sexta-feira, 25 de abril de 2014

VERDADE SIMPLES... MENTIRAS ESSENCIAIS


VERDADE SIMPLES... MENTIRAS ESSENCIAIS

 

 
Todo intelectual idealista tem dificuldade de convívio. O que ele tenta passar para as pessoas é sempre algo que a maioria não entende. Por outro lado, o que as pessoas têm a lhe dizer, é sempre desinteressante. Por isso busca isolamento. Mas ninguém consegue viver só.
 
 
Na tentativa de viver vida isolada, o intelectual idealista busca prazer nos livros. E quanto mais lê mais afasta a possibilidade de convívio com os “mortais”.
 
 
Depois de longo tempo de reclusão, o intelectual idealista, cansado de viver só, resolve tomar novo rumo. Não tem para quem passar a sabedoria que acumulou anos a fio. Volta para o grupo de convívio. E, como sabe que não será aceito com suas “ideias difíceis”, bola uma estratégia: verdades simples.
 
 
As verdades simples nada mais são do que mentiras essenciais. Quando falamos uma verdade pela metade não estamos dizendo a verdade, mas sim uma meia verdade, que é, afinal, a pior mentira.
 
 
Vivemos de mentiras essenciais porque fomos ensinados a só falar as verdades simples. Há um padrão no nosso falar. Uma maneira de falar humilde. É dizer alguma coisa, sem explicar absolutamente nada. São as definições nominais: define-se etimologicamente abortando realidades imprescindíveis.
 
 
Só que nem sempre o que se está dizendo, mesmo que seja dito com toda a humildade, é uma verdade real. Não raro, é uma maneira de conformar a verdade.
 
 
Jesus foi alguém que nunca falou a verdade pela metade nem utilizou de eufemismo para dizê-la. Quando tinha que falar a verdade, a dizia em alto e bom som, desse no que desse, doesse em quem doesse.
 
 
Hoje, até para falar a verdade tem que se falar de forma simples (mentira essencial) para que ela seja aceita.
 
 
Daí dizer-se que existem dois tipos de verdade: uma verdade oficial e uma verdade verdadeira. A verdade oficial é a forma conformada, conspirada, tabulada... de dizer a verdade. A verdade real é a que interfere, enfrenta, confronta, denuncia, liberta...
 
 
Todos sabemos que a ver­dade é uma só. Mas, ao tomarmos­ conhecimento da realida­de dos fatos que tão de perto nos rodeiam hoje, descobrimos que a ver­dade real, ou a verdade dos fatos frequentemente acaba manipu­lada, sequestrada, ocul­tada, falsificada, rotula­da, domesticada, substituí­da...
 
 
Substituída, da parte das autoridades, pela “verdade oficial”. A verdade oficial (ou institucionalizada) é a caricatura da verdade verdadeira, mas é fabri­cada pelas autoridades, que não gostam de dei­xar a verdade verdadeira circulando livre­mente por aí...
 
 
A cura do cego de nas­­cença, fato narrado no evangelho segundo João, revela claramente esta distorção. Após ter sido curado da sua ce­gueira e ter se apre­sentado ao público, o ex-cego foi “oficial­­mente” forçado a fazer silêncio obsequioso com relação ao episó­dio que envol­veu a sua cura, além de ser o­brigado também a negar aquele que deu origem a sua condição de poder enxergar: Je­sus Cristo. Assim diz o texto bíblico: “Pela se­gunda vez cha­­ma­­ram o homem que ti­nha sido cego e dis­seram: ‘Pro­meta a Deus que você vai dizer a verdade. Nós sabe­mos que esse ho­mem é pe­cador’” (Jo 9.24).
 
 
Eis como se pode manipular a verdade. Sendo perigoso que o povo reconheça o Mes­sias naquele profeta um tan­to subversivo, nada como uma falsa ver­dade para desmoralizá-lo...
 
 
É o sistema inaugu­rado pelas autoridades de hoje. Elas, por exem­­­plo, acham peri­goso que o povo saiba quantas crian­­ças mor­rem de fo­me, quantas mulheres são esterilizadas, quan­­tos assaltantes a polícia executa sumariamente, quanto dinheiro público acaba no bolso de funcionários desones­tos, quan­tas crianças são violen­­tadas pelo trabalho forçado nas carvoarias, quantos pais desempregados, quan­tas fa­mílias sem mora­dia, quan­­tas injustiças se praticam na pele dos cidadãos indefesos...
 
 
Até no campo religi­oso e no domínio da fé, não raro deixamos de falar toda a verdade, com receio de que o po­­vo possa entender erra­do. A isso daremos conta a Deus.
 
 
No entanto, nossa vida não pode se reger sobre verdades “ofici­ais”, que não passam de mentiras legalizadas e não têm poder de libertação.
 
 
Sem a justiça e a verdade, os reinos, as repú­­blicas e as demo­cracias tornam-se covis de ladrões, ninhos de cobras venenosas e antros de perdição.
 
 
Se quisermos sentir o gosto da liberdade, temos que recuperar a coragem de apostar tudo na força da verda­de. Ou, como o cego de nascença, apostar tudo em Cristo. Pois, “conhecereis a verdade, e a verdade vos liberta­­­rá” (Jo 8.32).
 
 
 
 
Et gloria est Dei!
 
Rev. Paulo Cesar Lima

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