ESTRANHAS EXPRESSÕES
A magia das
palavras na comunicação neopentecostal, bem como em algumas igrejas
pentecostais clássicas que têm aderido tais costumes, tem criado as mais
dantescas combinações. O caso do “louvor profético” é um desses equívocos. À
luz da Bíblia, o que chamam de “louvor profético” é apenas louvor, pois
nada de profético há nas suas letras, a não ser a repetição, quando acontece,
de um texto profético não contextualizado. O louvor para ser profético, deve
retratar, por exemplo, os males e problemas da América Latina: a fome, a
miséria, a violência estrutural, meninos de rua, a favelização e a moral dos
excluídos, a disparidade entre os ricos e os pobres, a concentração de renda
etc. A profecia, através do louvor, seria algo magnífico, se pudesse expressar,
em canções, a denúncia, a esperança e a intervenção do reino de Deus no mundo.
Ou seja: o nosso cântico seria realmente profético se as nossas letras
resultassem da nossa própria experiência no espaço existencial do conflito, da
tensão e da opressão em que vivemos. De acordo com a Bíblia Sagrada, a profecia
tem dois objetivos principais: denunciar o opressor e consolar o oprimido.
Mas o que
parece um inofensivo estímulo verbal ou apenas uma maneira de falar
configura-se, hoje, como paradigma e estereótipo da liturgia neopentecostal:
uma maneira de manter “candente” as reuniões.
Tudo isso se
afigura como resultado dos movimentos de revitalização espiritual que vêm
sacudindo o Brasil nestas últimas três décadas. São mudanças litúrgicas que
oferecem aos seus participantes – na maioria jovens – uma nova modalidade de
combater as forças do mal. Posto que essas práticas pareçam absolutamente
inócuas, vêm criando reações espirituais comprometedoras, além de deixarem as
pessoas reféns de tais circunstâncias. O grave nisso tudo é que esses grupos
não param de crescer e criam o patológico com abrangências extremamente
destruidoras de psiquismos que se alteram a partir da idéia de que há magia nas
palavras.
Esta
estranha maneira de ser de alguns dos nossos cultos está neurotizando multidões
que aprendem essas “expressões de poder”, mas se esquecem que o poder do
cristianismo está na sua simplicidade.
A cultura da
emoção tomou o lugar do cerebral nos nossos cultos. A palavra de Deus precisa
rapidamente voltar a ser o referencial de confrontação com o estilo de vida que
a sociedade atual tenta nos impor.
Essas coisas estranhas que vêm acontecendo nos arraiais
evangélicos assustam tanto que até nos fazem duvidar de que possam estar vindo
de um contexto cristão. São expressões antológicas, cheias de magia e
superstição. Alguns usam isso como bordão incandescente para criarem
reverberações arrebatadoras. Segundo Karen
Armstrong no seu livro “Em nome de Deus”, precisamos fazer, sem paixão, a
nossa opção ou pelo mythos ou pelo logos, ou seja, se vamos ficar com a superstição ou com a palavra. A utilização desses jargões
cristãos tem baixado o nível do nosso discernimento. E, por conta disso, alguns
fenômenos dantescos ocorrem à larga, em nossas reuniões.
Não dá para
conceber um culto que começa com o habitual exorcismo “eu amarro toda a força contrária em nome de Jesus”, em tom de
autoridade sobre as forças do mal. Evidentemente, isso beira a bruxaria e não a
culto evangélico.
Normalmente,
nos cultos em tempos memoráveis invocava-se o nome de Jesus, sem outra
preocupação, mesmo porque acreditamos que Deus é maior do que todas as coisas.
As pessoas, no culto, devem se ocupar em apenas conhecer o Senhor e invocá-lo.
O que mais
impressiona nisso tudo é que, outrora, as pessoas tinham por meta ouvir a
Palavra de Deus para pensá-la e praticá-la. Hoje, nossos cultos precisam de uma
grande dose de fetiche, somada a um tipo de auto-ajuda: receita médica para ser
feliz.
Os bordões mais utilizados hoje, como expressões de
espiritualidade, são: “Eu quero ministrar
sobre você”, ou: “Eu profetizo sobre
sua vida”, como se isso pudesse trocar a atitude cristã que abençoa as
pessoas não com palavras, mas com ações abençoadas.
Et gloria est Dei!
Rev. Paulo Cesar Lima
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