Quem vai ser o bode EXPIATÓRIO?
O patético
caso da violência terrorista que abateu a nação mais poderosa do planeta, os
Estados Unidos da América do Norte, causando a morte de milhares de civis, vem
dividindo a opinião mundial. A maioria dos americanos acha que deve haver
retaliação sim a todas as nações, no mundo, que abrigam terroristas. Um outro
grupo concorda que numa hora como esta deve haver coerência e isenção de
preconceito na procura dos culpados, a fim de que inocentes não sejam punidos.
As nações do terceiro mundo dividem-se com a ideia de que se foram os próprios
americanos que fizeram o monstro Osama Bin Laden, colaboracionista
americano na guerra contra a extinta União Soviética, é mais do que justo que
eles (os próprios americanos) desprogramem a máquina mortífera inventada por
suas mãos, sem colocar o mundo em perigo.
Pior do que
todas essas opiniões que se dividem é que os Estados Unidos estão em guerra,
mas não sabem contra quem. Isto porque o terrorismo tem mil faces. Numa
situação como esta o inimigo pode vir de qualquer lugar e pode estar em
qualquer lugar. Pode até se tratar – não está descartada esta hipótese – de um
inimigo íntimo, alguém plantado dentro da própria redoma americana, como
aconteceu no caso de Oklahoma.
Embora o
mundo inteiro repudie o ato assassino ocorrido em Nova Iorque , a opinião
de não poucos cientistas políticos que comentaram o caso do World Trade Center
é que depois da direita americana fabricarem tantas guerras no mundo com vistas
a venderem seus pesados armamentos, agora terão que desarmar o mundo que eles
mesmos vêm armando.
Comentários
à parte, George W. Bush está com a penosa incumbência de penalizar os
mentores intelectuais do terror de Nova Iorque. É aqui onde está o perigo. Se o
Presidente americano declarar guerra aos terroristas buscando auxílio das
nações islâmicas, fica descartada a possibilidade de uma terceira guerra
mundial. Mas, em contrapartida, se o Presidente Bush declarar guerra ao mundo islâmico, então a terceira guerra
mundial, algo de proporções inimagináveis, será inevitável.
A situação
que se encontra hoje a América do Norte é no mínimo crítica: precisa dar
resposta à altura aos atentados ocorridos no fatídico dia 11 de setembro, mas
não sabe como, quando e a quem atacar. A força militar dos
Estados Unidos está em alerta, pronta para o ataque. O tempo corre contra eles,
e o problema interno vai se agravando. Os grupos radicais neonazistas podem
promover verdadeiras ondas de perseguição anti-americana. E não somente os
árabes residentes serão alvo destes tresloucados, mas estará em jogo a vida de
qualquer imigrante.
De duas uma.
Ou os Estados Unidos acham logo os culpados e os punem, ou muitos inocentes vão
levar a culpa pelos erros alheios. Se for o caso da segunda opção prevalecer os
Estados Unidos não estarão apenas diante de um problema, mas colocarão o mundo
todo dentro de um barril de pólvora.
Nos
corredores sagrados do Antigo Testamento, nos deparamos com a forma clássica de
substituição: o chamado “bode expiatório”. O sumo sacerdote colocava suas mãos
sobre o animal que, por transferência, recebia todo o pecado da nação. O “bode
emissário”, nome dado ao animal que levava toda a culpa de Israel, depois da
imposição de mãos do sumo sacerdote, era despedido para morrer no deserto. Este
ritual cruento, tendo como fundamento a substituição, apontava tipologicamente
para Jesus – o substituto-mor de toda a humanidade.
A ideia do
“bode expiatório”, citado na Bíblia, foi reeditada, trabalhada e ampliada pelo
pai da Psicanálise, Sigmund Freud. Para Freud a substituição – um dos mecanismos de defesa do homem – é uma
maneira do culpado aliviar-se de sua culpa, pois ele a lança sobre um outro
qualquer. Muitas culturas evangélicas, sobretudo as pentecostais, fazem do
diabo o seu “bode expiatório” com um nítido mimetismo freudiano, ressalvado o
viés subjetivo de cada um.
Já o
filósofo francês René Girard vê o “bode expiatório” como fenômeno
mimético. De acordo com o filósofo, o “bode expiatório” é um fenômeno social
que se apresenta em todos os grupos humanos. Isto porque todo sistema
institucional sob pressão, tende a produzir “bode expiatório”. Foi o que aconteceu
aos cristãos na época de Nero, quando levaram a culpa de queimar a Roma dos
Césares e em muitos outros fatos que a história registra.
Em face dos problemas atuais, a interpretação marxista que vê a
religião como elemento de domesticação e alienação do povo a partir do slogan
“a religião é o ópio do povo” deve hoje ceder lugar para uma nova idéia: “a
religião é a anfetamina do povo”.
De
Moisés a Freud e agora a Bush, a situação é a mesma: o sistema só sobrevive às
custas de “bodes expiatórios”. A questão é: Quem vai ser o “bode” desta vez?
Et gloria est Dei!
Rev. Paulo Cesar Lima
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