sexta-feira, 25 de abril de 2014

O NÍVEL DE COMPROMETIMENTO DE UMA AMIZADE

O NÍVEL DE COMPROMETIMENTO DE UMA AMIZADE

 

 

       É do velho filósofo Sócrates, oráculo dos gregos, a máxima: “Amigo, não há amigos!”.


        Parece que o problema de se achar amizade sólida, verdadeira, coerente, não é coisa nova. Mas, até onde uma amizade deve ir para provar sua lealdade? Como provar o nível de envolvimento de um amigo em face de situações extremas: defendê-lo, por exemplo, diante de algozes assumindo todas as conseqüências resultantes da defesa? Qual a maior prova de amizade que se pode dar a um amigo senão se expor por conta de ajudá-lo, principalmente quando este está sozinho ou ausente de um linchamento moral. Só dizer que é amigo não basta. Há que se provar.


          A julgar por essas e outras razões, está faltando amigo de verdade que defenda a justiça, a coerência. À procura de amigos assim muitos estão, principalmente quando se sabe que o que mais há são aliados, sem nenhum envolvimento de coração.


         Nesta desesperada busca por amizade nos deparamos com fatos paradoxais. É o inusitado que nos apanha, assalta e converte em pessoas crédulas que, mesmo diante de contradições, podem a qualquer hora ser surpreendidas, invadidas pela realidade crucial e irrefutável de que amigos há, é preciso apenas descobri-los.    


         Quem é que já não teve a grata surpresa de ser traído pelo melhor “amigo”? Por outro lado, quem é que também já não teve a régia recompensa de ser brindado por uma amizade inesperada?


       Mas se a amizade que confiamos pode não ser a que é real, como podemos confiar no real? Desconfiaremos sempre do real para depositar o coração no inesperado?


       É realmente muito complicado para qualquer ser mortal aceitar o fato de não poder ter, com ninguém, qualquer relação de confiança. Todavia, a Bíblia diz que há amigos mais chegados que irmãos. Certamente isso não se trata de frase de efeito nem qualquer coisa que o valha. É realidade.


      Mas se isso ajuda você que já viveu ou vive este momento de desilusão à procura de uma grande amizade, a Bíblia assevera que “maldito o homem que confia no homem”.


     O que o texto contempla aqui não é o “eu” confiar no “tu”, mas sim a empáfia humana que acredita que pode viver independente de Deus, com a força do seu próprio braço.


     Se fôssemos pensar como a maioria, diríamos que o assunto não tem solução: não há amigos de verdade. Mas, se raciocinarmos com ausência de preconceito, concluiremos que esse é o grande mistério da convivência: quem é quem na história do convívio humano.


Basta uma olhada para trás para que lembremos alguns episódios bem pitorescos da nossa convivência, e quão difícil é para alguém ser aquilo que gostaria.


      Eu diria que tudo isso se resolve com uma boa e imparcial leitura da vida. Nem nós nos conhecemos. Somos alguém hoje e outro amanhã.


      Há duas palavras profundamente sintomáticas que explicam o comum do nosso comportamento com respeito à amizade. Fidelidade (lealdade) é uma delas; a outra é integridade. A primeira assume um tipo de comprometimento por vezes irracional, porque acha que só assim se é amigo de verdade. A outra, a integridade, tem ângulos de percepção bem mais apurados. A integridade tem a ver com um estilo de amizade completa: amigo por aceitação e comprovação. A fidelidade, ao contrário, é cega, absolutamente comprometida. Enquanto a integridade enxerga e se firma sobre princípios morais fundamentais dos quais não se afasta, a fidelidade deixa-se levar pela paixão de fazer da luta algo pessoal. A fidelidade quer proteger a pessoa; a integridade vê e protege a instituição, ou seja, o que a pessoa representa.


     A fidelidade erra porque julga a pessoa de forma passional. Este não é o Espírito de Cristo. Mas quando se julga pela visão da integridade, observa-se a pessoa no todo que ela possui. Leva-se em conta a verdade em toda a sua abrangência.


É óbvio que se entende que ninguém sabe calcular o custo de uma amizade. Para Jônatas, amigo de Davi, a amizade quase lhe custou a vida. O fato é que quem tem amizade à base da fidelidade o envolvimento é total, intransferível. Quem tem amizade à base da integridade, não aceita transgressão de princípios. O amigo íntegro não impõe regra ao outro tanto quanto sua submissão à justiça e a verdade.


   De resto mesmo, fica a amizade madura, que gosta além das próprias ambiguidades, dos próprios sentidos e que insiste em ter o amigo, mesmo sem retorno, sem troca. É o tudo/nada pela amizade.
 
 
Et gloria est Dei!
 
 
Rev. Paulo Cesar Lima
 

 
 
 
 
 

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