sexta-feira, 25 de abril de 2014

A POLÍTICA DA "NÃO" POLÍTICA

A Política da “Não” Política

 
 
       Dizer que não é polí­tico e fa­zer, agir, como se po­líti­­­co fosse, é a pior forma de se fazer política. A po­lítica da não-polí­tica é a mais hipócrita de todas as políti­cas, porque se faz políti­ca a partir da sua nega­­­ção. E fazer o que se nega e negar o que se faz é tar­tufia da pior espécie. Além disso, afirmar que de­termina­dos atos ab­soluta­mente po­líticos não são polí­ticos, é tergiversar. Isso porque polí­tico – sem ex­ceção – todos nós so­mos, direta ou indi­reta­mente, velada ou abertamente, já que política, por definição original, é o conhecimento, a participação, a defesa e a gestão dos negócios da polis (cidade-estado na Grécia). Portanto, ser político é algo inerente à condição de ser humano. Além do que é impossível a existência de uma sociedade sem autoridades, normas, sanções, mecanismos de participação, formas de decisão.
 
Falando em política, “não há lugar mais político do que uma igreja. O que são os governos episcopal, presbiteriano e congregacional, do que formas eclesiástica de governo? O que fazemos quando elegemos um pastor ou, disciplinamos um membro? Onde encontraríamos tão representadas as controvérsias humanas, o orgulho e a inveja, a luta pelo poder, as ‘queixas’, as ‘queimações’, as tendências e os partidos (‘eu sou de Paulo, de Apolo, de Cefas, de Jesus...’, 1 Co 1.11). O político não pode ser identificado com politicagem, forma eticamente condenável, da realidade política. Nosso problema é que ainda estamos con­fundindo política com politi­ca­­gem, prá­ticas diametralmen­te opos­tas.
 
Mas o que a Bíblia reprova não é a política, mas sim, a politicagem, por ser ela uma prática desones­ta, aética e sem escrúpulos. To­da­­­via, fa­zer política co­­­mo o legítimo exer­cício das con­fronta­ções e en­fren­tamen­tos, das reivin­dica­ções justas por me­lho­ria de vida, equi­­­líbrio or­ça­­men­tário; pressionar governos injustos contra a pobre­za, o desem­prego, o pre­­concei­to; promover mani­fes­tações pacíficas e ordeiras por melhores salá­rios, em­pregos, saú­de, ha­bitação, trans­­­porte etc., é lou­vável e cor­reto. Agora, fazer o po­vo votar, por exemplo, em can­dida­tos que nos prestem bene­­fí­cios ou que nos favo­­­re­çam de al­guma for­ma, é ma­neira equivocada de se fazer política. Por­que é polí­tica sem ideal, sem so­­nhos, sem uto­pias, sem le­gitimidade. 
 
Infelizmente, a nos­sa política da não-polí­tica tem sido a mais per­­­vertida das políticas, porque termi­­namos fazendo o que dizemos não querer e não poder. Porque dar a­poio a um mau po­lítico, por causa dos seus préstimos, é politicagem e não política.
 
Nos­­­sa omis­são nesta parte tem nos custado humi­­lha­ções e descon­­fortos em, por vezes, ter que procurar alguém total­mente fora de sintonia com os nos­­sos propó­sitos cris­­­tãos para que nos ajude em situa­ções eminen­te­mente político-financeiras. Ou se­ja: somos escrupu­lo­sos em não cogitar de política em nossas igre­­jas, mas, por vezes, somos extremamente cli­entelis­tas.
 
Aos que insistem em rotular-se como apolítico, o esclarecimento do escritor R. Cavalcanti é de bom tamanho: “O apolítico é uma personagem de ficção. Pois não há nada tão cientificamente inexato e conceitualmente impossível do que a pretensão de se ser apolítico. Uma vez que ser ‘apolítico’ não é deixar de tomar posição. Ser ‘apolítico’ já é uma posição em si. Uma opção para fora: uma opção pelo não ser. Uma opção por omissão. A omissão é um ‘voto permanente e reiterado, em favor ou contrário a medidas, governantes, partidos ou regimes’. O ‘voto por omissão’ é tão responsável, tão culpado, quanto o voto consciente”.
 
Continua o escritor: “O ser ‘apolítico’ é um escapismo, uma fuga, uma sonora pseudo-inteligente. É uma racionalização, uma oração de desculpa para o indesculpável, revestida, no caso do cristão, de uma embalagem espiritual, uma ‘espiritualização’ do pecado. Fuga de suas responsabilidades como cristão e como cidadão. Fuga da maturidade e do comportamento adulto. O ‘apolítico’ não tem como deixar de ser político, que o faz pessimamente.
 
A igreja precisa­ acordar e retomar o seu lugar profético na sociedade, de­nuncian­­do e­nergicamente leis injus­tas e corrup­­­tas que exis­tem no Brasil e orar a Deus para que Ele inter­venha nos gover­nos iníquos e opresso­­­res, devol­vendo ao povo seus sonhos, esperan­ças, e sua confiança – valores imprescindíveis a qual­quer nação que respeita seus cidadãos.




Et gloria est Dei!
 
 
 
 Rev. Paulo Cesar Lima

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