Dizer que não é político e fazer, agir,
como se político fosse, é a pior forma de se fazer política. A política da
não-política é a mais hipócrita de todas as políticas, porque se faz política
a partir da sua negação. E fazer o que se nega e negar o que se faz é tartufia
da pior espécie. Além disso, afirmar que determinados atos absolutamente políticos
não são políticos, é tergiversar. Isso porque político – sem exceção – todos
nós somos, direta ou indiretamente, velada ou abertamente, já que política,
por definição original, é o conhecimento,
a participação, a defesa e a gestão dos negócios da polis (cidade-estado na
Grécia). Portanto, ser político é algo inerente à condição de ser humano. Além
do que é impossível a existência de uma sociedade sem autoridades, normas,
sanções, mecanismos de participação, formas de decisão.
Falando em política, “não há lugar mais
político do que uma igreja. O que são os governos episcopal, presbiteriano e
congregacional, do que formas eclesiástica de governo? O que fazemos quando
elegemos um pastor ou, disciplinamos um membro? Onde encontraríamos tão
representadas as controvérsias humanas, o orgulho e a inveja, a luta pelo
poder, as ‘queixas’, as ‘queimações’, as tendências e os partidos (‘eu sou de
Paulo, de Apolo, de Cefas, de Jesus...’, 1 Co 1.11). O político não pode ser
identificado com politicagem, forma eticamente condenável, da realidade
política. Nosso problema é que ainda estamos confundindo política com politicagem,
práticas diametralmente opostas.
Mas o que a Bíblia reprova não é a política,
mas sim, a politicagem, por ser ela uma prática desonesta, aética e sem
escrúpulos. Todavia, fazer política como o legítimo exercício das confrontações
e enfrentamentos, das reivindicações justas por melhoria de vida, equilíbrio
orçamentário; pressionar governos injustos contra a pobreza, o desemprego,
o preconceito; promover manifestações pacíficas e ordeiras por melhores
salários, empregos, saúde, habitação, transporte etc., é louvável e correto.
Agora, fazer o povo votar, por exemplo, em candidatos que nos prestem benefícios
ou que nos favoreçam de alguma forma, é maneira equivocada de se fazer
política. Porque é política sem ideal, sem sonhos, sem utopias, sem legitimidade.
Infelizmente, a nossa política da não-política
tem sido a mais pervertida das políticas, porque terminamos fazendo o que
dizemos não querer e não poder. Porque dar apoio a um mau político, por causa
dos seus préstimos, é politicagem e não política.
Nossa omissão nesta parte tem nos custado
humilhações e desconfortos em, por vezes, ter que procurar alguém totalmente
fora de sintonia com os nossos propósitos cristãos para que nos ajude em
situações eminentemente político-financeiras. Ou seja: somos escrupulosos
em não cogitar de política em nossas igrejas, mas, por vezes, somos
extremamente clientelistas.
Aos que insistem em rotular-se como
apolítico, o esclarecimento do escritor R. Cavalcanti é de bom tamanho: “O
apolítico é uma personagem de ficção. Pois não há nada tão cientificamente
inexato e conceitualmente impossível do que a pretensão de se ser apolítico.
Uma vez que ser ‘apolítico’ não é deixar de tomar posição. Ser ‘apolítico’ já é
uma posição em si. Uma
opção para fora: uma opção pelo não ser. Uma opção por omissão. A omissão é um
‘voto permanente e reiterado, em favor ou contrário a medidas, governantes,
partidos ou regimes’. O ‘voto por omissão’ é tão responsável, tão culpado,
quanto o voto consciente”.
Continua o escritor: “O ser ‘apolítico’ é um
escapismo, uma fuga, uma sonora pseudo-inteligente. É uma racionalização, uma
oração de desculpa para o indesculpável, revestida, no caso do cristão, de uma
embalagem espiritual, uma ‘espiritualização’ do pecado. Fuga de suas
responsabilidades como cristão e como cidadão. Fuga da maturidade e do
comportamento adulto. O ‘apolítico’ não tem como deixar de ser político, que o
faz pessimamente.
A igreja precisa acordar e retomar o seu
lugar profético na sociedade, denunciando energicamente leis injustas e
corruptas que existem no Brasil e orar a Deus para que Ele intervenha nos
governos iníquos e opressores, devolvendo ao povo seus sonhos, esperanças,
e sua confiança – valores imprescindíveis a qualquer nação que respeita seus
cidadãos.
Et gloria est Dei!
Rev. Paulo Cesar Lima
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