sexta-feira, 25 de abril de 2014

NOVAS AMBIGUIDADES

NOVAS AMBIGUIDADES

 

 

 Ninguém toma banho duas vezes com a mesma água”, já dizia Heráclito, famoso filósofo do período pré-socrático. Isto porque a segunda água não é igual a primeira; e o homem do segundo banho é diferente daquele do primeiro.
 
 
Significa dizer que passamos por transformações a cada momento de nossa existência. E o inevitável não há quem possa deter.
 
 
Alguns que não querem entender esta realidade tentam contestar o incontestável, utilizando-se de meios absurdamente equivocados. Aceitar o novo, como realidade crucial, não é tão fácil assim, principalmente o que nos escapa ao controle. 
 
 
Toda e qualquer mudança, seja ela qual for, é complicada e gera um misto de sentimentos, como confor­to-desconforto, segurança-apreensão, paz-inquietação, prazer-insatisfação, certeza-dúvida. Mas, se por um lado as propostas de mudança nos trazem esses sentimentos divergentes e às vezes perturbadores, muito pior é aquela mudança de face absolutamente cristã, que exige de nós mais profundidade no que acreditamos, mais conhecimento no que sabemos, mais compromisso no que faze­mos, mais responsabilidade no que tratamos, mais espiritualidade no que somos, mais solidariedade no que praticamos. Isto porque comumente as pessoas que são confron­tadas com tais realidades e concreções, se sentem extremamente ameaçadas na sua an­­tiga crença, nos seus padrões éticos formais, nos seus estereótipos religiosos, na sua conduta cristã até então inquestionável e nos seus comportamentos admitidos co­mo irretocáveis. Con­tudo, a despeito de todas essas barreiras com respeito a mudanças, há uma que se constitui no grande e maior obstáculo para aqueles que precisam mudar: a comodidade.
 
 
A maioria esmagadora das pessoas não deseja mudar, pelo fato de acharem que não precisam de mu­dança alguma, e tam­bém em razão do fato de saberem que qualquer mu­dança, neste nível, pressupõe renúncia, desprendimento, desapego das coisas com as quais já se está acos­tumado. Com e­feito, qualquer mudança desse tipo in­comoda, inquieta, de­sassossega, por­quanto mexe com resistên­cias psico­lógicas fortíssimas e sobretudo intranqüiliza os que estão vi­vendo vida cristã no bem-estar da omis­são.
 
 
Mas para um cren­te cristão que deseja vi­ver na linha da coe­rência diante de Deus, sempre lhe é exigido constante tensão em buscar, de Deus, a ma­neira mais correta de viver; de sorte que “mudança” para um cristão não deve ser vista como algo in­cômodo, nem tampouco como ame­aça, mas sempre co­­mo um meio para se alcançar o crescimento espiritual desejado e projetado por Deus.
 
 
Jesus Cristo ensinou em metáfora sobre a maneira mais revolucionária de provocar a mudança na vida de alguém. “E ninguém põe vinho novo em odres velhos. Se fizer isso, o vinho novo romperá os odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão” (Lucas 5.37). Evidentemente, a impetuosidade desta declaração não tem o sufrágio da maioria, mas, por outro lado, impõe algumas regras que devem ser respeitadas para que a mudança proposta pelas boas novas do evangelho aconteça. Primeiramente, não pode haver mudança efetiva na vida de alguém se o conteúdo não estiver em consonância com o receptáculo. Ou seja: a verdade ímpar que o Filho de Deus traz para dentro do contexto religioso só tem efeito na vida daquele que já foi transformado por Jesus, se não tudo que é novo, transformador, desinstalador, provocador, desafiador no evangelho passa despercebido e nunca se torna realidade transformadora. Quem ainda não teve na vida uma mudança implementada pelo poder do evangelho não consegue avaliar a riqueza de conteúdo que existe em cada ensinamento de Jesus.
 
 
Os maravilhosos ensinamentos de Jesus, suas propostas, suas declarações, suas confrontações, enfim, o exemplo de vida que Ele deixou, só podem ser apreciados por aqueles que receberam o evangelho na sua inteireza. Os que agem com parcimônia não conseguem ver graça em nada e não resistem às investidas do evangelho em suas expressões desconcertantes de expansão. Terminam se escandalizando. Rompendo. Deixando esvair o conteúdo que jamais podiam perder. 




Et gloria est Dei!
 
 
 Rev. Paulo Cesar Lima

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