O
convívio com pessoas mal-humoradas é indiscutivelmente muito embaraçoso. São
seres pessimistas, monossilábicos, arrasadoramente constrangedores. Qualquer um
que deles se aproxima – mesmo num contato social rápido – passa dificuldades. É
preciso bastante tato, cuidado com as palavras, jogo de cintura e paciência
redobrada para lidar com um mau-humorado e se fazer gostar por ele.
Falando
do mal-humorado, que é uma pessoa quase inconvivível, o Novo Testamento
utiliza-se de expressões que estão muito ligadas a questões de resistência.
“Longanimidade” é uma delas. Trata-se de uma palavra composta, de origem grega,
que significa “longe da ira”. Enquanto a palavra perseverança refere-se à
resistência às adversidades, longanimidade é um tipo de perseverança no que diz
respeito ao convívio com pessoas difíceis. Isto quer dizer que não somos nós
que escolhemos aqueles com os quais queremos conviver. Deus é quem, por vezes,
coloca em nossa vida aqueles (ou aquelas) de cujo convívio aprenderemos a ser
mais gente. Só conseguiremos amar de verdade quando este amor se tornar uma
opção, a despeito de todas as situações contrárias.
Mas
aquilo que era considerado apenas um jeito de ser, herança de família, ou ação
demoníaca, desde 1980, entrou na lista de doenças da Associação Psiquiátrica
Americana e recebeu o nome de distimia. Dois anos depois, o Código
Internacional de Doenças confirmou o conceito e a Organização Mundial de Saúde
lançou, em diversos países, um programa sobre o diagnóstico e o tratamento da distimia.
Calcula-se, em todo o mundo, 170 milhões de pessoas, ou 3% da
população, sejam de mal-humorados. A doença atinge crianças e adultos, ricos e
pobres. As mulheres a partir de 20 anos de idade são as que mais sofrem com o
problema e representam o dobro do número de casos masculinos. Nas crianças e
adolescentes o mau humor também é freqüente e atinge 50% do total.
Para o psiquiatra Antônio Egídio Nardi, professor da
Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro e um dos
responsáveis pelo estudo da distimia no Brasil, não se pode confundir o
mau humor passageiro, causado por engarrafamento de trânsito ou briga familiar,
por exemplo, com o caso clínico, em que o indivíduo deve procurar tratamento
médico.
A LENTE DO MAL-HUMORADO
Necessita de ajuda quem está sempre de mau humor, não consegue
ver o lado bom das coisas, critica tudo e a todos, não sente prazer nas coisas
que faz, vive cansado e pessimista. “É um infeliz, que acha que tem sempre um
chato ao seu lado e que está tudo errado no mundo”, explica o médico. Outras
características da distimia são a falta de apetite e de concentração e o
sentimento de culpa (a pessoa se julga responsável por tudo que acontece de
errado ao seu redor).
De acordo com Dr. Nardi, o pior destes sintomas é que podem
levar a outros problemas psíquicos, como o alcoolismo, vício em
tranquilizantes, insônia ou sono excessivo. Dependendo da gravidade do caso, a
pessoa pode tornar-se um suicida. Antes, porém, do aparecimento desses sintomas
podem surgir outros sinais, de caráter físico, como doenças cardiovasculares,
câncer e distúrbios imunológicos. Depressivos, os mal-humorados ficam com a
libido em baixa e podem ter comprometido seu desempenho sexual.
O distímico às vezes se recusa a admitir que está doente.
Somente dois terços deles procuram ajuda médica. Geralmente, um clínico faz
o diagnóstico de depressão, segundo o doutor Nardi. Ele ressalta o aspecto da
autodefesa. “O mal-humorado tem sempre uma desculpa: o chefe chato, o tempo
fechado, a crise financeira. Ele não acha graça nem mesmo quando acerta na loteria”,
garante o psiquiatra.
QUANDO PROCURAR AJUDA MÉDICA
Quando os sintomas já duram aproximadamente dois anos, é hora
de cair na real e enfrentar o tratamento, à base de medicamentos e psicoterapia
simultaneamente. Ele deve durar pelo menos dois anos, mas em dois meses já é
possível retomar o gosto pela vida e ver o lado bem-humorado das coisas e
pessoas.
No entanto, os especialistas alertam: durante o tratamento
podem ocorrer tremores, sonolência, náuseas, dores de cabeça e tonteiras,
devido ao uso prolongado de antidepressivos. Por outro lado, a vontade de
chutar tudo e todos desaparece.
As causas da distimia ainda são pouco conhecidas. Alguns
estudiosos acreditam que estejam relacionadas aos hormônios femininos, o que
poderia explicar a maior incidência nas mulheres. Outros acreditam que alguns
casos podem estar relacionados a traumas na infância, abuso sexual e
convivência com alcoólicos. Há também pessoas que se tornam mal-humoradas
depois de ter uma doença séria, como diabetes ou câncer.
A
grande diferença da distimia para outros tipos de depressão é que ela é crônica
e um grande transtorno psiquiátrico. Mas, segundo a Bíblia, “o coração alegre serve de bom remédio, mas o espírito abatido
virá secar os ossos” (Pv 17.22).
Et gloria est Dei!
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