sexta-feira, 25 de abril de 2014

A PAIXÃO DE CRISTO

A Paixão de Cristo

 

 a Quem realmente matou Jesus Cristo?

a A morte de Jesus foi predestinada por Deus?

a Qual a abrangência da morte de Jesus?

 

 
Alguns olham, mas não vêem; outros escutam, mas não ouvem; há também aqueles que não conseguem uma coisa nem outra. No entanto, há os que vêem e abstraem até mesmo além do que estão vendo.  
 
 
Dirigido pelo então ator de Hollywood, Mel Gibson, o filme “Paixão de Cristo”, diferente de todos os demais até então produzidos, mostra, com fina clareza e vivas demonstrações, a dor, o sofrimento por que passou Jesus. Mais: mostra, em cenas assustadoramente reais, as ininterruptas barbáries infringidas contra o corpo indefeso de Jesus, esbagaçando-o completamente. A ação dos soldados romanos dilacerando o corpo de Cristo é algo avassaladoramente inominável, e com requintes da mais absurda crueldade. Não há quem não chore, e que não queira gritar: “Parem! Mudem de cena!” 
 
 
Sofrimentos à parte, o filme aclara a visão de como esta cena vem se repetindo ao longo dos séculos sobre aqueles que ousam desafiar ou mesmo denunciar a maneira imoral de ser dos sistemas religioso, político, social, econômico implantados na sociedade.
 
 
Também fica evidente no filme que a morte dos “cristos” (os seguidores de Jesus) é produzida quase sempre pelos religiosos, os quais introjetam no tecido sangüíneo da sociedade o veneno da intolerância e do ódio compulsórios, que é o germe das piores atrocidades ocorridas na história da Humanidade.
 
 
As cenas, muito bem trabalhadas e editadas, com algumas inserções spilbergianas, é lógico, têm a seu favor ser, pelo menos até hoje, o que mais se aproxima da narrativa bíblica encontrada nos evangelhos. Gibson mostra um Cristo totalmente humano, indefeso.
 
 
Paixão de Cristo, com muita sensibilidade e discernimento, consegue ressaltar certos detalhes comportamentais das personagens envolvidas, direta ou indiretamente, na história da crucificação de Jesus, e trazer de volta relevâncias históricas até então despercebidas.  Essa nova leitura tirada das letras inanimadas das narrativas dos evangelhos, nos obriga a uma releitura da morte de Jesus. Aliás, a morte de Jesus – o mais atroz homicídio cometido pelo sistema sacrificalista – não deve ser vista tão-somente com visão sentimentalista, romântica ou coisa que o valha. Gibson, com o uso de suas robustas lentes filmadoras, faz-nos rever conceitos antigos sobre as cenas envolvendo o Calvário. Paradoxalmente, foi preciso o binóculo hollywoodiano para conseguirmos enxergar o Gólgota de forma diferente, coisa que a própria Teologia nesses longos anos de atividade pedagógica não obteve sucesso.
 
 
A morte de Jesus não se trata apenas de um marco na história do cristianismo. É mais do que isso.  É o ponto máximo da redenção dos homens. Mas é também o fundamento mimético da história, que se repete com a morte dos filhos de Deus, os seguidores de Cristo, na atualidade.
 
 
A minha abstração do filme “Paixão de Cristo” é feita a partir da separação de alguns elementos do conjunto das cenas. Se não, vejamos:
 
 
1. Cristo – Sua morte tem cunho teológico – morreu para salvar o homem pecador. Mas também abrange aspectos sociais e políticos bem relevantes. Primeiramente, o destaque para a representação da sua morte. Ela aponta a história dos “cristos” (seus seguidores) que morrem, aqui e ali, por conta de tentarem ser coerentes com a verdade e a justiça. Segundo, a denúncia feita aos sistemas de morte tem uma reverberação histórica inextirpável: o que matou Jesus, continua matando seus “seguidores”. É óbvio que com esta declaração não pretendo, nem de longe, associar qualquer ação de resgate social com o que aconteceu no Calvário.
 
 
2. Os sacerdotes – Quem mata os “cristos” (os que, com a vida, imitam Jesus) são sempre os religiosos. Os que vivem da e pela religião, não aceitam dessemelhança, diferenças na sua estrutura. Ao menor sinal de diferença, a morte é decretada. A inveja dos sacerdotes, adoração dissimulada, matou Cristo e mata seus “seguidores” atuais.
 
 
3. O povo judeu – O povo, como sempre, é elemento de manipulação nas mãos das elites. Não consegue ter idéia própria, mas trabalha a que é fabricada. Diz sim ou não a tudo que o sistema determina. Exemplo: os “caras pintadas” da época de Collor. Eram apenas bonecos nas mãos de ventríloquos.
 
 
4. Os oficiais romanos – Representam o sistema desinteressado em fazer justiça. Só querem preservar a imagem. Fazem, sem escrúpulos, aquilo que o povo deseja, fingindo-se seus cooperadores e ajudadores.  Para eles tanto faz soltar Cristo ou Barrabás. Estão sempre com as mãos sujas, prontas para serem lavadas na bacia da indiferença e da omissão.
 
 
5. Os soldados romanos – São os reprodutores do ódio do povo. Não têm vontade própria. Matam até irmãos em obediência a ordens dadas, mesmo as mais estapafúrdias.
 
 
6. Os discípulos – Seguem Jesus, mas não conseguem avaliar  o preço deste compromisso. Aliás, se assustam quando vêem a extensão do seu envolvimento. Nenhum deles se dignou a sequer carregar a cruz pesada que Jesus carregou.
 
 
7. O mal – Nas cenas mais intensas e marcantes aparece a figura corpori- ficada do mal, sempre por trás ou no meio do povo, querendo ressaltar que o pior mal é o institucional. 
 
 
8. O jogo antagônico entre a justiça e a injustiça – A paixão de Cristo mostra, em cores vivas, que o amor não pode ser existencialista, mas atemporal para vencer as “aparências” na guerra entre a justiça e a injustiça. O que Jesus descobriu, e a descoberta terá uma longa e explosiva história no Ocidente, é o poder da vítima contra o agressor: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”.
 
 
 
 
Et gloria est Dei!

 
Rev. Paulo Cesar Lima
 
 

 

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