da Rede Globo, sempre termina o seu quadro com o bordão: “tô pagano!”.

 

O “tô pagano!” de Lady Kate está fazendo sucesso nos arraiais evangélicos. Hoje o comportamento de um número assustador de evangélicos assemelha-se ao crédito-recompensa “tô pagano!”. É uma forma de pressionar D’us, para que suas bênçãos cheguem mais rápido.
 
O dantesco disso tudo é que crentes evangélicos – os quais deveriam ter entendimento bíblico – quando incentivados, induzidos, programados por pregadores espertos e charlatães, caem na esparrela do “toma-lá-dá-cá”, ou seja: “Pagou?! Levou a Bênção!”, afinal de contas D’us é obrigado a responder suas orações repletas de delírios e caprichos, porque... “tão pagano!”.
 
CULTURA DA BARGANHA
 
A “cultura da barganha”, que sempre fez parte das igrejas de “curas divinas”, agora aparece com força total nas reuniões pentecostais (não clássicas) e pós-pentecostais. É o famoso “quem paga leva a bênção!” – “Tô pagano!”.
 
Falando em pagar, evoco a lembrança da história contada por um dos alunos do SAL – Seminário Avançado Para Líderes – que já frequentou uma dessas “igrejas de cura divina”. Segundo ele, certa vez ele estava com muita vontade de participar de uma “dessas campanhas”, mas tinha que pagar “trezentos reais”, e ele só tinha a metade do dinheiro. Então foi ao pastor para saber se podia participar da campanha com os cento e cinquenta reais. O pastor disse que era trezentos e não podia fazer concessão. Não conseguindo, apelou ao bispo, que lhe disse o seguinte: “Nós não estamos forçando ninguém a dar trezentos reais, mas também não somos obrigados a levar pedido de oração de ninguém que não der os trezentos reais!”. Isso chega a ser dantesco.
 
Mas a coisa está num ritmo tão alucinante que cada igreja procura inventar o jeito mais eficiente de tirar dinheiro do povão. Hoje tem até “UNÇÃO DO NEGOCIADOR”. Ah! Para com isso!
 
Agora, como pode um povo estar sendo enganado e mesmo assim aceitar coisas tão grotescas e, ainda, participar com os seus últimos centavos? Será que isso é a derrocada de todos os ensinamentos de Jesus, no Novo Testamento, em relação aos pentecostais e pós-pentecostais brasileiros?
 
A “cultura da barganha” está hoje entranhada nas artérias pentecostais. Os ensinos errados da Bíblia quanto à prosperidade, salvação, consagração, santidade... distorceram as verdades bíblicas e fizeram com que o povo aprendesse a ter uma relação com Deus à base de troca. Então você regateia com Deus reivindicando dele alguma coisa, porque, a seu ver, você tem crédito com Ele, pois “Tô pagano!”
 
No atual momento pelo qual a igreja passa é absolutamente comum vermos figuras grotescas, caricatas, burlescas usando o púlpito para fazer renascer a cultura da barganha. Isto porque pastor que prega o que o povo QUER OUVIR faz da porta da tesouraria uma antessala do céu. Pastor que prega o que o povo PRECISA OUVIR, vive do “pão nosso de cada dia”.
 
Um famoso pregador pentecostal lançou em sua igreja a campanha “O milagre vai acontecer.” Nele, o ator/pregador trás orientações práticas de como o milagre poderá acontecer. Uma delas é sacrificar o valor simbólico de R$ 7,00 (sete reais), que deverá ser enviado através de depósito ou boleto bancário ou transferência eletrônica para uma de suas contas bancárias, pois é só pagar que acontece.
 
Caso recente também ocorreu numa igreja pentecostal onde as pessoas foram motivadas e induzidas a darem o seu melhor para D’us. Uma dessas pessoas que deram o que não podiam, embalada pelo “tô pagano!” comprou um carro. Pagou o primeiro mês, o segundo, mas no terceiro em diante não teve mais condição. Então apelou ao pastor que o incentivou a dar tudo que tinha para que o ajudasse. A resposta do pastor foi fria e direta: “Não mandei o irmão comprar carro nenhum!”. E arrematou: “O irmão tem que andar de ônibus!
 
