ANJOS ALADOS
As incursões angelicais não deixam de
acontecer em nossas reuniões. Elas estão presentes nos cânticos, peças,
jograis, coreografias, consagrações das igrejas. Anjos que estão em cima, no
altar; anjos com bandeja; anjos com espada; anjos alados; anjos odontólogos; temos
até anjo da morte.
A procura pelos anjos é tão intensa em
algumas culturas pentecostais que eles (os anjos) vêm dividindo a atenção dos
adoradores nos cultos. Mas, enquanto eles faziam parte apenas das expressões
cênicas de alguns cultos, conseguia-se conviver com o fato. Agora, a situação
se agravou.
Hoje, se fala de anjos que incorporam; que
dão orientação com relação ao que fazer na hora do culto; anjos que revelam
segredos do coração humano; anjos que se sentam em cadeiras devidamente
reservadas para eles; anjos que falam a toda hora. Evidentemente, para os mais
favorecidos.
Essas tendências fazem parte de uma conduta
extra espacial que algumas pessoas começam a ter da vida. Em vez de verem o
mundo com os olhos bem abertos para a realidade esmagadora em que vivem, ficam
dispersos, deixando-se invadir pelo exótico, pelo espacialmente metafísico, sem
contornos de concretude.
No passado, houve esta tendência, porque era
fomentado nas pessoas o desejo pelo bizarro, pelo esdrúxulo. Esta prática
estava tomando lugar na igreja, um dos problemas discutidos na carta aos
hebreus. Foi esta a razão que levou o escritor da epístola começar o primeiro
capítulo asseverando que Jesus é maior
que os anjos. E também foi isso que fez o autor declarar que, antigamente, Deus
falava aos homens de muitas maneiras (até pelos anjos), mas, hoje, Ele fala a
nós todos através do seu Filho Jesus Cristo.
O que aparentemente parece inofensivo pode
tomar rumos incontroláveis. Se a moda pega, nossas reuniões perderão o sentido
racional para ganhar nuances além da imaginação. Creio que devemos definir a
quem vamos adorar.
A igreja hodierna corre riscos iminentes.
Corre risco de se tornar uma igreja extremamente secularizada. Corre risco de
se transformar numa igreja sacralizada, sem convívio com os seres comuns; corre
risco de ser povoada por modismos absurdamente desagregadores. Corre risco de
se voltar para o exótico, com o perigo de afundar nas atitudes piegas, nos
erros doutrinários com sentido eminentemente herético, além das expressões
psíquicas narcisistas que aparecem aqui e ali.
A igreja, como nos ensina o apóstolo, deve
manter sua identidade e dimensão de convívio com os seres humanos para não se
transformar num grupo místico de tendências extrasensoriais. Se a igreja perder
esta dimensão, teremos grandes dificuldades em tratar com as pessoas de carne e
osso. Segundo João, o escritor das três epístolas, quanto mais nos aproximamos
de Deus, mais perto das pessoas ficamos. “Mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos comunhão uns com os
outros, e o sangue de Jesus Cristo, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”
(1 Jo 1.7). E continua: “Se alguém diz:
‘Eu amo a Deus, e aborrece a seu irmão, é mentiroso. Pois quem não ama a seu
irmão, ao qual viu, como pode amar a Deus, a quem não viu?” (1 Jo
4.20).
A razão desta colocação é simples. Se a nossa
espiritualidade tender para o supra-natural, o inusitado, o incomum com
esquecimento das coisas normais, naturais da vida, nossa consagração está
totalmente prejudicada. O modelo que a igreja deve copiar é Cristo, que se fez
homem. Isto significa que qualquer grupo religioso que tende para o inumano,
paranormal o tempo todo, está no mínimo equivocado. Hoje, mais do que nunca, a
Igreja precisa se tornar povo. Esta maneira de ser da igreja é uma exigência
reinante na atualidade. Paulo assim nos ensina: “Que, sendo em forma de Deus, não teve por usurpação ser igual a Deus,
mas aniquilou-se a si mesmo, tomando a forma de servo, fazendo-se semelhante
aos homens; e, achado na forma de homem, humilhou-se a si mesmo, sendo
obediente até à morte, e morte de cruz” (Filipenses 2.6-8).
Enquanto a igreja pensar que tem que se
afastar dos homens para se tornar santa, a medida da Bíblia é outra. De acordo
com o texto supracitado, o maior desafio da igreja não é se tornar divina, mas
se tornar humana. E quanto mais humana a igreja se tornar, mas divina ela vai
ficando. Para respaldo desta verdade, temos Cristo, como o nosso grande
paradigma.
Et gloria est Dei!
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