Significa
dizer que passamos por transformações a cada momento de nossa existência. E o
inevitável não há quem possa deter.
Alguns que
não querem entender esta realidade tentam contestar o incontestável, utilizando-se
de meios absurdamente equivocados. Aceitar o novo, como realidade crucial, não
é tão fácil assim, principalmente o que nos escapa ao controle.
Toda e
qualquer mudança, seja ela qual for, é complicada e gera um misto de
sentimentos, como conforto-desconforto, segurança-apreensão, paz-inquietação,
prazer-insatisfação, certeza-dúvida. Mas, se por um lado as propostas de
mudança nos trazem esses sentimentos divergentes e às vezes perturbadores,
muito pior é aquela mudança de face absolutamente cristã, que exige de nós mais
profundidade no que acreditamos, mais conhecimento no que sabemos, mais
compromisso no que fazemos, mais responsabilidade no que tratamos, mais
espiritualidade no que somos, mais solidariedade no que praticamos. Isto porque
comumente as pessoas que são confrontadas com tais realidades e concreções, se
sentem extremamente ameaçadas na sua antiga crença, nos seus padrões éticos
formais, nos seus estereótipos religiosos, na sua conduta cristã até então
inquestionável e nos seus comportamentos admitidos como irretocáveis. Contudo,
a despeito de todas essas barreiras com respeito a mudanças, há uma que se
constitui no grande e maior obstáculo para aqueles que precisam mudar: a
comodidade.
A maioria
esmagadora das pessoas não deseja mudar, pelo fato de acharem que não precisam
de mudança alguma, e também em razão do fato de saberem que qualquer mudança,
neste nível, pressupõe renúncia, desprendimento, desapego das coisas com as
quais já se está acostumado. Com efeito, qualquer mudança desse tipo incomoda,
inquieta, desassossega, porquanto mexe com resistências psicológicas
fortíssimas e sobretudo intranqüiliza os que estão vivendo vida cristã no
bem-estar da omissão.
Mas para um crente cristão
que deseja viver na linha da coerência diante de Deus, sempre lhe é exigido
constante tensão em buscar, de Deus, a maneira mais correta de viver; de sorte
que “mudança” para um cristão não deve ser vista como algo incômodo, nem
tampouco como ameaça, mas sempre como um meio para se alcançar o crescimento
espiritual desejado e projetado por Deus.
Jesus Cristo
ensinou em metáfora sobre a maneira mais revolucionária de provocar a mudança
na vida de alguém. “E ninguém põe vinho
novo em odres velhos. Se fizer isso, o vinho novo romperá os odres, e
entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão” (Lucas 5.37).
Evidentemente, a impetuosidade desta declaração não tem o sufrágio da maioria,
mas, por outro lado, impõe algumas regras que devem ser respeitadas para que a
mudança proposta pelas boas novas do evangelho aconteça. Primeiramente, não
pode haver mudança efetiva na vida de alguém se o conteúdo não estiver em
consonância com o receptáculo. Ou seja: a verdade ímpar que o Filho de Deus
traz para dentro do contexto religioso só tem efeito na vida daquele que já foi
transformado por Jesus, se não tudo que é novo, transformador, desinstalador,
provocador, desafiador no evangelho passa despercebido e nunca se torna
realidade transformadora. Quem ainda não teve na vida uma mudança implementada
pelo poder do evangelho não consegue avaliar a riqueza de conteúdo que existe
em cada ensinamento de Jesus.
Os
maravilhosos ensinamentos de Jesus, suas propostas, suas declarações, suas
confrontações, enfim, o exemplo de vida que Ele deixou, só podem ser apreciados
por aqueles que receberam o evangelho na sua inteireza. Os que agem com
parcimônia não conseguem ver graça em nada e não resistem às investidas do
evangelho em suas expressões desconcertantes de expansão. Terminam se
escandalizando. Rompendo. Deixando esvair o conteúdo que jamais podiam
perder.
Et gloria est Dei!
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