sexta-feira, 25 de abril de 2014

EXTRANHAS EXPRESSÕES


ESTRANHAS EXPRESSÕES

 

 

        Dia desses, fui surpreendido por uma carta de uma “Comunidade Evangélica” que me convidava para “ministrar” num congraçamento de jovens sobre o tema “louvor profético”. As expressões “ministrar” e “louvor profético” chamaram a minha atenção pela maneira enfática como foram utilizadas.

 
A magia das palavras na comunicação neopentecostal, bem como em algumas igrejas pentecostais clássicas que têm aderido tais costumes, tem criado as mais dantescas combinações. O caso do “louvor profético” é um desses equívocos. À luz da Bíblia, o que chamam de “louvor profético” é apenas louvor, pois nada de profético há nas suas letras, a não ser a repetição, quando acontece, de um texto profético não contextualizado. O louvor para ser profético, deve retratar, por exemplo, os males e problemas da América Latina: a fome, a miséria, a violência estrutural, meninos de rua, a favelização e a moral dos excluídos, a disparidade entre os ricos e os pobres, a concentração de renda etc. A profecia, através do louvor, seria algo magnífico, se pudesse expressar, em canções, a denúncia, a esperança e a intervenção do reino de Deus no mundo. Ou seja: o nosso cântico seria realmente profético se as nossas letras resultassem da nossa própria experiência no espaço existencial do conflito, da tensão e da opressão em que vivemos. De acordo com a Bíblia Sagrada, a profecia tem dois objetivos principais: denunciar o opressor e consolar o oprimido.

 
Mas o que parece um inofensivo estímulo verbal ou apenas uma maneira de falar configura-se, hoje, como paradigma e estereótipo da liturgia neopentecostal: uma maneira de manter “candente” as reuniões.

 
Tudo isso se afigura como resultado dos movimentos de revitalização espiritual que vêm sacudindo o Brasil nestas últimas três décadas. São mudanças litúrgicas que oferecem aos seus participantes – na maioria jovens – uma nova modalidade de combater as forças do mal. Posto que essas práticas pareçam absolutamente inócuas, vêm criando reações espirituais comprometedoras, além de deixarem as pessoas reféns de tais circunstâncias. O grave nisso tudo é que esses grupos não param de crescer e criam o patológico com abrangências extremamente destruidoras de psiquismos que se alteram a partir da idéia de que há magia nas palavras.

 
Esta estranha maneira de ser de alguns dos nossos cultos está neurotizando multidões que aprendem essas “expressões de poder”, mas se esquecem que o poder do cristianismo está na sua simplicidade.

 
A cultura da emoção tomou o lugar do cerebral nos nossos cultos. A palavra de Deus precisa rapidamente voltar a ser o referencial de confrontação com o estilo de vida que a sociedade atual tenta nos impor.  

 
Essas coisas estranhas que vêm acontecendo nos arraiais evangélicos assustam tanto que até nos fazem duvidar de que possam estar vindo de um contexto cristão. São expressões antológicas, cheias de magia e superstição. Alguns usam isso como bordão incandescente para criarem reverberações arrebatadoras. Segundo Karen Armstrong no seu livro “Em nome de Deus”, precisamos fazer, sem paixão, a nossa opção ou pelo mythos ou pelo logos, ou seja, se vamos ficar com a superstição ou com a palavra. A utilização desses jargões cristãos tem baixado o nível do nosso discernimento. E, por conta disso, alguns fenômenos dantescos ocorrem à larga, em nossas reuniões.

 
Não dá para conceber um culto que começa com o habitual exorcismo “eu amarro toda a força contrária em nome de Jesus”, em tom de autoridade sobre as forças do mal. Evidentemente, isso beira a bruxaria e não a culto evangélico.

 
Normalmente, nos cultos em tempos memoráveis invocava-se o nome de Jesus, sem outra preocupação, mesmo porque acreditamos que Deus é maior do que todas as coisas. As pessoas, no culto, devem se ocupar em apenas conhecer o Senhor e invocá-lo. 

 
O que mais impressiona nisso tudo é que, outrora, as pessoas tinham por meta ouvir a Palavra de Deus para pensá-la e praticá-la. Hoje, nossos cultos precisam de uma grande dose de fetiche, somada a um tipo de auto-ajuda: receita médica para ser feliz.

 
Os bordões mais utilizados hoje, como expressões de espiritualidade, são: “Eu quero ministrar sobre você”, ou: “Eu profetizo sobre sua vida”, como se isso pudesse trocar a atitude cristã que abençoa as pessoas não com palavras, mas com ações abençoadas.


         Et gloria est Dei!
 

Rev. Paulo Cesar Lima

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