Por vezes, ouve-se – aqui, ali – histórias de pessoas que, em nome de um “D’us caricaturado”, “ofertam” o que não podem, e em razão disto passam a exigir o cumprimento de suas promessas.
 
Não é possível: ou somos bobos demais ou estamos acomodados no “engana que eu gosto!”, porque comprar “CAPA UNGIDA” de alguém que diz que o “senhor” o mandou vender e ainda por 1000 reais cada uma, é abrir mão da razão, da coerência. do bom senso e da sanidade.
 
A gente quer ver a igreja local liberta desses instrumentos de controle, dessas picaretagens e pirotecnia, desses contornos mágico-supersticiosos imantando objetos, coisas e chamando-os de ungidos, e aí você ouve que algumas igrejas estão com práticas dantescas, charlatanismo barato, num exercício de domínio de alma e alienação de cabeça. Isso é uma aberração.
 
A igreja atual precisa passar por uma transformação. Mas só podemos transformar a igreja e depois o mundo através da RENOVAÇÃO DO NOSSO ENTENDIMENTO. O real entendimento do Evangelho de Cristo pode mudar a sociedade. Isto significa que o entendimento distorcido do evangelho pode agravar o mal na sociedade. Se não entendermos os valores cristãos da maneira como nos foram passados por Jesus, nos tornaremos disseminadores do mal. O mundo está indo de mal a pior porque não está havendo RENOVAÇÃO DO ENTENDIMENTO nas igrejas. Nosso modo de pensar, de entender a vida, ainda é o mesmo, com pequenos ajustes. Estamos com corpo de crente, mas nossa “cabeça” continua homologável e conformada.
 
Aliás, boa parte das mensagens pregadas pelos prega-DORES brasileiros nos aponta quão despreparados estão nossos atalaias:
 

“Suas mensagens são rasas, sem substância, empobrecidas teologica- mente, cheia de modismos, unções do jeitinho brasileiro, decretos e deter­­­­minismos, os quais têm reverberado vergonhosamente em todo território nacional”.

Em nome do “D’us” muita gente vive vida nababesca, mercadejando o evangelho. Assusta-me o fato de que alguns, em nome de uma espiritua-­­­­lidade cristã, têm cobrado um “pequeno valor simbólico de R$ 7,00” para experimentar o milagre de Deus em suas vidas. Ora, que Cristianismo é esse? Que evangelho é esse? Sem nenhum receio afirmo que esse não é o cristianismo pensado, idealizado e passado a nós por Jesus, e nem tampouco o Evangelho da Bíblia, antes o evangelho que alguns dos evangélicos fabricam!

 

          O que fazer com o “tô pagano!” de uma multidão de evangélicos que se transforma em credores de Deus em vez de serem apenas seus servos? Como dizer ao povo que Deus não é D’us de recompensa, mas de Graça? O que fazer com igrejas que deixaram de ser comunidade da Palavra para se tornarem comunidade da barganha?

 

     Respondo a essas e outras perguntas com uma parte da bela crônica de um escritor evangélico, com a qual concordo,
 

“não dá pra vivermos vida cristã de profecia em profecia, de decreto em decreto. Mais do que nunca, é hora de regressar à Palavra de Deus, de redescobrir os seus preciosos tesouros, de fazer das Sagradas Escrituras a referência de fé e de comportamento”.

 

    Que tenhamos brio e coragem para mudar o “tô pagano!” habitual de algumas igrejas pentecostais e pós-pentecostais para o “Ele [Cristo] já pagou!” da Bíblia Sagrada!
 
    Termino esta reflexão fazendo minhas as palavras do apóstolo Paulo:
 
       Porque já sabeis a graça de nosso Senhor Jesus Cristo que, sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis.
 
 
 
 
Rev. Paulo Cesar Lima da Silva
 
 

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