sexta-feira, 25 de abril de 2014

CUIDADO! AUTOMATISMO NA PREGAÇÃO

CUIDADO!
Automatismo na Pregação

 
“Pregar, não porque tem que se dizer algo,
mas porque se tem algo a dizer”

 

 
Esta máxima de Ricardo Whatly tem, evidentemente, muito a nos dizer, alertar, acordar, sacudir. Seguindo a sua linha de raciocínio, o pregador não deve e não pode se deixar vencer pela habitualidade, pela rotina e obrigatoriedade da sua função, que é pregar. Pois em muito maior relevância está a sua consciência de servo de Deus. O pregador cristão não pode passar para o povo aquilo que não tem, não aconteceu em sua vida, não foi vivenciado por ele. É neste particular que muitos mensageiros estão errando.
 
 
Temos que nos desbloquear dessa razão mesquinha, medíocre, estreita, de que pregador é aquele que prega. Porque se o pregador cristão não tiver  o testemunho de uma vida transformada e sensível diante de Deus, o seu “bom” sermão – quando muito – pode durar meia hora.
 
 
Assim se expres­sou Lutero, expoente da Reforma Protestante, ao res­­ponder a um de seus discípulos que lhe fez o seguinte pedido: “‘Senhor, ensinai-me uma maneira breve de pregar’. Primeiro, res­­ponde Lutero, aprenda a subir ao púlpito; segundo, saiba aguentar algum tempo lá em cima; terceiro, aprenda, também, a descer outra vez (...)”
 
 
O pregador cristão não pode se deixar ro­­botizar, automatizar, profissionalizar. A men­­sagem não pode apenas advir das fontes de pesquisas com as quais ele se consulta, mas, sim, de uma experiência vivida, demonstrada e depois apresentada homileticamente. Assim diz certo escritor: “Os melhores pregadores não são aqueles que dominam suas mensagens, mas aqueles que se deixam do­minar por elas”.
 
 
O pregador evangélico, seguindo a palavra de Whatly, não pode viver também uma vida descontextualizada, verticalista, acomodada, confor­­mista, pregando “Canaã” como fuga da reali­dade presente, que o sufoca, o angustia.
 
 
O orador cristão – permitam-me usar este termo para designar o pregador evangélico – não pode se eximir de con­­frontar-se com os sistemas opressores e de buscar modelos sociais mais justos e “equânimes” (expressão de R. Cavalcanti) para o seu tempo e sua gente.

 
 
PREGADOR-PROFETA



O pregador é um pro­­feta.
 
 
À primeira vista esta de­­claração pode representar algo muito forte, que im­­plica em êxtases, visões, revelações, arrebatamentos, previsões, etc. O profeta reflete a época dos grandes vaticínios, das transcendentes inspirações e confrontos ideológicos. Trata-se de um arrebatado, de alguém bem incomum, alguém especial para interpretar os oráculos das divindades... Por isto mesmo denominar o pregador da atualidade de profeta é, para muitos, distanciá-lo da conjuntura hodierna, como se fosse um extraterrestre.
 
 
Mas o pregador cristão é um profeta por se tratar de uma figura incômoda, um desmancha-prazer, alguém que vive  rodeando, alertando aqueles que trocam a forma projetada por Deus pela forma que a sociedade sem Deus dita.
 
 
É, sem sombra de dúvida, muito difícil imaginar o pregador-profeta como uma pessoa acomodada, conformada. Profeta confor­mado – ou o falso profeta – era uma espécie de “guru”, que fazia profecia de encomenda. A propósito, quero lembrar que, se pastores, ministros de Deus querem ser profe­tas, devem primeiro ler um pouco mais sobre a vida des­ses homens, que absolutamente não era rodeada de conforto e pri­vilégios materi­ais.
 
 
O pregador e­vangélico tal quais os profetas anti­gos, deve ser, na atualidade, esta personagem “in­cômoda”, mani­festando o parecer divino no que con­­cerne a todas as injustiças sociais, enganos, imoralidades, mentiras, racismos, autorita­­rismos, omissões, opressões sociais, na tentativa de alertar o povo para a forma de vida que o To­­do-Poderoso nos oferece em Cristo.
 
 
Do exposto, queremos salientar que o pregador cristão tem grande responsabilidade diante de Deus e dos homens, neste final de século: tem que se atualizar, sem se conformar; tem que se confron­­tar, sem se revoltar; tem que participar, sem contemporizar-se com as injustiças; tem que buscar a espiritualidade, sem se colocar à margem dos problemas da sociedade moderna.


“A definição do pregador é a vida e o exemplo” – concluímos com Vieira.
 
 
 
  
Et gloria est Dei!
 
 
 
 
Rev. Paulo Cesar Lima
 
 
 

 

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