sexta-feira, 25 de abril de 2014

QUEM VAI SER O BODE EXPIATÓRIO?


Quem vai ser o bode EXPIATÓRIO?

 
 

O patético caso da violência terrorista que abateu a nação mais poderosa do planeta, os Estados Unidos da América do Norte, causando a morte de milhares de civis, vem dividindo a opinião mundial. A maioria dos americanos acha que deve haver retaliação sim a todas as nações, no mundo, que abrigam terroristas. Um outro grupo concorda que numa hora como esta deve haver coerência e isenção de preconceito na procura dos culpados, a fim de que inocentes não sejam punidos. As nações do terceiro mundo dividem-se com a ideia de que se foram os próprios americanos que fizeram o monstro Osama Bin Laden, colaboracionista americano na guerra contra a extinta União Soviética, é mais do que justo que eles (os próprios americanos) desprogramem a máquina mortífera inventada por suas mãos, sem colocar o mundo em perigo.
 
 
Pior do que todas essas opiniões que se dividem é que os Estados Unidos estão em guerra, mas não sabem contra quem. Isto porque o terrorismo tem mil faces. Numa situação como esta o inimigo pode vir de qualquer lugar e pode estar em qualquer lugar. Pode até se tratar – não está descartada esta hipótese – de um inimigo íntimo, alguém plantado dentro da própria redoma americana, como aconteceu no caso de Oklahoma.
 
 
Embora o mundo inteiro repudie o ato assassino ocorrido em Nova Iorque, a opinião de não poucos cientistas políticos que comentaram o caso do World Trade Center é que depois da direita americana fabricarem tantas guerras no mundo com vistas a venderem seus pesados armamentos, agora terão que desarmar o mundo que eles mesmos vêm armando.
 
 
Comentários à parte, George W. Bush está com a penosa incumbência de penalizar os mentores intelectuais do terror de Nova Iorque. É aqui onde está o perigo. Se o Presidente americano declarar guerra aos terroristas buscando auxílio das nações islâmicas, fica descartada a possibilidade de uma terceira guerra mundial. Mas, em contrapartida, se o Presidente Bush declarar guerra ao mundo islâmico, então a terceira guerra mundial, algo de proporções inimagináveis, será inevitável.
 
 
A situação que se encontra hoje a América do Norte é no mínimo crítica: precisa dar resposta à altura aos atentados ocorridos no fatídico dia 11 de setembro, mas não sabe como, quando e a quem atacar. A força militar dos Estados Unidos está em alerta, pronta para o ataque. O tempo corre contra eles, e o problema interno vai se agravando. Os grupos radicais neonazistas podem promover verdadeiras ondas de perseguição anti-americana. E não somente os árabes residentes serão alvo destes tresloucados, mas estará em jogo a vida de qualquer imigrante.
 
 
 
De duas uma. Ou os Estados Unidos acham logo os culpados e os punem, ou muitos inocentes vão levar a culpa pelos erros alheios. Se for o caso da segunda opção prevalecer os Estados Unidos não estarão apenas diante de um problema, mas colocarão o mundo todo dentro de um barril de pólvora.
 
 
Nos corredores sagrados do Antigo Testamento, nos deparamos com a forma clássica de substituição: o chamado “bode expiatório”. O sumo sacerdote colocava suas mãos sobre o animal que, por transferência, recebia todo o pecado da nação. O “bode emissário”, nome dado ao animal que levava toda a culpa de Israel, depois da imposição de mãos do sumo sacerdote, era despedido para morrer no deserto. Este ritual cruento, tendo como fundamento a substituição, apontava tipologicamente para Jesus – o substituto-mor de toda a humanidade.
 
 
A ideia do “bode expiatório”, citado na Bíblia, foi reeditada, trabalhada e ampliada pelo pai da Psicanálise, Sigmund Freud. Para Freud a substituição – um dos mecanismos de defesa do homem – é uma maneira do culpado aliviar-se de sua culpa, pois ele a lança sobre um outro qualquer. Muitas culturas evangélicas, sobretudo as pentecostais, fazem do diabo o seu “bode expiatório” com um nítido mimetismo freudiano, ressalvado o viés subjetivo de cada um.
 
 
Já o filósofo francês René Girard vê o “bode expiatório” como fenômeno mimético. De acordo com o filósofo, o “bode expiatório” é um fenômeno social que se apresenta em todos os grupos humanos. Isto porque todo sistema institucional sob pressão, tende a produzir “bode expiatório”. Foi o que aconteceu aos cristãos na época de Nero, quando levaram a culpa de queimar a Roma dos Césares e em muitos outros fatos que a história registra.
 
 
Em face dos problemas atuais, a interpretação marxista que vê a religião como elemento de domesticação e alienação do povo a partir do slogan “a religião é o ópio do povo” deve hoje ceder lugar para uma nova idéia: “a religião é a anfetamina do povo”.
 
 
De Moisés a Freud e agora a Bush, a situação é a mesma: o sistema só sobrevive às custas de “bodes expiatórios”. A questão é: Quem vai ser o “bode” desta vez?
 
 
       Et gloria est Dei!
 
 
Rev. Paulo Cesar Lima
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário